Sinopse: O cineasta José Mojica Marins, criador do personagem Zé do Caixão, decide passar o natal na mansão de campo de alguns amigos. Chegando lá, diversos fenômenos inexplicáveis começam a acontecer. Mojica investiga os acontecimentos e descobre que seu personagem se materializou no mundo real depois de um ritual satânico e que pretende tomar o seu lugar.
Direção: José Mojica Marins
Elenco: José Mojica Marins
Elenco: José Mojica Marins
Agenor Alves
Alcione Mazzeo
Ariane Arantes
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Comentário:
José Mojica
Marins é provavelmente um dos artistas mais incompreendidos da história do Brasil.
Perseguido de forma sistemática durante a ditadura militar, impedido de fazer seu cinema, viu-se obrigado a sobreviver animando festas e eventos
interpretando seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão, até o ponto de as
novas gerações nem mais saberem que essa figura caricata e vítima de chacota
foi, na verdade, um dos maiores cineastas brasileiros que já viveram.
Semi-analfabeto,
sem conhecimento teórico ou técnico sobre cinema e sem ter onde cair
morto, Mojica produziu, de dentro um estúdio improvisado em uma sinagoga
abandonada, em um país sem tradição de horror, ao menos duas obras-primas
entre 1963 e 1967: “À Meia Noite Levarei
Sua Alma”, filme de origem do personagem Zé do Caixão, e sua continuação, “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”. A
partir deste, a bronca de Mojica com a censura começou: o governo exigiu um novo
final “redentor”, onde o personagem Zé do Caixão, quase a personificação do überman nietzscheano, se arrepende de
seus pecados e clama sua crença em deus. A situação piorou com seus
próximos filmes: “O Estranho Mundo do Zé do
Caixão”, de 1968, foi mutilado até o talo, e “O
Ritual dos Sádicos”, de 1970, que deve ter sido demais para os miolos dos militares, foi simplesmente proibido.
Mesmo
com tantos problemas, Mojica ainda gozava de grade fama e relativo prestígio
popular no início da década de 70 por conta de um programa de TV que
apresentava na Rede Bandeirantes, o sugestivo “Além, Muito Além do Além” (uma cópia sem vergonha do "Alfred Hitchcock Presents" e "Além da Imaginação", lógico). Por conta disso, e também na carona do
filme “O Exorcista”, Mojica
foi convidado para reviver sua mais famosa criação em um filme que tinha como
tarefa inglória competir com a película norte-americana naquele que seria seu trabalho mais "profissional", “Exorcismo
Negro”.
Apesar de contar com um orçamento folgado e de uma equipe técnica experiente, elementos até então inéditos na carreira do diretor (e talvez justamente por causa disso), "Exorcismo Negro" não chega nem perto da qualidade
artística dos seus predecessores, charmosos em sua tosquice. Ainda assim, é um filme extremamente corajoso dentro da produção cinematográfica brasileira da época (e até de hoje em dia, já que o cinema brasileiro, como todos vocês sabem, dá dois passos para trás a cada passo para frente). A história toda gira em torno do personagem Zé do Caixão criando vida e, como um Frankesntein do terceiro mundo, tentando destruir seu criador. No primeiro encontro entre criador e criatura, Mojica (que interpreta ambos papéis) mostra-se descrente e imagina que
tudo não passe de uma alucinação, ao que Zé do Caixão responde “Mas qual é o problema? Você não acredita no que você faz?”. Essa pegada metalingüística gera questionamentos muito
interessantes sobre a figura do realizador, sobre símbolos (no sentido junguiano do termo) e, principalmente, sobre o poder recriador da realidade do cinema (questões abordadas de forma semelhante no fraco "Delírios de Um Anormal", de 1978).
Por outro lado, é triste observar a imagem
que Mojica tentava criar para si mesmo na ficção. Se na vida real ele era
completamente ridicularizado pela crítica, no filme ele é tratado como um
grande mestre do cinema nacional por jornalistas e intelectuais. Se na vida
real Mojica tinha que dormir no estúdio por não ter condições de alugar um
apartamento, no filme ele passa as férias em uma luxuosa mansão no interior. Se na
vida real, Mojica mal sabia escrever o próprio nome, no cinema ele é um
estudioso de psicologia e especialista em literatura inglesa, além de um exímio
enxadrista. Não bastasse isso, Mojica nunca veria sua projeção do mundo das
ideias tomar forma na vida real: apesar de certo reconhecimento internacional, por aqui Mojica ainda é alvo de escárnio e é lembrado, no máximo, por suas
unhas compridas. Cabe a nós, como cinéfilos sérios, corrigir isso. Cabe a nós
resgatar o legado do único diretor de filmes de terror sólidos do cinema
brasileiro. Nosso país precisa de nós. Do contrário, será a vitória póstuma da
censura, dos militares. E esse é um preço alto demais a se pagar.
Aviso aos visitantes: inexplicavelmente, o arquivo foi deletado do Rapidshare minutos depois dessa postagem ir ao ar. Já estou providenciando upar o arquivo para o 4shared e novamente para o rapidshare, em arquivo único. Aguardem.
ResponderExcluirAprecio seu blog cara, mas com todo respeito, cuidado com a comparação que fez com a personagem de José Mojica com a concepção idealizada por Nietzsche. Não é plausível. Não se precipite com as concepções do filósofo antes de compreender sua obra como um todo.
ResponderExcluirAmigo, eu vi todos os filmes do Mojica, e a idéia do Zé do Caixão estar além do bem e do mal e etc encaixa muito bem na teoria do super-homem. Claro, o super-homem não lida com as questões do instinto e tudo mais como o Zé, por isso eu frisei que o Zé é quase o super-homem.
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