quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O Caçador de Bruxas (Witchfinder General) - 1968

Sinopse: Na Inglaterra do século 16, Matthew Hopkins, um cruel e violento auto-intitulado caçador de bruxas tortura e executa jovens inocentes por supostos envolvimentos com bruxaria. Um homem, Richard Marshal, está determinado em acabar de vez com o reinado de sangue de Hopkins.

Direção: Michael Reeves

Elenco: Vincent Price, Ian Ogilvy, Rupert Davies, Hilary Heath






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Comentário: A sinopse de Witchfinder General é tão boa que eu decidi não colocar ela na íntegra para vocês não se empolgarem tanto. Não que o filme dê margem para muita empolgação, pois nas primeiras cenas já dá para notar o nível paupérrimo da produção, cujo figurino e o próprio tom da coisa, embalado pela presença — e voz david lynchiana — sempre zoada de Vincent Price (nunca entendi o apelo, sinceramente), dão um ar de Corman dos pobres (se é que é possível). É tão galhofa a pretensão de seriedade que não seria estranho que a qualquer momento surgisse o John Cleese para anunciar a chegada da inquisição do Monty Python. 
Tão logo, no entanto, começam a rolar cenas de muito mau gosto — em 35 minutos três personagens transam com uma mesma mulher, como forma de demarcar claramente a personalidade de cada um dos homens, é sério. E sessões de tortura progressivamente tornam-se mais gráficas e explícitas (uma em especial surpreende, envolvendo uma fogueira). 
É um filme com muito potencial não alcançado e mal escalado, mesmo assim, é inegavelmente bom e corajoso em muitos aspectos. Muito se fala de tensões que envolveram o diretor e Price, que notória e publicamente nunca foi a escolha para o papel. Entende-se a frustração do cineasta, considerando a canastrice destoante que ele empregou ao personagem. Ainda assim, o Price considerava essa a melhor atuação da sua carreira (...).
Na época, o filme foi sucesso de público e fracasso de crítica. Com o tempo, angariou o status de cult, especialmente pela controvérsia e pelo fato de o diretor morrer meses antes do lançamento, aos 25 anos. 
Está previsto para breve um remake, dirigido pelo John Hilcoat (responsável pelo ótimo western Proposition, de 2005), o que não deixa de ser promissor em razão do já mencionado potencial desperdiçado. 


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

À Um Passo do Abismo (Over the Edge) - 1979

Sinopse: Nova Granada é uma comunidade planejada onde Ritchie White (Matt Dillon), Claude Zachary (Tom Fergus) e Johnny (Tiger Thompson) vivem em harmonia com outros adolescentes e suas famílias. Contudo, o que foi desenhado para ser correto e organizado acaba mudando...

Direção: Jonathan Kaplan

Elenco: Matt Dillon, Michael Eric Kramer, Pamela Ludwig






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Comentário: Hoje em dia se tem algum reconhecimento é por ter sido o filme favorito (ou um dos) de Kurt Cobain. Deve ter sido a primeira experiência mind-blowing dele kkk.
Não vou entrar em detalhes, mas é sim uma grata surpresa e deve ter chocado jovenzitos que na época foram ao cinema achando se tratar de um inofensivo entretenimento adolescente naquele pré-cinema incendiário hormonal da década de 80. É até curioso como o filme insinua um tom espirituoso juvenil até, a partir de reviravolta, tornar-se gradativamente sombrio e no fim ser quase um gatilho para a arruaça. Não dá para entender se a obra, como discurso, toma o lado da provocação ao repertório moralista da época ou se não passa de um alerta reacionário para pais das gerações constituídas pós-Guerra do Vietnã. Não que isso importe, de qualquer forma.

A Lenda de Boggy Creek (The Legend of Boggy Creek) - 1972

Sinopse: No formato "mockumentary", expõe relatos de experiências traumáticas vividas por moradores dos arredores de Fouke, no Arkansas, que desde meados da década de 1950 são assombrados por criatura.


Direção: Charles B. Pierce


Stars: Willie E. Smith, John P. Hixon, Vern Stierman 





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Comentário: Infelizmente o falecido diretor não pôde apreciar o estupendo resultado da restauração do seu próprio filme e que certamente superaria qualquer pretensão que ele mesmo teve quando o concebeu em todo vigor estético que seu miserável orçamento de U$ 100 mil possibilitou na época. E aí que tá mais um privilégio de vivermos nessa maravilhosa era dos computer, que além de nos permitir ter acesso irrestrito para revisitar  esse vídeotambém garante que filmes medíocres e insignificantes para o cinema mundial conquistem um privilégio desproporcional de ter sua estética totalmente restaurada e continuem a ser consumidos por otários quase 50 anos depois.

Ok, obviamente estou sendo injusto, porque esse blog JAMAIS postaria um filme ruim. O que prejudica The Legend of Boggy Creek é justamente, entretanto, suas limitações orçamentárias e a direção sem qualquer traquejo para o terror ou suspense, que tornam momentos de tensão sonolentos e as aparições esporádicas do monstro quase que uma sketch do João Kleber envolvendo sustos e pessoas fantasiadas de gorila. 

Contudo, há um charme genuíno que ressarce as capenguices técnicas. Começa pela já mencionada estética que dá a textura merecida à ambientação do Arkansas e suas similaridades geográficas com o Mississippi (que fica ali nos arredores) e isso remete a todo imaginário culturalmente estabelecido e vinculado a campos inóspitos e pântanos sugestivamente assustadores daquela região. Mas os elementos que realmente credenciam o filme a um status cult — mas de um nicho bem específico, eu diria voltado especialmente para um público de tetudos cabeludos com rabo de cavalo — é a aura folclórica que as atuações autênticas dos capiais (que seriam moradores da região que de fato alegam ter vivenciado o que relatam) e a narração elegante e rebuscada de Vern Stierman. É como se o locutor, que diz ter crescido nas redondezas, de fato o tivesse e quando adulto deixado a cidade, adquirido a oratória necessária para voltar e tornar narrativa a lenda da tal criatura que assombra por décadas os seus conterrâneos. E são os poucos os filmes que conseguem de fato convencer em propostas como essa, como é o caso deste. Porém, mesmo esse mérito acaba sendo meio que um auto-boicote, pois a insistência do filme em dar sustentação à lenda por meio dos relatos acaba se tornando um recurso repetitivo e já lá pelo sexto testemunho você se sente ouvindo a prima da sua avó contando a mesma história, mas sem um clímax satisfatório. 

No fim, o balanço pende bem mais para o positivo e de qualquer forma vale pela sua importância, porque além de explorar uma então rara linguagem de falso documentário, serviu de inspiração para outros filmes utilizarem o famoso "As cenas a seguir são registros reais, etc., etc.", apropriado, por exemplo, em o Massacre da Serra Elétrica dois anos depois.