sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Enraivecida na Fúria do Sexo (Rabid) - 1977



Sinopse: Ao sofrer um acidente de carro em uma autoestrada, mulher é levada para uma clínica de estética das redondezas para um tratamento de emergência. Lá ela é submetida a uma cirurgia experimental envolvendo o implante de tecidos artificiais no organismo. Após a cirurgia, ela desenvolve a necessidade de se alimentar de sangue humano e começa a espalhar um vírus mortal.

Direção: David Cronenberg

Elenco: Marilyn Chambers
Frank Moore
Joe Silver
Howard Ryshpan






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Legendas PT-BR

 
Comentário: Em seu segundo longo, nossa divindade David Cronenberg começa a finalmente experimentar com seu lendário body horror - aqui em um híbrido entre zumbi e vampiro, que se alimenta de sangue humano por uma boquinha no sovaco - ainda que de forma relativamente tosca. Com um orçamento mais folgado, Cronenberg segue os passos de seu predecessor, "Calafrios", e faz um sexploitation orgulhoso estrelado pela então atriz pornô Marilyn Chambers - e onde novamente o vetor de transmissão epidêmico é sexual. Cronenberg certamente era uma espécie de antena metafísica captando as ondas do futuro próximo onde a AIDS iria dar um fim à era do amor livre. A abordagem aqui é muito semelhante ao que George Romero já havia feito em seu "O Exército do Extermínio", e em termos de horror biológico setentista não há nada em "Rabid" que se destaque fora as estranhezas cronenberguianas, mas de uma cosia podemos ter certeza: "Enraivecida na Fúria do Sexo" é um dos melhores títulos brasileiros de todos os tempos.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Seis Mulheres Para o Assassino (Sei Donne Per l'Assassino) - 1964


Sinopse: Isabella, uma jovem modelo, é assassinada por uma misteriosa figura mascarada em um ateliê de moda, pertencente a Condessa Cristiana. Após o crime, o diário da vítima, contendo informações que poderiam levar ao assassino, desaparece. O mascarado passa então a matar todas as modelos da casa para encontrar o diário.

Diretor: Mario Bava

Elenco: Cameron Mitchell
Eva Bartok
Thomas Reiner
Ariana Gorini
Dante DiPaolo



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Comentário:

         Deve-se ver “Seis Mulheres Para o Assassino” com o mesmo carinho e encanto com que um arqueólogo contempla um fóssil: esse é o filme fundador do giallo (coincidência ou não, lançado no mesmo ano em que o spaghetti western foi firmado por Leone com seu “Por Um Punhado de Dólares”). O que confere atemporalidade para esta obra em particular é a direção de arte como um todo, com destaque especial para o devastador uso de cores berrantes na construção da atmosfera, que garante ao filme um banquete para os olhos como poucos vezes o cinema foi capaz de oferecer.

       O trabalho de Mario Bava já inaugura também os erros que praticamente todos os giallos viriam a repetir: o roteiro absolutamente imbecil (com motivações e reviravoltas dignas de uma novela mexicana), e atuações de dar dó, que, aliás, são potencializadas pela completa superficialidade dos personagens. Mas no universo cinematográfico de Bava, personagens, atores, e até mesmo enredo são como os manequins que marcam presença por todo o longa: meras ferramentas a serviço de uma arte maior.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Na Mira da Morte (Targets) - 1968


Sinopse: Byron Orlock (Boris Karloff), decadente ator de filmes de terror, decide se aposentar. Paralelamente, um jovem normal enlouquece, mata sua família e vaga por Los Angeles decidido a matar o máximo de pessoas possível antes de ser capturado.

Direção: Peter Bodgdanovich

Elenco: Boris Karloff
Tim O'Kelly
Peter Bogdanovich
Nancy Hsueh








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Magnet (Web-rip, 825mb)

Legenda PT-BR


Comentário:

         O filme de estreia de Peter Bognanovich chama a atenção por, entre outras coisas, ser não só um dos marcos fundadores da Nova Hollywood mas também ao estabelecer um diálogo entre os boomers que então revolucionavam o sistema de estúdios e a velha guarda hollywoodiana, agora anacrônica. A alegoria é evidente; o personagem de Karloff, um ator (aqui e na realidade) decadente, cansado dos horrores góticos B a lá Corman mas igualmente incapaz de compreender as tendências cinematográficas contemporâneas, com seus monstros de carne e osso cuja violência explícita tornaram ultrapassados seus vilões aristocráticos e sutis. Em paralelo, o jovem americano que, perdido no caos da pós-modernidade (leia-se, a Guerra do Vietnã e a Era Nixon) explode da forma mais intensa, assustadora e incompreensível numa então nova figura da vida da vida suburbana: o atirador em massa.
 
   Entre os dois, Bogdanovich que, com a sensibilidade de um cinéfilo, interpreta praticamente a si próprio; um jovem diretor calcado nos clássicos mas mirando no futuro, e tentando apaixonadamente levar para esse admirável mundo novo seus velhos ídolos, como Karloff (a essa altura, na vida real, Bogdanovich provia de casa e comida ao acabado Orson Welles). No fim, a ponte entre o choque geracional: o jovem que dispara suas balas camuflado pela telona do drive-in e o Karloff, que com o capital cultural que lhe resta, salva o dia (não com diálogo, mas com umas boas porradas).

     Um filme esquecido, simbolicamente fundamental para as transformações do cinema sessentista e, principalmente, uma hora e meia divertidíssima para os entusiastas.
         

sábado, 25 de agosto de 2012

Otesanek - 2000


Sinopse: Mulher estéril recebe de seu marido um bebê esculpido a partir de um tronco de árvore. Com o passar do tempo, a escultura ganha vida e adquire um apetite insaciável, forçando os pais a tomarem medidas drásticas.

Direção: Jan Švankmajer

Elenco: Veronika Zilková
Jan Hartl
Jaroslava Kretschmerová 
Pavel Nový
Kristina Adamcová






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Legendas PT-BR já inclusas.


Comentário:
  
       A filmografia do surrealista tcheco Jan Švankmajer, famoso por sua mistura de diversas técnicas de animação com live-action, está intimamente ligada à história do seu país. Sua provável obra-prima, “Alice”, por exemplo, insere livremente a história clássica Carroll dentro de um apartamento fechado e em ruínas, onde a jovem Alice cresce a ponto de ser esmagada pelos limites dos cômodos; uma imagem síntese da Checoslováquia sob a cortina de ferro (que saudade).  
 
    Do período pós-Guerra Fria, talvez este “Otesanek” seja a obra mais expressiva do cineasta. Se em “Alice” Švankmajer mostrava a juventude tcheca como uma criança que estava crescendo além dos limites impostos pelo regime soviético, em "Otesanek", essa geração, agora adulta, é simbolizada através de um casal consumista desenfreado que acaba por gerar um monstro insaciável e imortal. É a ânsia do recém "liberto' povo tcheco, privado das comodidades do ocidente por tantas décadas (Švankmajer parece ter percebido logo que "liberdade" é outra expressão para "consumo" e nada mais) representada pelo pequeno Ótik: a criatura esculpida em madeira que deve substituir o filho que a estéril Bozena nunca poderá ter. Ao criar vida, Ótik a princípio consome apenas o necessário para sobreviver. Aos poucos, porém, adquire um apetite que só é saciado através de carne humana. Nesse sentido, a horror de Švankmajer funciona além de qualquer alegoria política. Todos os residentes do condomínio onde mora Ótik tornam-se vítimas em potencial; com exceção de Alzbetka, a criança que, antes de qualquer adulto, compreende o que está ocorrendo ao seu redor e antevê o trágico desfecho de forma absolutamente impotente.
 
    Com uma direção surpreendentemente contida para os padrões de Švankmajer (breves animações aqui e ali apenas), que potencializa os momentos de terror, Otesanek”  é um daqueles filmes que funcionam em diversos níveis. Pode ser uma grande metáfora para a realidade social da República Tcheca, ou pode ser só um excelente filme sobre um bebê mutante canibal.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Tenebre / Tenebrae - 1982


Sinopse: Escritor chega à cidade de Roma para promover seu último livro, Tenebrae, mas descobre que alguém está usando seus romances como inspiração para cometer assassinatos. Logo ele se vê envolvido nos crimes e passa a tentar descobrir o assassino. O desfecho é hilariamente sem sentido, como de costume.

Direção: Dario Argento

Elenco:

Anthony Franciosa
Peter Neal
Christian Borromeo
Mirella D'Angelo
Veronica Lario
Ania Pieroni


 



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Comentário: 
         Dario Argento é um diretor que nos oferece muito mas que em retorno exige certa prática, estudo, abandono completo de noções pré-concebidas sobre a arte cinematográfica. À primeira vista, em um apanhado geral de sua filmografia, o que vemos de seu cinema são atuações terríveis, roteiros preguiçosos e trilhas sonoras completamente inapropriadas. Mas ater-se a essas fraquezas quando se fala de Argento é dar uma de Rubens Ewald Filho: é não ter verdadeira paixão pelo cinema. O triunfo de Dario Argento, é claro, encontra-se noutro espectro da produção cinematográfica: suas composições visuais são de uma beleza ímpar na história do cinema. Além da sua habilidade em construir cenas de tensão e suspense, é também notável por conseguir transmitir uma atmosférica onírica em suas obras como poucos o conseguiram. Em seus filmes há quase que uma textura de sonhos ou pesadelos, inclusive que muitas vezes remetem ao imaginário infantil (um mundo de bruxas onde em cada canto pode haver um vilão escondido).          
 
"Tenebre" não é diferente. Essa obra "menor" (mas apenas na comparação, porque, convenhamos, o cara é responsável pelo "Prelúdio Para Matar" que é sozinho talvez a maior obra de horror do século XX) marca a volta de Argento ao giallo de raiz (seguindo todos os "dogmas" e agora sem o elemento sobrenatural) é, além de um osso jogado aos fãs, é também uma discussão sobre o gênero e seu impacto na cultura popular. Afinal, a história é sobre um autor de romances policiais baratos (metáfora sutil) confrontado com um serial-killer que mata inspirado por suas obras. Essa temática sempre foi muito discutida, em especial pelo cineasta austríaco Michel Haneke (especificamente no seminal "Violência Gratuita" e "O Vídeo de Benny"). Mas, se à Haneke e seus seguidores cabe a culpa pela violência simbólica do cinema aos espectadores, que anseiam por consumi-lá, Argento aponta outro criminoso: o próprio autor.
 
       Se você ainda não é um discípulo fiel de Dario Argento (se for o caso tá fazendo o que aqui porra?!), “Tenebre” talvez seja, enquanto começo, uma discreta porta dos fundos. Seja lá o que isso queira dizer.

domingo, 19 de agosto de 2012

A Outra Face da Violência (Rolling Thunder) - 1977

Sinopse: Ao voltar do Vietnã, o Major Charles Rane é recebido como herói em sua cidade, sendo premiado por reconhecimento com um carro e uma maleta com moedas de prata. Mexicanos, próximos dali, ao saberem pela mídia, vão atrás do major para roubá-lo. Nesse processo, matam sua mulher, filho e danificam permanentemente sua mão direita. A sede por vingança é então enraizada.

Direção:
John Flynn

Elenco: William Devane
Tommy Lee Jones
Linda Haynes
Lawrason Driscoll




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Comentário: É difícil para "Rolling Thunder" sobreviver em um mundo onde existe "Taxi Driver". Há quem ouse compará-los ainda assim, mas a verdade é que, dramaticamente "Rolling Thunder" só possui alguma profundidade quando copia as melhores ideias de "Taxi Driver" (e não adianta nem querer disfarçar teu personagem de capitão gancho Schrader, tu copiou sim o próprio roteiro, safado), e também porque se beneficia do clima carregado marcante do cinema americano da década de 70, com a atmosfera depressiva pós-guerra e a reflexão a respeito da violência inerente à sociedade. Mas fora isso, quando tenta mostrar seu verdadeiro diferencial, falta a sutileza do filme de Scorsese, e falta a maturidade de outras obras marcantes que discutiram os mesmos temas. O que resta a "Rolling Thunder" é o "exploitation", e nessa área pode ser que realmente se destaque. Sem a intenção de isso soar pejorativo,  apenas um aviso a quem espera encontrar um drama denso, o que o filme não é.
Entrando na discussão do subestimado/superestimado, diria que o filme possui o reconhecimento merecido, há seu grupo de admiradores, mas sua obscuridade nada mais é que o reflexo de sua inferioridade diante de um período tão prolífico do cinema.  Por outro lado, é um apanhado de tudo de melhor da década de 70; Temos vingança como tema,  exploitation como subgênero, o trauma da Guerra do Vietnã, as atuações sóbrias (destaque para William Devane), a violência como culpa e redenção, e acima de tudo um cinema visceral - mesmo que não tão incisivo quanto outros filmes da Nova Hollywood.
Enfim, "Rolling Thunder" pode ter suas falhas,  mas como filme de vingança, tem seu valor, sem comentar o clímax simplesmente do CARALHO, digno de Sam Peckinpah. E ok, talvez lá no fundo podemos dizer que é o "Taxi Driver" dos pobres, mas bem lá no fundo e bem pobre.

Tarantino Recomenda.

sábado, 18 de agosto de 2012

Crimes Temporais (Los Cronocrímenes) - 2007


Sinopse: Ao observar a floresta que rodeia seu gramado, homem vê uma moça nua. Ele vai até o local e a encontra morta. Nesse momento, uma figura misteriosa o ataca (é, a do cartaz). O homem foge e se refugia em um laboratório nas redondezas. Lá, ele encontra uma máquina que acidentalmente o faz voltar uma hora no tempo, criando uma situação fora de controle.

Direção: Nacho Vigalondo

Elenco: Karra Elejalde
Candela Fernández
Bárbara Goenaga
Nacho Vigalondo
      

 




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Comentário: 

         Não há muito que dizer sobre o “Crimes Temporais”: bons filmes falam por eles próprios. Mérito do diretor e roteirista espanhol estreante nos longas Nacho Vigalondo, que conseguiu conceber um roteiro simples em seus elementos (apenas quatro personagens que interagem em três cenários diferentes), e complexo na sua estrutura (composta por três linhas temporais sobrepostas). Na verdade, a complexidade estrutural do roteiro é tão intrincada que pode-se dizer que nunca antes a questão do paradoxo (a viagem no tempo que anula sua própria causa), foi levada a um ponto tão extremo (feito talvez igualado apenas no regular e praticamente inacessível “Primer”, de 2004).
         Aqui entra também o ponto forte da direção: tendo em mãos uma história tão complexa, Vigalondo conduz o filme de forma econômica, dinâmica, bem-humorada e direta, potencializando a força do enredo. A verdade é que “Crimes Temporais” é uma pérola de valor raro no lamentável cenário do cinema dos anos 2000. É um filme feito com paixão e inventividade que desde já garante um lugar no panteão dos filmes de viagem no tempo. Uma obra para ser vista e lembrada com carinho.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Os Demônios (The Devils) - 1971


Sinopse: História real ocorrida na cidade francesa de Loudun, em 1604, quando freiras em um monastério começaram a agir como se possuídas por demônios. A intervenção da Inquisição leva a consequências sangrentas.

Direção: Ken Russell

Elenco: Oliver Reed
Vanessa Redgrave
Gemma Jones
Dudley Sutton







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Magnet (HDTV-rip, uncut, 4gb) Legenda em PT-PT inclusa no arquivo.

 
Comentário: 
Ao morrer, em 2011, o diretor britânico Ken Russell deixou atrás de si uma filmografia extremamente controversa. Mas talvez o filme mais polêmico de toda sua carreira tenha sido este “Os Demônios”, baseado no livro de não-ficção “Os Demônios de Loudun”, de Aldous Huxley. E não é por menos: o filme foi vetado pela Comissão Inglesa de Censura, logo no mesmo ano em que “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, e “Sob o Domínio do Medo”, de Sam Peckinpah, passaram, sem maiores problemas, pela mesma comissão. A justificativa da junta foi de que enquanto os filmes de Kubrick e Peckinpah usassem a violência como recurso narrativo e artístico, Russel a usou inconsequentemente, apenas pelo choque (como se isso fosse desculpa para proibir qualquer coisa que seja, que “A Serbian Film” o diga, cof cof).
 
Ao contrário do livro de Huxley, Russell preferiu focar a história em seus aspectos mundanos, e não psicológicos e históricos. Então, ao invés de vermos a história das possessões demoníacas na cidade francesa de Loudun em idos da Idade Moderna como um objeto de estudo dos efeitos da repressão para a psique, temos uma análise de como a Igreja e o Estado se valem da religião para dominar os indivíduos. Na trama, o plano sangrento de unificação da França pelo Cardeal Richilieu encontra na figura do padre Urbain Grandier um obstáculo. Carismático e atraente, ele serve como espécie de líder popular informal de Loudun, a última cidade-estado independente da França. Para as freiras do mosteiro local, além de líder, ele é também um sex symbol. A atração e subsequente repressão do desejo sexual pelo padre explodem em delírios de rituais satânicos, possessões demoníacas e automutilações. Richilieu, ciente desses eventos, começa uma campanha para provar que Grandier está em contato com o cramunhão, para assim tira-lo de cena e tomar conta da cidade.
 
Fiz a trama parecer complexa, mas pelo contrário, a maior parte do filme foca justamente no comportamento delirante e insano das freiras endiabradas e é um festival de escatologia, putaria e uma épica celebração do grotesco (falo isso como ponto positivo, claro).

sábado, 11 de agosto de 2012

Exorcismo Negro - 1974

Sinopse: O cineasta José Mojica Marins, criador do personagem Zé do Caixão, decide passar o natal na mansão de campo de alguns amigos. Chegando lá, diversos fenômenos inexplicáveis começam a acontecer. Mojica investiga os acontecimentos e descobre que seu personagem se materializou no mundo real depois de um ritual satânico e que pretende tomar o seu lugar.

Direção: José Mojica Marins

Elenco:
José Mojica Marins
Agenor Alves
Alcione Mazzeo
Ariane Arantes




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ou
Comentário: 

José Mojica Marins é provavelmente um dos artistas mais incompreendidos da história do Brasil. Perseguido de forma sistemática durante a ditadura militar, impedido de fazer seu cinema, viu-se obrigado a sobreviver animando festas e eventos interpretando seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão, até o ponto de as novas gerações nem mais saberem que essa figura caricata e vítima de chacota foi, na verdade, um dos maiores cineastas brasileiros que já viveram.
 
            Semi-analfabeto, sem conhecimento teórico ou técnico sobre cinema e sem ter onde cair morto, Mojica produziu, de dentro um estúdio improvisado em uma sinagoga abandonada, em um país sem tradição de horror, ao menos duas obras-primas entre 1963 e 1967: “À Meia Noite Levarei Sua Alma”, filme de origem do personagem Zé do Caixão, e sua continuação, “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”. A partir deste, a bronca de Mojica com a censura começou: o governo exigiu um novo final “redentor”, onde o personagem Zé do Caixão, quase a personificação do überman nietzscheano, se arrepende de seus pecados e clama sua crença em deus. A situação piorou com seus próximos filmes: “O Estranho Mundo do Zé do Caixão”, de 1968, foi mutilado até o talo, e “O Ritual dos Sádicos”, de 1970, que deve ter sido demais para os miolos dos militares, foi simplesmente proibido.
             
     Mesmo com tantos problemas, Mojica ainda gozava de grade fama e relativo prestígio popular no início da década de 70 por conta de um programa de TV que apresentava na Rede Bandeirantes, o sugestivo “Além, Muito Além do Além” (uma cópia sem vergonha do "Alfred Hitchcock Presents" e "Além da Imaginação", lógico). Por conta disso, e também na carona do filme “O Exorcista”, Mojica foi convidado para reviver sua mais famosa criação em um filme que tinha como tarefa inglória competir com a película norte-americana naquele que seria seu trabalho mais "profissional", “Exorcismo Negro”. 
 
            Apesar de contar com um orçamento folgado e de uma equipe técnica experiente, elementos até então inéditos na carreira do diretor (e talvez justamente por causa disso), "Exorcismo Negro" não chega nem perto da qualidade artística dos seus predecessores, charmosos em sua tosquice. Ainda assim, é um filme extremamente corajoso dentro da produção cinematográfica brasileira da época (e até de hoje em dia, já que o cinema brasileiro, como todos vocês sabem, dá dois passos para trás a cada passo para frente). A história toda gira em torno do personagem Zé do Caixão criando vida e, como um Frankesntein do terceiro mundo, tentando destruir seu criador. No primeiro encontro entre criador e criatura, Mojica (que interpreta ambos papéis) mostra-se descrente e imagina que tudo não passe de uma alucinação, ao que Zé do Caixão responde “Mas qual é o problema? Você não acredita no que você faz?”. Essa pegada metalingüística gera questionamentos muito interessantes sobre a figura do realizador, sobre símbolos (no sentido junguiano do termo) e, principalmente, sobre o poder recriador da realidade do cinema (questões abordadas de forma semelhante no fraco "Delírios de Um Anormal", de 1978). 
 
         Por outro lado, é triste observar a imagem que Mojica tentava criar para si mesmo na ficção. Se na vida real ele era completamente ridicularizado pela crítica, no filme ele é tratado como um grande mestre do cinema nacional por jornalistas e intelectuais. Se na vida real Mojica tinha que dormir no estúdio por não ter condições de alugar um apartamento, no filme ele passa as férias em uma luxuosa mansão no interior. Se na vida real, Mojica mal sabia escrever o próprio nome, no cinema ele é um estudioso de psicologia e especialista em literatura inglesa, além de um exímio enxadrista. Não bastasse isso, Mojica nunca veria sua projeção do mundo das ideias tomar forma na vida real: apesar de certo reconhecimento internacional, por aqui Mojica ainda é alvo de escárnio e é lembrado, no máximo, por suas unhas compridas. Cabe a nós, como cinéfilos sérios, corrigir isso. Cabe a nós resgatar o legado do único diretor de filmes de terror sólidos do cinema brasileiro. Nosso país precisa de nós. Do contrário, será a vitória póstuma da censura, dos militares. E esse é um preço alto demais a se pagar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Espinhos (Splinter) - 2008

Sinopse: Encurralados em um isolado posto de gasolina por um voraz parasita que transforma suas vítimas em hospedeiros mortais, um jovem casal e um presidiário fugitivo devem trabalhar juntos para encontrar uma maneira de sobreviver ao terror primitivo

Direção: Toby Wilkins

Elenco: Jill Wagner
Paulo Costanzo
Rachel Kerbs
Shea Whigham







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Comentário: Em tempos das vacas magras, eis que surgiu um porcão-espinho robusto e charmoso. "Splinter" é um terror autêntico em extinção do qual sentimos falta. Terror psicológico simples e eficiente. Até mesmo a  fotografia "nervosa" funciona neste caso, dando um aspecto mais repugnante à criatura e disfarçando o baixo orçamento. A direção consegue encontrar a atmosfera certa, nos aproxima da situação pondo os personagens diante da iminência da morte ao confrontar o desconhecido, e a sensação de claustrofobia de estar preso no meio do nada dentro de uma minúscula loja de conveniências. Ou seja, o básico e eficaz. Sangue bem pontuado, aberrações que trazem boas lembranças de filmes passados, atores esforçados, bom roteiro, bons personagens, história nova com estrutura clássica, diretor que saca das coisas e é isso. Sem frescura, rápido e divertido.