quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Long Live Life (Viva La Vie) - 1984

Sinopse: No auge da Guerra Fria, dois franceses que jamais se conheceram, um homem e uma mulher, acordam - aparentemente teleportados - no meio de um deserto, a milhares de quilômetros de suas casas. O mistério chama ainda mais a atenção do mundo quando ambos revelam que, gravados no seu inconsciente, está um ultimato de uma raça alienígena exigindo a eliminação do arsenal atômico do planeta. 

Direção: Claude Lelouch

Elenco: Charlotte Rampling
Michel Piccoli
Jean-Louis Trintignant
Evelyne Bouix
Charles Aznavour




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Comentário: Uma obscuridade curiosa, recheada com o melhor elenco que a França poderia oferecer. Começa daquele jeito francês de sempre, meio ressaca da novelle vague, meio lembrando a filmografia do Godard dos anos 80 (deus me livre), só que aí vai adentrando a ficção-científica apocalíptica e... bom, esse é um daqueles que depende exclusivamente do seu plot twist final (que é bem bolado), mas o leitor que não é retardado (eleitor do bolsonaro), vai sacar bem rápido porque um certo celebrado autor barbudo copiou o negócio de uma forma até chocante de tão descarada. Opa, os fãs do Zack Snyder podem antecipar o final também, então sim, esse é um filme acessível a todos, até os retardados.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

The Man Who Stole The Sun (Taiyô wo Nusunda Otoko) - 1979

Sinopse: Excêntrico professor escolar começa a construir em sua casa, secretamente, uma bomba atômica. Uma vez pronta, ele passa a se divertir chantageando o governo japonês com exigências esdrúxulas e banais. Aos poucos, seu comportamento se torna cada vez mais errático e imprevisível, o que leva um implacável detetive da polícia a caça-lo, mas seu maior inimigo é outro: a contaminação radioativa, que vagarosamente começa a se manifestar...

Direção: Kazuhiko Hasegawa

Elenco: Bunta Sugawara
Kenji Sawada
Kimiko Ikegami
Kazuo Kitamura
Shigeru Kôyama



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Comentário: Escrito pelo irmão menos católico do Shcrader, "O Homem Que Roubou o Sol", em bom português, é uma montanha-russa emocional. Cada estágio da trama tem, mesmo que não declaradamente, um tom e estilo distinto, quase como se fossem vários filmes costurados em um (ou um filme dirigido linearmente por múltiplos diretores). Termina de uma forma sangrenta, brutal e apocalíptica (útima cena memorável, diga-se), em nada lembrando o ato anterior onde o professor se diverte mantendo o mundo de refém, ao que também se seguiu à fabricação do artefato nuclear, aí sim, um autêntico filme de assalto (e com mais interesse na ciência, por exemplo, do que a também fabricação de uma bomba atômica no "Oppenheimer", pra citar algo contemporâneo). Essas mudanças às vezes são desconcertantes, e somando-se a isso certos maneirismos do cinema japonês que ocasionalmente nos parecem alienígenas (sem falar na duração, só meia hora a menos que o... "Oppenheimer"), fazem do "Homem..." uma experiência por vezes desafiadora, mas amplamente recompensadora. Não é o melhor filme já feito, mas há algo nele estranhamente memorável, daqueles que ficam na lembrança mesmo anos depois de terem sido vistos, mais duradouro até do que filmes objetivamente melhores... como o "Oppenheimer".

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Joe - Das Drogas à Morte (Joe) - 1970

 
Sinopse: Ao procurar sua filha, fugida de casa, o bem sucedido empresário Bill Compton confronta e acidentalmente mata o namorado da moça (um hippie sujo passa fome). O único a saber o autor do crime é Joe, um operário reaça baixa renda que se vale da informação para se aproximar de Bill.  Apesar de Bill acreditar que Joe irá chantageá-lo, Joe é na verdade movido por uma sincera admiração, e logo a amizade entre os dois ganha contornos perigosos.

Direção: John G. Avildsen

Elenco: Susan Sarandon
Dennis Patrick
Audrey Caire
Peter Boyle
K Callan 



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Comentario: "Táxi Driver" misturado com "O Pentelho". Essa espécie de comédia com tons de exploitation setentista assinada por Avildsen (do "Rocky" e também de muitas bostas) é um daqueles filmes que chocam porque todas as falas do personagem de Peter Boyle, um chão de fábrica fudido conservador e transbordando de raiva, o reflexo distorcido do working class hero, parecem extraídas diretamente do zap do seu tio. Mas não é dele que o filme ri; o foco da trama de "Joe" tem muito mais a ver com o personagem de Dennis Patrick: típico eleitor do PSDB, se vê como civilizado mas que vota no Bolsonaro sem pensar duas vezes porque "o PT não dá", que depois de um ato de violência é forçado a conviver com por entre as entranhas do populacho. O que a princípio faz única e exclusivamente para tentar suavizar a possibilidade de uma futura chantagem, logo se transforma em um autêntico laço fraterno que junta o pior em dois homens, e o patético de Bill ganha contornos mais claros quando se percebe que tudo parte da carência; em casa, ele perdeu todos os laços com sua família - em especial com sua filha, o debut de Susan Sarandon - mas é entre os pobretões que seus atos ganham respaldo e tornam-se fonte de orgulho.
    "Joe" é sobre a improvável amizade entre um membro da elite e um comedor de pão com leite condensado, e sobre como a relação entre ambos - e a subsequente crescente espiral de paranoia retroalimentada por ambos - os levará à consequências sangrentas (o clímax todo ao estilo Schrader se torna ainda mais engraçado por ser completamente grotesco e gratuito). É um filme constrangedor e divertido na medida certa, e até pode fazer pensar. Rolou na época a ideia de uma sequência onde o Joe, liberto de seu tempo de prisão (spoilers?) encara a vida com um olhar mais à esquerda, e é bom que não tenha sido feito apesar de promissor.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Jogos de Sangue (Blood Games) - 1990

Sinopse: Time feminino de softball disputa partida em cidadezinha tipo Nova Pádua, onde só mora bolsonarista. Aí é aquela coisa, os bolsonaristas, como é de se esperar, tentam violentar as moças, que revidam e o que segue é uma luta sangrenta em busca de sobrevivência.
 
Direção: Tanya Rosenberg
 
Elenco: Gregory Scott Cummins
Laura Albert
Lee Benton
Ross Hagen
George 'Buck' Flower





 
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Comentário: O rape revenge sempre foi o subgênero mais fácil de ser produzido pelos tranbiqueiros do audiovisual pelo fato de garantir notoriedade pelo shock value instantâneo ao mesmo tempo em que pode ser muito econômico (muito mais, por exemplo, do que seu slasher feijão com arroz). Na escala "I Spit On Your Grave" (que nunca postamos aqui mas que é sim o "Cidadão Kane" do esgoto), "Jogos de Sangue" se intersecta com o "Rituals" - ou seja, é acima de tudo um autêntico filme de sobrevivência, e um daqueles bons onde a tensão é constante, a violência perturbadora e o humor inexistente.
    O teor sexual é extremo e contraditório; a violência masculina é retratada de uma forma horripilante, grotesca mesmo quando comparada à seus predecessores. Simultaneamente, os corpos femininos são explorados e escancaradamente objetificados de forma tão erótica (tem até, por exemplo, insinuação lésbica no chuveiro com peitões - acoplados a belas atrizes - saltando na tela) que você pensaria, por um momento, estar vendo um filme italiano. Só que aí que está a pegadinha: "Jogos de Sangue" é assinado por uma mulher (inclusive, o único longa de Tanya Rosenberg, seja lá quem for), então ou essas contradições são conceitualmente intencionais ou tá liberado usufruir dessa sordidez sem culpa pois temos que valorizar nossas diretoras. 
    Ainda que pise com força no sexploitation, "Jogos de Sangue" é um filme curioso porque, sem qualquer pretensão, consegue empoderar de forma orgânica, humana e merecida suas personagens de forma muito mais convincente que qualquer uma dessas merdas politicamente corretas das Disneys da vida ao qual nós pobres homens estamos sendo submetidos. Também é, esteticamente, pertencente àquele curioso crepúsculo da década de 90, quando se diminuiam os excessos da década passada mas sem o barateamento técnico que estava prestes a chegar.

domingo, 5 de novembro de 2023

Mortos Que Matam (The Last Man on Earth) - 1964

Sinopse: É o "Eu sou a Lenda" só que com o Vincent Price (ou seja, melhor, porque o Smith sempre foi muito ruim).

Direção: Ubaldo Ragona

Elenco: Vincent Price
Franca Bettoia
Emma Danieli
Giacomo Rossi Stuart










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Comentário: A primeira adaptação do livro lá do Matheson, mesmo sendo uma italianagem picareta das grossas, é ainda sua melhor versão. A história parte do mesmo princípio: o Price, cientista, único imune a uma epidemia que transformou todo mundo em zumbi/vampiro/hippies albinos zoados (como na versão do Charlston Herston), durante o dia caça os infectados e procura uma cura, daí aparece a mulher do nada e etc etc. Como todo filme B italiano que se preze, o orçamento é zero e o Price é o único membro americano no elenco, enquanto o resto da produção inteira tenta desesperadamente convencer o espectador (e distribuidor) que trata-se de algo realizado em Hollywood. Como muito se fazia na Itália do pós-guerra, é adicionado aqui um componente político nem um pouco sutil: Price é o "último homem" num sentido de ser o último homem que goza de liberdade; a sociedade subterrânea que se formou entre os infectados, antes dos zumbis velocistas do Smith, tornou-se uma utopia fascista, na incansável busca pela eliminação do indivíduo. 
    "Mortos Que Matam" é um daqueles filmes pequenos que nos lembram do prazer de se assistir a um bom filme de fundo de quintal, que com seu arsenal de truques para driblar as limitações técnicas inspiram e reafirmam o cinema enquanto mágica. Não é preciso um orçamento bilionário para nos convencer de uma sociedade esvaziada, basta pagar uns trocados pro Price fazer monólogos em supermercados abandonados e ruas de manhã cedo que dá na mesma (até fica o alerta, porque o prazer da fruição ao ver esse filme será proporcional ao quanto o carisma do Price ressoa no espectador, já que ele representa 99% do que se vê em cena - mas o fã, como quem vos fala, é recompensado pelo glorioso final onde um Price com arpão atravessado na barriga grita com seus algozes, "EU SOU UM HOMEM"). Era um dos favoritos entre a filmografia do próprio Price e, se nada mais, serviu de inspiração direta pro "Noite dos Mortos Vivos", de acordo com o Romero em pessoa.