segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O Esqueleto da Sra. Morales (El Esqueleto de la Señora Morales) - 1960

Sinopse: Simpático taxidermista é constantemente atormentado por sua desagradável e fervorosamente católica esposa. Depois de vinte anos de casamento, ele decide tomar medidas drásticas contra ela e começa a elaborar o crime perfeito.

Direção: Rogelio A. González

Elenco: Arturo de Córdova
Amparo Rivelles
Elda Peralta
Guillermo Orea
Rosenda Monteros







Download:

 
OU
 

 

Comentário: Poucas vezes um filme foi tão pouco ambíguo quanto à sua própria moralidade. Gonzáles busca de todas as formas possíveis não apenas justificar o assassinato da titular Sra. Morales, como também nos fazer ativamente torcer pela consumação do ato e subsequente absolvição do protagonista. A principal ferramenta é básica: enquanto o assassino é a pessoa mais querida e adorável de todos os tempos, sua cônjuge é caricatamente desprezível, constantemente atormentando-o até o ponto de ruptura. Apesar disso, não é uma narrativa barata; parte da diversão está em acompanhar o taxidermista planejando seu crime à prova de falhas - e vencendo. Como todo filme mexicano, tem sua atmosfera de Chaves, mas não se deixe enganar, "O Esqueleto da Sra. Morales" é uma obra supreendentemente iconoclasta, de um texto exemplar na sua estrutura inteligente e senso de humor perverso, contando uma história redondinha e, francamente, inesquecível em incríveis 1h20min. Se Hitchcock tivesse visto, certamente teria copiado.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Lábios de Sangue (Lèvres de Sang) - 1975

Sinopse: Homem vê, em uma festa, uma fotografia de um castelo em ruínas que desengatilha estranhas memórias de sua infância envolvendo uma misteriosa jovem que usava apenas branco. Ele fica determinado a descobrir onde era esse lugar para reencontrar a jovem, mas começa a esbarrar em persistentes obstáculos na sua busca. Quando o perigo de torna iminente, ele começa a ser ajudado por uma sociedade secreta de vampiras.
 
Direção: Jean Rollin
 
Elenco: Jean-Loup Philippe
Annie Belle
Natalie Perrey
Martine Grimaud
Catherine Castel



 
Download:
 
 
 
OU
 
 


Comentário: 
 
    Espécie de amadurecimento do Rollin, "Lábios de Sangue" surpreende (talvez negativamente para a maioria) por ser uma das melhores representações de um sonho já cometida em filme (consigo lembrar apenas do "Lua Negra" como realização semelhante).  Digo "representação" de um sonho no sentido de os elementos tomarem forma como tomariam em um sonho de "verdade", onde tudo é aparentemente desconexo porém regido por uma lógica interna que é muito mais experimentada do que explicada. Apesar do onirismo, há aqui uma trama no seu sentido mais tradicional, a jornada arquetípica quase jungiana do protagonista em sua busca frenética por uma memória de infância que deseja se revelar, um símbolo da inocência perdida, violentamente interrompida por figuras do consciente. 
 
    Pra completar o espetáculo de pomposidade, é também uma espécie de "" (para quem não sabe, um dos poucos filmes italianos que não tem gente sendo desmembrada a cada dez minutos) do Rollin. É claramente uma reflexão tanto sobre sua vida quanto auterismo - em um momento particularmente revelador, o protagonista (e também corroteirista) vê a moça de suas lembranças na saída de uma sessão de cinema onde está passando um de seus clássicos, "A Vampira Nua"; ela o chama e, para além da tela, há apenas um beco que conduz a um cemitério onde jaz sua tumba. Entre outros detalhes, o roteiro se chamava "Jennifer" antes da produção, apesar de evidentemente nenhuma personagem se chamar assim.

    Talvez tudo isso seja cerebral demais para nosso leitor, por isso falarei agora na vossa linguagem: tem várias (várias mesmo) gostosas peitudas peladas e as vezes se pegando.
 
OBS: Eu assisti esse filme sob o efeito de psicoativos mas isso em nada altera meu julgamento objetivo (acho).

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Rituais (Rituals aka The Creeper) - 1977

Sinopse: Cinco médicos vão acampar numa floresta para uma pescaria, planejando uma semana de diversão longe da cidade grande. Depois de muita viadagem eles acabam sendo implacavelmente perseguidos por um misterioso assassino vagabundo com um senso de humor duvidoso.

Direção: Peter Carter


Elenco: Hal Holbrook, Lawrence Dane, Gary Reineke, Jack Creley





Download


1080p (1,6GB)>> Link Magnético


Legenda


Comentário: Um mashup entre Deliverance e The Hills have eyes. Tem como dar errado? Claro que sim. Mas houve, sim, um homem corajoso o suficiente para tentar, chamado Peter Carter. Lá foi Peter, com seu elenco de homens se enfurnar no mato. Passaram longas horas, dias, filmando, sem muito avançar no enredo. Em algum momento, um dos personagens se machuca e todo mundo vai pro rio, numa tentativa de fugir de algum mal oculto. Peter talvez tenha se sentido mal pela picaretagem e pensou que poderia superar sua inspiração. Decide colocar tudo em risco, e mete um mutante canibal no clímax, que é quando diverte (relativamente). Aí depois disso o filme acaba.

Um Grito de Pavor (Taste of Fear) - 1961

Sinopse: Depois de sofrer um acidente em que quase morreu afogada, uma jovem paralítica retorna à sua casa e passa a questionar sua sanidade quando vê o corpo do falecido pai em torno da propriedade da família.


Direção: Seth Holt


Elenco: Susan Strasberg, Ronald Lewis, Ann Todd, Christopher Lee








Download

Torrent + legenda  (720p)>> Magnet Link


Comentário: Trama bem amarrada e envolvente, daqueles derivados hitchcockianos genéricos, mas eficientes. Consegue quase por tudo a perder no final, numa cena que seria caricata até se protagonizada por Didi Mocó (Dr. Renato).


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

A Maldição da Serpente (The Lair of The White Worm) - 1988

 
Sinopse: No bucólico interior inglês, jovem arqueologista descobre estranhos artefatos e uma caveira no seu quintal, que parecem despertar impulsos sexuais e pagãos nas jovens da redondeza. Em paralelo, seu amigo, um entediado lorde, herda um título folclórico da sua família que consiste em defender o mundo de uma mitológica serpente demoníaca que supostamente vive nos subterrâneos da região. A chegada de uma sedutora e misteriosa mulher, somando-se a desaparecimentos de camponeses, faz com que o amigos pensem que as lendas são reais.

Direção: Ken Russell

Elenco: Amanda Donohoe
Hugh Grant
Catherine Oxenberg
Peter Capaldi
Sammi Davis



Download:





Comentário: Todo o estilo surtado, alucinado e iconoclasta do Russell à serviço de... uma espécie de filme Sessão da Tarde (mas pela quantidade de sexo e violência, a Sessão da Tarde dos anos 80 daí). É uma aventura clássica (o bando de amigos céticos adentrando o sobrenatural e se unindo para enfrentar um monstro), com um pé no Lovecraft (na mitologia e no tratamento do vermão lá enquanto Deus) e outro calcado bem firme no Mojica (na total tosqueira e galhofa generalizada). É tudo muito divertido, dos personagens simpáticos à total subversão do Russell, te prende pela estrutura clássica aventuresca redondinha e te ganha pelo absurdo.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Crime no Carro Dormitório (Compartiment Tueurs) - 1965

Sinopse: Trem chega à Paris com uma passageira morta no vagão dormitório. Enquanto o metódico inspetor Graziani começa as investigações, todos os outros passageiros do compartimento começam a morrer, um a um, de formas brutais e desconexas. Os dois últimos passageiros vivos precisam juntar forças e revelar o assassino antes que se tornem, eles próprios, as próximas vítimas.

Direção: Costa-Gavras

Elenco: Catherine Allégret    
Michel Piccoli    
Pascale Roberts    
Yves Montand            
Charles Denner    
Jean-Louis Trintignant 
 


Download:


 
OU
 
 

Comentário:
 
    Espetacular estreia do Costa-Gravas (talvez um dos melhores debuts de todo os tempos), onde ele já demonstra total domínio de seu estilo videoclíptico, que depois viria a ser usado em sua sequência de obras-primas políticas (assistam Z porra). Aqui, contudo, toda potência narrativa é colocada a serviço do que seria, nas mãos de outrem, um whodunnit do mais pedestres, mas que aqui transcende. É um suspense eletrizante, envolvente e frenético repleto de astros no seu auge (o Yves Montand é sempre um alento para os olhos apesar de eu ser muito hétero).  

    O leitor calejado e miserável do blog certamente está habituado às reviravoltas esdrúxulas e sem sentido das italianagens, então sei que boa parte de você torcerá o nariz para o mistério aqui, já que ele é construído de forma tão enigmática que fica cada vez mais evidente que um desfecho minimamente lógico é impossível. Pois podem ficar tranquilos, é tudo perfeitamente coerente e engenhoso, do primeiro ao último minuto. "Crime no Carro Dormitório" é, perdoem o linguajar, um filmaço do caralho.

 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Os Quatro do Apocalipse (I Quattro dell'Apocalisse) - 1975

Sinopse: Quatro marginais (um jogador, uma prostituta, um trapaceiro e um ex-escravo com poderes mediúnicos) sobreviventes de uma chacina vagam pelo Utah selvagem até encontrarem um sádico psicopata.

Direção: Lucio Fulci

Elenco: Fabio Testi
Lynne Frederick
Michael J. Pollard
Harry Baird
Tomas Milian







Download:


 
OU


 

Comentário: 
 
    Esqueça o velho oeste vibrante das trilhas do Morricone, das aventuras divertidas do Corbucci e do épico do Leone. Uma das únicas incursões do mestre Fulci no gênero é uma experiência profundamente desagradável e visceral. É uma jornada em linha reta ao inferno. Todos nossos protagonistas (imperfeitos, mas carismáticos) estão condenados desde o primeiro segundo, quando o narrador já anuncia que o Fabio Testi está chegando à Utah no mesmo dia em que a população está pronta para cometer um ato de barbárie: um genocídio aos moldes do século XX - e, depois, pelo encontro infeliz com uma figura diabólica explicitamente inspirada no Manson e seus asseclas (que, entre outras barbaridades, estupra a prostituta grávida diante do apaixonado Testi).

    Esse, é claro, é o elemento que desencadeia a trama de vingança tão cara aos spaghetti western... mas não só a busca pelo acerto de contas se materializa apenas no terceiro ato, como o confronto final, longe de qualquer conclusão satisfatória ou redentora, é profundamente deprimente, até mesmo triste - e justamente pela consumação da vingança. Tudo em "Os Quatro do Apocalipse" é indigesto (até o clima desértico é substituído por uma umidade doentia e um frio glacial, já que esse é um daqueles raros e bem-vindos faroestes na neve). Apesar de ser uma experiência dolorosa, há algo na direção de Fulci que faz com que a memória desse filme seja persistente. Lá se vão dez anos que o assisti pela primeira vez (outro redator desse blog, acreditem, me deu sua cópia do DVD brasileiro que depois eu perdi), e jamais parei de pensar nele. Seria fácil fazer algo gratuitamente chocante, grosseiro e talvez esquecível (e não haveria nada de errado nisso), mas Fulci optou por outra rota. É uma atmosfera tão melancólica e singela que, no fim, é impossível não se sentir... comovido.
 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Sangue Para Drácula (Blood for Dracula) - 1974

Sinopse: O decadente e melancólico Conde Drácula, minguando pela ausência de sangue de virgens, parte em uma viagem para o interior da Itália em busca de uma jovem que possa suprir suas necessidades. 

Direção: Paul Morrissey

Elenco: Joe Dallesandro
Udo Kier
Vittorio De Sica
Maxime McKendry
Arno Jürging
Roman Polanski







Download:



OU



Comentário: 

    Uma divertida subversão da mitologia vampiresca, só que pra macho (nada das frescurage do crepúsculo com vampiro purpurinado brilhando, aqui é rock'n'roll yeaahhh), "Sangue Para Drácula" tem uma ou duas coisas a dizer sobre seu tempo. Primeiro, partindo da ideia de que o fragilizado Drácula precisa de sangue de virgens para se alimentar, surge a primeira piada espertinha: após a revolução sexual, elas desapareceram. O Conde, um burguês decadente, pela sua imortalidade um anacronismo, totalmente alienado das intensas transformações do século XX, busca refúgio em uma idílica vila italiana onde talvez os últimos resquícios da tradição existam - mas, nesse novo mundo sem Deus, até lá os crucifixos são escassos. Sua presença suscita um antagonismo automático inusitado: um jovem  camponês militante do partido comunista empenhado em eliminar as elites sanguessugas. A luta contra o bem e o mal se torna, portando, na ausência do seu Van Helsing, uma luta de classes. E é o camponês petralha que salva o dia! (obs: ao estuprar a adolescente virgem, envenenando assim seu sangue e infectando o inadvertido Drácula - é a depravação física como salvação, e não a redenção pela castidade da carne).

    É um filme muito cativante por vários motivos; além dos detalhes reinterpretados, é fantástica a atuação do Udo Kier (que trás toda uma nova dimensão de ridículo e fragilidade do monstro) e também de seu assistente, que costuram o filme com uma químicaa divertidíssima. É violento, cheio de putaria, e certamente muito, muito melhor que o porre do Drácula moderno estabelecido pela Hammer. Também é o sucessor de outra curiosa parceria entre Warhol, Morrissey e Udo, "Carne Para Frankesnstein", que se por um lado não funciona tão bem num todo, é pelo menos mais grotesco.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

O Sócio do Silêncio (The Silent Partner) - 1978

 

Sinopse: Um tímido caixa de banco antecipa um assalto e rouba o dinheiro antes da chegada do assaltante, que é preso. Quando percebe que foi enganado, o ladrão - um sádico psicopata - encontra o caixa e o envolve em uma tensa e violenta caça de gato e o rato pelo dinheiro.
 
Direção: Daryl Duke

Elenco: Elliott Gould
Christopher Plummer    
Susannah York    
Céline Lomez    
Michael Kirby







Download:
 
 
 
OU
 
 

Comentário: Magistralmente conduzido pelos sempre carismáticos Gould e Plummer (interpretando aqui o vilão mais fracassado de todos os tempos), "O Sócio do Silêncio" é mais uma pequena pérola do canuxploitation (isto mesmo, exploitation canadense, algo que aparentemente existe). Com poucos recursos e elementos, o engenhoso roteiro de Curtis Hanson é uma hipnótica e genuinamente tensa partida de xadrez, onde disputam inteligência contra força, cada um movendo sua peça por vez. É um suspense de uma perfeição ímpar no equilíbrio de suas partes (o que Gould tem de simpatia, Plummer tem de arrepiante) e imprevisibilidade (reza a lenda que Gould convidou o mestre Hitchcock para uma sessão particular e que esse teria curtido), onde o que começa aparentemente inofensivo escala para níveis perturbadores. Enfim, um filmaço e também um clássico ainda a ser ovacionado.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

As Filhas do Fogo - 1978

Sinopse: Mulher viaja de São Paulo à Gramado (rs) visitar uma amiga no casarão de sua família. Lá, coisas estranhas estão acontecendo: uma vizinha faz experimentos parapsicológicos tentando captar os sons dons fantasmas, um andarilho vaga pelas redondezas e a amiga demonstra uma estranha fascinação pela memorabília nazista que seu falecido pai colecionava.
 
Direção: Walter Hugo Khouri
 
Elenco: Paola Morra    
Karin Rodrigues        
Rosina Malbouisson    
Maria Rosa
Serafim Gonzalez




 
Download:
 
ATENÇÃO! A única - ÚNICA - cópia disponível ao público desse filme é nada menos que um VHS-rip de uma gravação caseira (dá pra distinguir pouca coisa além do logo da Band no canto). Na minha memória tenho as cenas desse filme cristalinas, tanto que me surpreendi ao descobrir que a versão que eu vi anos atrás era essa mesma aí. Então, se quiserem arriscar, vocês vão inevitavelmente se acostumar.
 
 
OU
 
 
 
 
Comentário:  
 
    Sempre achou que Gramado é um lugar meio maligno? Pois o Walter Hugo Khouri também, e isso bem antes da cidade se tornar a Disneylândia do brasileiro emergente vulgar. Na sua visão, é uma terra de imigrantes que não se reconhecem como brasileiros e que desprezam a terra que os acolheu, agredindo a flora cravando balas de mauser nas árvores, e cultuando o legado maldito do velho continente, seja na reverência ao nazismo ou em tradições folclóricas macabras. Um lugar amaldiçoado onde é possível ouvir os mortos. Pois olha que nas vezes que eu fui lá senti mais ou menos isso daí mesmo. [Curiosidade: dois redatores desse blog são gaúchos - embora machos]

    Pela descrição é fácil imaginar uma trama klebermendonçafilhozada, mas não podia ser mais distante. "Filhas do Fogo" é um filme surpreendentemente atmosférico e sutil, uma história de fantasmas e folk horror elevada pelo tom bergmaniano que Khouri tenta adotar. Uma obra totalmente anômala no cinema brasileiro, que nunca se rende ao exploitation, mas que carrega uma herança da pornochanchada que a impede de transcender seu tempo (enquanto a insinuação homoafetiva das protagonistas é tratada com muita delicadeza, o mendigo tarado pelas empregadas da região é um pináculo da grosseria). Um filme que, mesmo longe de perfeito, merece ser resgatado e celebrado, nem que pela curiosidade do tema e da locação, junto a tantas outras obras de Khouri, um dos nossos autores mais prolíficos e esquecidos. Tirando pelo filme da Xuxa transando com o moleque lá.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Cão Branco (White Dog) - 1982


Sinopse: Keys, um treinador de animais para produções cinematográficas, precisa reeducar um "cão branco" - cachorros treinados por supremacistas brancos para atacar negros. A situação se complica por Keys ser, ele próprio, negro.

Direção: Samuel Fuller

Elenco: Kristy McNichol
Christa Lang    
Jameson Parker
Samuel Fuller    
Paul Winfield 






 
Download:
 
 
 
 
Comentário: 
 
    Sucedido por "Cujo" e "Baxter", o primeiro grande filme de cachorro assassino dos anos 80. Como todos os filmes do Fuller, aqui o horror e a violência são ferramentas para expor as profundas contradições e tensões raciais da sociedade americana. É a subversão definitiva: o adorável pastor alemão branco corrompido pelo que há de pior nos seus subúrbios, transformado em assassino produto do legado escravocrata, sendo ele também uma vítima. Essa pequena pérola foi engavetada e enterrada pela Paramount depois de pronta porque os produtores burros queriam uma versão canina do "Tubarão" e surtaram com o teor delicado do produto final - e seu lançamento oficial se  deu por DVD apenas em 2008. O desgosto do Fuller foi tamanho que ele partiu para um auto-exílio na França (como a esquerda caviar brasileira) e jamais voltou - e não foi o primeiro diretor a cair em desgraça ao lidar com o projeto (Polanski estava originalmente cotado para dirigir mas aí ele estuprou uma criança e teve que fugir pra França também, depois era pra ser o filme de estreia do Tony Scott, e ele se matou esses tempos quando finalmente tinha aprendido a dirigir).
 
    "Cão Branco" é um filme extremamente original, inventivo e violento e segue uma abordagem única do tema. Ah, o cachorro se dá bem, até consegue estraçalhar um velho racista parecido com o Papai Noel no fim, então pode ver sem medo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Escravas do Medo (Experiment in Terror) - 1962

Sinopse: Funcionária de um banco é atacada em sua casa por um misterioso psicopata. Ele quer que ela seja cúmplice de um roubo no banco, e demonstra ter total controle sobre todos os aspectos da vida dela. Fora sua respiração pesada e asmática, a mulher não tem nenhuma outra informação que possa identificar o criminoso. Apesar da constante vigilância, ela consegue pedir ajuda a um agente do FBI, e começa uma batalha nas sombras.

Direção: Blake Edwards

Elenco: Glenn Ford
Lee Remick
Stefanie Powers
Roy Poole
Ned Glass




Download:




Comentário: Suspense não fica melhor que isso. Atmosférico, envolvente e genuinamente tenso, esse pouco lembrado e visto proto-giallo do Edwards (todos os elementos estão lá, só falta a cor e a violência gráfica) é perfeito na sua direção firme, econômica e sóbria (lembra muito mais Kurosawa e Mellville do que Hitchcock nesse quesito). A equação se completa com a maravilhosa trilha sonora noirezenta do Mancini. É preciso abrir mão da lógica em alguns momentos (o próprio ponto de partida da trama, a ligação anônima e vaga que chama atenção do FBI, é completamente demente), mas, por outro lado, se passa no bairro de Twin Peaks kk e as semelhanças com a série do Lynch não acabam por aí não, pelo menos para os fãs doentes e insuportáveis como eu.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Roar - 1981

Sinopse: Um naturalista que vive com grandes felinos na África Oriental espera a visita de sua família. Uma confusão o faz ir em busca de sua família, enquanto sua família vai por conta na casa dele. O desencontro coloca em risco sua mulher e filhos. Paralelamente, uns caçadores retardados querem matar os leões. E também tem um homem negro constantemente usado de cobaia pelo protagnista.


Direção: Noel Marshall


Elenco: Noel Marshall, Tippi Hedren, Melanie Griffith, John Marshall, Jerry Marshall 



Download


720p>> Magnet Link

Ou

1080p>> Magnet Link

Legenda


Comentário: Se algum envolvido nessa produção fosse acusado de algo, a condenação certamente seria por crime doloso. Se hoje todo mundo se rende pro Tom Cruise brincando de dublê e assumindo riscos, mas protegido por toda parafernália e EPIs possíveis, é porque ainda não se submeteu à experiência ressignificadora de assistir Roar. E se algum filme merece o título de maior produção americana da história do cinema, talvez esse seja Roar, por tudo que envolveu de estrutura (e careceu de segurança) e a façanha de todos os envolvidos terem sobrevivido ao final do processo.

Em resumo: no final da década de 60, Noel Marshall (que viria a se consagrar produzindo O Exorcista) e sua esposa, Tippi Hedren (protagonista d'Os Pássaros, do Hitchcock), visitaram a África e, seja por uma epifania ou só um devaneio alimentado a dois, tiveram a ideia de fazer um filme que retratasse os riscos (de forma crítica, diz a lenda) da criação de leões e outros felinos selvagens em ambientes controlados. Como toda ideia ruim pode piorar com o incentivo errado, o casal decidiu que alugar leões treinados não seria adequado, ético ou sei lá por qual motivo foi um impedimento. Então optaram por eles mesmos conviverem com os bichos até desenvolverem uma relação naturalmente harmônica. O que era para ser seis meses de convivência se tornou uma década, entre tudo que envolveu o desenvolvimento e a entrega do filme. Dizem que nesse tempo, o casal criou em torno de 150 felinos, entre leões, tigres, pumas e guepardos, e outros animais, como elefantes, flamingos, avestruzes e girafas (tudo ilegalmente).

O que tudo isso implicava? Que os atores obviamente teriam de interagir diretamente com os felinos durante a produção. Como até o retardo tem limite, menos pro casal, o Marshall e a Hedren preferiram pelo menos manter a produção ao máximo em família. Então chamaram os próprios filhos para compor a maior parte do elenco constante.

O resultado foi isso que você vê na chamada: 70 pessoas feridas durante a produção. E quando digo feridas, me refiro à Melanie Griffith (a própria, que deu azar de ser filha da Tippi) quase ficando cega e tendo que tomar 50 pontos na cara e o diretor de fotografia, Jan de Bont (que viria a dirigir Twister e Velocidade Máxima, anos depois, e A Casa Amaldiçoada) tomando uma caralhada de pontos (trivias por aí dizem de 120 a 200), resultando nesse escalpelamento que tá no pôster. Depois de ter colocado o escalpo no lugar, o Bont voltou pra filmar o resto. O próprio diretor, que é o protagonista, quase teve que amputar o braço. 

E você sabe que não é migué porque vendo o filme se percebe que todo mundo ali teve sua particular experiência de quase-morte. O Marshall tentando apaziguar briga de leões, ou sendo objeto de brincadeiras de uns 30 felinos e saindo todo lanhado são cenas estarrecedoras. Em outro momento, a Tippi Hedren monta num elefante e é arremessada. Fraturou uma perna e teve ferimentos na cabeça.

O tempo todo, a trilha amena tenta disfarçar, mas não adianta, é como se fosse o Compramos um Zoológico dirigido pelo GG Allin ("É como assistir a um live-action de O Rei Leão com Mufasa segurando uma navalha contra a sua garganta", disse um crítico). Mas não é terror não. Por mais que seja totalmente perturbador, o tom é até espirituoso em alguns momentos. Tem até algumas cenas bem sensíveis, tipo um filhote de leão aprendendo a andar de skate. E no geral é realmente apaixonante ver todos aqueles bichos ali. No mais, pode esquecer de alguma história minimamente fundamentada. Atuações do elenco de apoio então, minha nossa senhora, é ainda mais chocante do que ver os leões prestes a cometer atrocidades. Mas compreensível, somente pessoas com atividade cerebral reduzida aceitariam fazer parte do elenco. 

Um filme realmente único. Pode esquecer que verá algo tão admirável e, na mesma medida, condenatório como isso algum dia.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Que o Céu a Condene (Beatrice Cenci) - 1969


Sinopse: Na renascença italiana, a bela Beatrice é filha de um poderoso e repugnante nobre que a mantém presa em um calabouço como escrava sexual particular. Junto à sua madrasta, um servo e um bandido das redondezas ela planeja assassinar seu pai. O problema é que ele, por sua vez, tem a  seu dispor a Igreja, o Estado, e a inquisição.

Direção: Lucio Fulci

Elenco: Tomas Milian    
Adrienne Larussa    
Georges Wilson    
Mavie Bardanzellu    
Antonio Casagrande





Download:

 


Comentário: Uma excentricidade. Não é que o Fulci não tenha feito filmes sérios ou dramas na sua filmografia esquizofrênica (nesse quesito, "O Segredo do Bosque dos Sonhos" é uma das maiores obras-primas do cinema italiano), mas nunca nos termos de "Beatrice Cenci". É um drama de época baseado em fatos reais (a história de Beatrice é muito viva no folclore italiano e foi adaptada inúmeras vezes), com toda pompa e circunstância, mas que de forma linear e segura se degenera até tornar-se um torture porn grotesco, com todas as assinaturas do mestre (globos oculares sendo cortados como uvas? temos!). É também um mérito incomum que aqui Fulci desenvolva suas vítimas com humanidade e, quase, sensibilidade. Não deixa de ser aquele exploitation sórdido de sempre, mas há pelo menos autoconsciência na sua misoginia (talvez até mesmo uma denúncia), e os atores não são apenas manequins ou pedaços de carne a serem estripados. Fulci inclusive considerava esse seu melhor filme (apesar de eu suspeitar que ele dizia isso mais como provocação). Ah, e a protagonista é gatinha viu.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Na Trilha dos Assassinos (Dead Bang) - 1989

 

Sinopse: Detetive fracassado investiga um brutal homicídio duplo em Los Angeles. Aos poucos ele percebe que o caso é muito mais complexo que aparenta e está ligado a grupos nazistas em vias de realizar um ato terrorista. Mais assustador que isso só o aparente desinteresse das autoridades em aprofundar as investigações.

Direção: John Frankenheimer

Elenco: Don Johnson    
Penelope Ann Miller    
William Forsythe    
Bob Balaban    
Frank Military







Download:
 
 


Comentário: Imaginem o Dirty Harry. Agora, ao invés dele ser um nazista, ele na verdade caça nazistas. Ao invés dele ser um fodão, é um bosta. Ao invés dele comer a mulherada, fica só descabelando o palhaço. E além disso é alcoólatra. Ou seja, na real não tem nada a ver com o Dirty Harry, mas é isso aí mesmo.  "Dead Bang" é um dos últimos expoentes do thriller policial imundo das décadas de 1970-80, violento pra cacete e cheio de momentos icônicos, como quando o Don Johnson de ressaca vomita no suspeito que está perseguindo. Sei que hoje em dia o tema (caçar nazistas) possa ser um pouco sensível para os nazistas que nos acessam regularmente em busca de conteúdo de qualidade, mas pode separar a pipoquinha que esse aqui é dos bons.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Singapore Sling (Ο άνθρωπος που αγάπησε ένα πτώμα) - 1990

Sinopse: Um homem sem nome procura Laura, a sua mulher misteriosamente desaparecida. Na sua busca, vai parar em uma casa onde uma mãe e filha habitam um ambiente de loucura, depravação e morte. Então ele se vê obrigado a entrar nos jogos de tortura sexual das duas mulheres completamente loucas.


Direção: Nikos Nikolaidis


Elenco: Meredyth Herold, Michele Valley, Panos Thanassoulis




Download


1080p>> Magnet Link

Ou

720p>> Magnet Link


Legenda


Comentário: Já seria um avanço fazer vocês gostarem de um filme assim. Digo, daqueles pornôs da Deep Web (que vocês sabem quais são....) pra Singapore Sling já é realmente uma puta evolução. Vai ser uma experiência difícil, um pouco chata, porque é arthouse, e não é só depravação não pra sua decepção, mas sem dúvidas o filme do Nikolaidis tem personalidade. É incômodo por elementos que tangenciam o impacto gráfico, especialmente no ritmo encapsulado da ambientação quase teatral, até pelo senso de humor espirituoso que contradiz a estética.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O-bi, O-ba - O Fim da Civilização (O-bi, O-ba - Koniec Cywilizacji) - 1985


Sinopse: Em um futuro pós-apocalíptico, quando a Guerra Fria atingiu seu apogeu atômico, o que resta da humanidade vive em um gigante abrigo subterrâneo em condições precárias. A esperança pela vinda da "arca", um veículo aéreo com ares messiânicos, é que o mantém o espírito dos sobreviventes. Um cínico funcionário da burocracia do abrigo começa a suspeitar que há algo mais por trás dessa crença.
 
Direção: Piotr Szulkin
 
Elenco: Jerzy Stuhr    
Krystyna Janda
Kalina Jedrusik    
Mariusz Dmochowski    
Marek Walczewski



 
Download:
 
 
 
 
Comentário: No que diz respeito a distopias apocalípticas soviéticas com protagonista amargo, um belo exemplar. Talvez menos imaginativo e artístico que "Cartas de um Homem Morto" e outros do Lopushansky, mas bem mais redondinho e menos insuportável que aqueles. A ambientação claustrofóbica e a hierarquia do fim do mundo são muito convincentes. Não há nada de novo ou surpreendente aqui, mas para quem gosta desse tipo de filme, certamente um dos melhores (e mais curtos). Szulkin fez mais três ficções-científicas com essa cara sucateada e essa é a única que presta.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A Chuva do Diabo (The Devil's Rain) - 1975

Sinopse: Patriarca de uma família é sequestrado por Corbis, o emissário de Satã na Terra, que busca reaver um livro milenar onde estão registradas todas as almas de seus adoradores. Seus filhos vão, um a um, tentar resgata-lo em uma cidade abandonada no deserto convertida em sede do culto macabro.
 
Direção: Robert Fuest
 
Elenco: Ernest Borgnine
Eddie Albert    
Ida Lupino    
William Shatner    
Tom Skerritt    
John Travolta
 





Download:
 
 
 
 
Comentário: 

    O maior legado de Charles Manson, tirando aqueles assassinatos lá, são as centenas de filmes sobre satanismo da década de 1970. "A Chuva do Diabo" segue um dos mais subestimados e curiosos dessa safra. Fuest usa todos os elementos pulp da sua obra-prima anterior, "O Abominável Dr. Phibes" (hoje mais conhecida por ter sido homenageada pela banda do cara da Prevent Sênior) - da maquiagem fuleira ao vilão carismático - e te joga direto dentro da trama e da mitologia, sem se preocupar em contextualizar nada. Funciona porque já começa frenético, e envolve, se não por outra coisa, pelo mistério de tudo. Trocar a Inglaterra gótica do "Dr. Phibes" pelo deserto americano também é importante porque é fácil imaginar os bundas moles da Hammer pegando o mesmo conceito (um dos melhorzinhos deles, "As Bodas de Satã", tem uma trama muito semelhante) mas fazendo aquela coisa insossa e engessada de sempre. Ao invés disso, Fuest eleva o material com a ambientação de um faroeste espiritual, com uma grandiosidade operística reminiscente do Leone. Mesmo esdrúxulo e capenga (as mascaras de cera e a transformação do Borgnine em bode são muito engraçadas), tudo é levado mortalmente a sério. É curiosa também a atenção aos detalhes da liturgia satânica, que são apresentadas de forma, se não descaradamente simpática, pelo menos ambígua - inclusive, o mesmo satanista que deu a consultoria pro Polanski no "Bebê de Rosemary" não só também deu assistência irrestrita aqui como também faz uma ponta.

    As desgraças no set não foram poucas (além de ter sido a estreia de John Travolta, foi também supostamente onde ele se converteu à cientologia), e o fiasco de público e crítica (o otário do Ebert colocou na sua lista de filmes mais odiados, junto a todos os slashers e filmes do Carpenter) acabou com a promissora carreira de Fuest. Dali para a frente ele faria apenas televisão (que aliena as pessoas) e nada digno de nota. Ou seja, todo mundo é burro pra caralho desde sempre. Sabe como hoje em dia tudo é estrelado por jovens com cara de criança se passando por heróis? Esse é um daqueles filmes da velha guarda, um bando de idosos feios em um embate entre o bem o mal, como tinha que ser.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Baby Blood - 1990


Sinopse
: Quando uma estranha criatura se move no útero de uma mulher ela se torna uma assassina para alimentar o pequeno terror que cresce dentro dela.

Direção: Alain Robak

Elenco: Alain Robak Voix du monstre (as Roger Placenta), Christian Sinniger, Emmanuelle Escourrou Yanka







Download


720p>> Magnet Link

Ou

1080p>> Magnet Link


Legenda


Seguinte, essa versão é dublada em inglês (o idioma original é francês). Mas não faz diferença porque todo mundo atua mal ali. Mas, pra justificar: é a única legenda compatível e único arquivo restaurado em HD.


Comentário: Baby Blood está no limiar de perder o espectador. Vai longe demais, toda hora, mas se suportar aquele tom tosco e o visual grotesco desagradável, gradativamente conquista. É quase um percursor do movimento French Extremity (tipo como dizer que The Stooges é proto-punk). Talvez o que funcione é que, por mais fuleiro que seja em vários momentos, sensorialmente é como se evocasse (involuntariamente) Possessão, do Zulawski. Porque no fundo não deixa de ser um body horror feminino urbano, só que pontuado pelo gore e a fuleiragem. No fim, é aquela coisa quase terapêutica.