quarta-feira, 28 de setembro de 2022

História do Oculto (Historia de lo Oculto) - 2020

Sinopse: Às vésperas de uma crise política e econômica na Argentina (mais uma, no caso), um programa jornalístico em sua última edição tenta expor a relação de autoridades empresariais e do governo com uma seita satânica. Nos bastidores, estranhos fenômenos começam, repórteres desaparecem e o fim do mundo se aproxima.

Direção: Cristian Ponce

Elenco: Germán Baudino
Nadia Lozano
Héctor Ostrofsky
Agustín Recondo
Lucia Arreche





Download:
 
 


Comentário: Um daqueles experimentos narrativos que fascinam e mantém certa esperança - mesmo que vã - no futuro do cinema. "História do Oculto" tem os recursos e o jeitão de um filme de conclusão de faculdade de audiovisual, ou ainda, de filme feito pra streaming (acho que tem na Netflix inclusive kk), mas aqui essas capenguices e pretensões juvenis são todas canalizadas positivamente em favor do ritmo e da atmosfera. São praticamente duas locações, um punhado de personagens e orçamento inexistente, mas o começo frenético e a ambientação convincente são imediatamente imersivas (nem que seja pela desorientação), e é recompensador lentamente ir juntando as peças e entender o que está em jogo. É um thriller político na sua estrutura, mas que de forma calculada e segura adentra cada vez mais no horror cósmico... e como redator desse fardo que chamo de blog, acostumado a filtrar muita tranqueira refinando só a nata do cinema para vocês, devo confessar que há tempos um filme não me oferecia sustos sinceros e angústia genuína quanto esse.
    A trama é bem bolada, elevada por um estilo reminiscente do Borges (é afinal de contas, infelizmente, um filme argentino), na ideia de sofisticar as narrativas pulp e folhetinescas, até inevitavelmente extrapolar para algo no escopo do Carpenter ("Príncipe das Sombras" e "À Beira da Loucura" vem à mente), em um final para o qual certamente vários leitores torcerão o nariz - mas que é bem espertinho apesar de tudo. "História do Oculto" é acima de tudo uma alegoria sobre totalitarismo, sobre os rumos da política latino-americana travados diretamente no inferno e de como nosso legado é um de repetições trágicas, farsescas, ad infinitum em ciclos de poder e opressão... mas sei que o nosso leitor é meio burro e tal, então basta dizer que dá vários cagaços.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

The Seventh Curse (Yuan Zhen-Xia yu Wei Si-Li) - 1986

Sinopse: Durante expedição nas selvas da Tailândia em busca de uma erva que poderia curar a AIDS, o heroico Dr. Yuan se depara com uma tribo isolada cujo xamã maligno está prestes a sacrificar uma virgem. Ele salva a jovem, mas no processo é amaldiçoado. Um ano depois, a maldição começa a se manifestar, e para sobreviver ele precisa juntar seus amigos e retornar à selva, em um embate derradeiro com o xamã.

Direção: Ngai Choi Lam

Elenco: Chow Yun-Fat
Siu-Ho Chin
Maggie Cheung
Ken Boyle
Hung Chen




Download:
 
 
OU
 
 
 
Obs: Já existe uma legenda em português para esse filme, mas trata-se de uma tradução da versão americana - dublada e severamente mutilada para agradar os conservadores filhos da puta e tudo mais. Essa é a primeira tradução para a versão chinesa sem cortes, com dez minutos a mais de pura nojeira. 


Comentário: Do diretor do "História de Ricky" (e muitas outras bostas), "The Seventh Curse" encapsula perfeitamente todo o clima aventuresco da Sessão da Tarde oitentista, mas da perspectiva asiática. Ou seja, cheio de elementos grotescos e perturbadores - porém sem jamais perder a inocência. Copia descaradamente elementos de diversos sucessos hollywoodianos (mais notadamente, "Indiana Jones", de onde roubou a cena da bola rolando na caverna sem a menor cerimônia), e talvez por tentar competir com os americanos, se distancia de diversas outras bizarrices de Hong Kong ao ser genuinamente divertido e coerente na sua estrutura e lógica interna. Os personagens são todos simpáticos, as cenas de ação são inventivas e empolgantes e, ao menos no que diz respeito à ambientação, é supreendentemente bem trabalhado, disfarçando com sucesso o orçamento precário. 
    Claro que a graça tem a ver com tudo aquilo que os chineses conseguem fazer - graças ao seu sistema de classificação etária onde filmes pornôs e de ação eram avaliados no mesmo patamar - com as quais os americanos jamais se safariam. Ou seja, é o "Indiana Jones" mas cheio de nudez gratuita, violência brutal e nojeiras asquerosas (e se algum filme do Indy terminasse com um feto malígno dando porrada no alien, que é uma coisa que acontece aqui). Por exemplo, quando os personagens na selva caem nas armadilhas, é mostrada a consequência física dela nos mínimos detalhes (em uma cena memorável uma pessoa simplesmente é repartida ao meio), ao invés da câmera cortar para a reação assustada de seus protagonistas para fugir do explícito. Noutro momento, a sidekick (Maggie Cheung, como um alívio cômico engraçado de fato, pra variar) faz mais uma trapalhada - que ao invés de risos resulta em um inocente tendo sua cabeça dilacerada por um tiro, sem que isso jamais pese contra ela narrativamente. 
    "The Seventh Curse" encontra um equilíbrio perfeito entre os maniqueísmos ocidentais e o asqueroso do cinema asiático em uma aventura que empolga de forma genuína (e dura só 1h20!). A coisa toda é tão simpática que eu definitivamente gostaria de ver toda uma franquia derivada do Dr. Yuan e seu amigo fumador de cachimbo enfrentando novos vilões - apesar de já haver uma sequência que não repete elenco, roteiristas e direção e que definitivamente é um lixo.

    Em uma nota separada - que não se aplica exclusivamente à esse filme - amo o logo da Golden Harvest e ele sempre me deixa com a alma quentinha.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A Vingança do Espantalho (Dark Night of the Scarecrow) - 1981


Sinopse: Por acreditarem que um retardado é culpado pela morte de uma menina, quatro eleitores do Bolsonaro —entre os quais, o pedófilo retraído e o capiau que provavelmente transa com animais — acabam matando o coitado. Ao descobrirem que na verdade ele havia salvo a menina de ser morta por um cachorro (um pequeno engano de leitura), encobrem o crime como legitima defesa (e agora, reaças? e os direitos humanos?????) e, por falta de provas, são absolvidos no julgamento. Porém, alguém começa a persegui-los e matá-los, um a um (quem será???).

Direção: Frank De Felitta

Elenco: um monte de velho, uma menina e um retardado


Download


BRrip (5,5GB)>> Link magnético

Legenda


Comentário: A Vingança do Espantalho é daqueles que faz parecer que não é tão difícil produzir um bom terror. É baratinho, simples, eficiente e redondinho.

Foi feito para a tv, então tem aquele aspecto pobretão de tv, mas também é o que o faz charmoso e sem tanta pretensão comercial. Como nesse país miserável a gente só vive de analogias políticas, descrevamos o enredo como: quatro bolsonaristas matam um retardado mental (clinicamente diagnosticado e não outro bolsonarista rsrs). Obviamente, com uma motivação reaça, irracional e impulsiva. E que, naturalmente, se mostra injustificada. A partir daí se aplica a lógica do título (em português, o original não faz muito sentido), mas não vou explicar o que o espantalho tem a ver com a coisa toda, mas até que é interessante a ideia. 

Dos protagonistas/antagonistas, o Charles Durning se sobressai, atuando como o carteiro vigilante que é um legítimo sujismundo, que passa o filme inteiro vestindo o uniforme. Os demais estão em harmonia com seus papeis, mas de um jeito até desconfortável porque quase parecem estar interpretando a si mesmos (como se o casting tivesse sido selecionado direto de Nova Pádua)

O detalhe mais interessante é que o filme usa toda a ambientação ruralista como elemento para a engenhosidade das mortes, que não têm lá muito impacto em termos de violência, até por ser tudo meio offscreen, mas isso não incomoda não.

Agora, poderia ser melhor? Certamente. Por pouco o filme não se aprofunda como um terror genuinamente psicológico, porque por um longo tempo deixa no ar se há de fato a participação efetiva do espantalho nas mortes, cria com isso um mistério (misteriozinho) e ameaça tons e temáticas mais sofisticadas, como paranoia e culpabilidade. Claro que em momentos-chave se entrega ao conforto do slasher, mas um bom slasher!

Foi dirigido pelo Frank De Felitta, mais conhecido como escritor (Stephen King dos pobres), e que saiu bem na função no que foi uma de suas únicas investidas como cineasta.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Estranho Poder de Matar (The Shout) - 1978

Sinopse: Durante um jogo de críquete num sanatório, o paciente Crossley (Alan Bates) relata uma estranha história sobre o profissional de som Anthony Fielding (John Hurt) e sua esposa (Susannah York). Crossley teria vivido certa época com os aborígenes australianos, onde aprendeu magia, e a utiliza para dominar a esposa de Anthony. Entre suas habilidades há um grito fatal, que tem o poder de matar qualquer um que esteja ao alcance de sua voz.

Direção: Jerzy Skolimowski

Elenco: Alan Bates
John Hurt
Susannah York





Download:




Comentário: Há quem diga que The Shout é ame ou odeie. Não concordo. Acho que é mais indicativo do que subjetivo. No caso, só pessoas burras não apreciam uma das obras mais injustiçadas do cinema. Inquietante o tempo todo, o tom é de um pesadelo, daqueles de dar joelhada nas costas da esposa e resmungar em posição fetal enquanto dorme (não que o leitor virgem vá saber o que é isso, então dá sim pra adaptar para "joelhada nas costas da mãe enquanto dorme com ela"). 

Imagine o Kubrick dirigindo um filme de baixo orçamento roteirizado pelo Lynch. A figura do Crossley, o antagonista, fascina. Em outras palavras, o filme trata de um talarico que após aprender magia com aborígenes australianos decide testar seus truques de sedução com esposas de caipiras britânicos. Mas o feiticeiro na verdade aqui é o Skolimowski, que harmoniza som e imagem de maneira indubitavelmente consciente, desconcertante e hipnótico. A cena do grito é convincente e aterrorizante, por exemplo. A partir daí o filme vai perdendo gradativamente o fôlego, mas o que havia conquistado já era suficiente. Citando novamente, é a essência do cinema de David Lynch, e isso quando o Lynch estava no pleno domínio de sua linguagem (o que ocorreu ali no Inland Empire).

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Canibais do Apocalipse (Apocalypse Domani) - 1980

AKA Cannibal Apocalypse
AKA Invasion of the Flesh Hunters
AKA Cannibals in the Streets 
 
Sinopse: Forçados a se alimentar de carne humana quando prisioneiros no Vietnã, soldados americanos voltam para casa com dificuldades para deixar o exótico cardápio para trás.
 
Direção: Antonio Margheriti
 
Elenco: John Saxon
Elizabeth Turner
Giovanni Lombardo Radice
Tony King
Wallace Wilkinson

 
 
 
Download:
 
 
OBS: Sim sim tá enorme o tamanho pro leitor com interner discada do Bol, mas além de ser o único arquivo com seeds, a imagem está cristalina, perfeita para ver a carnificina nos mínimos detalhes.
 
 
 
Comentário: Nos primeiros cinco minutos disso aqui, um cachorro-bomba se explode e uma menina é incinerada até a morte para ser então prontamente devorada por dois canibais (que, naturalmente, começam o banquete pelos seios) - tudo conduzido por aquelas trilhas com sintetizador de fundo de garagem que a gente tanto gosta e tenta imitar. Tendo a trama em mente, é fácil cair na tentação de pensar que trata-se de uma alegoria sobre a guerra e seus traumas, na mesma medida que o primeiro "Rambo" é, por exemplo, mas se existe algum significado nesse sentido ele é completamente acidental. "Cannibal Apocalypse" (ou qualquer um dos outros duzentos títulos) é o mais puro exploitation italiano, pegando carona nas primeiras obras da Nova Hollywood sobre a Guerra do Vietnã como desculpa para um festival gloriosamente estúpido de barbaridades. A certa altura inclusive o filme abandona suas rasas pretensões para despirocar de vez e se assumir como um mal disfarçado filme de zumbi pós-apocalíptico (para nossa alegria).

    O ritmo é frenético, o gore é de respeito, os personagens secundários são divertidos, o clímax nos esgotos põe "O Terceiro Homem" pra comer capim, tem um personagem que se chama Charles Bukowski (e se você já não ia muito com a cara do poeta, agora não vai mais aguentar ouvir o nome dele) e o plot twist final é de uma obviedade dolorosa. Ou seja, tirando pelo cachorro que explode, há algo aqui para agradar toda a família. Mesmo sem jamais ter sequer sido indicado ao Oscar, Margheriti deixa Cimino no chinelo, pois aqui transmite os mesmos sentimentos de seu "Franco Atirador", mas na exata metade da duração e com o exato dobro de peitões.


segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Alerta Noturno (Butcher, Baker Nightmare Maker) - 1981

AKA Night Warning

 
Sinopse: Criado por sua tia após perder os pais em um bizarro acidente de carro quando criança, Billy está prestes a se formar e sair de casa. A perspectiva dessa mudança, contudo, desperta certos instintos sexuais e homicidas em sua tia.

Direção: William Asher

Elenco: Jimmy McNichol
Susan Tyrrell
Bo Svenson
Julia Duffy
Bill Paxton




 
Download:
 
 

Comentário: Aqui está um filme que não quer desperdiçar seu tempo; já começa com uma morte brutal nos primeiros segundos (copiada na cara dura pelo "Premonição" aliás) e daí pra frente segue surtado e caótico até o último frame, na sua enxuta e exata 1h30 de duração. O gore é num todo bastante pesado quando comparado a outros slashers oitentistas, mas o que torna a coisa muito mais divertida aqui é a atmosfera sexualmente grotesca e desagradável. É um mundo onde todos os adultos são tarados, só faltando lamber os beiços vendo jovens suados em vestiários ou fazendo as insinuações eróticas mais doentias, dignas de filme pornô japonês, sem a menor cerimônia.
 
    É essa a América de Ronald Reagan - citado já na abertura para não haver dúvidas quanto ao tema -, com seus subúrbios prontos para explodir em histeria sexual e oprimidos pela força policial mais comicamente homofóbica da história do cinema. Menos celebrado do que outros notórios video nasties, esse "Psicose" às avessas é certamente um dos seus exemplares mais interessantes.