sábado, 11 de agosto de 2012

Exorcismo Negro - 1974

Sinopse: O cineasta José Mojica Marins, criador do personagem Zé do Caixão, decide passar o natal na mansão de campo de alguns amigos. Chegando lá, diversos fenômenos inexplicáveis começam a acontecer. Mojica investiga os acontecimentos e descobre que seu personagem se materializou no mundo real depois de um ritual satânico e que pretende tomar o seu lugar.

Direção: José Mojica Marins

Elenco:
José Mojica Marins
Agenor Alves
Alcione Mazzeo
Ariane Arantes




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José Mojica Marins é provavelmente um dos artistas mais incompreendidos da história do Brasil. Perseguido de forma sistemática durante a ditadura militar, impedido de fazer seu cinema, viu-se obrigado a sobreviver animando festas e eventos interpretando seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão, até o ponto de as novas gerações nem mais saberem que essa figura caricata e vítima de chacota foi, na verdade, um dos maiores cineastas brasileiros que já viveram.
 
            Semi-analfabeto, sem conhecimento teórico ou técnico sobre cinema e sem ter onde cair morto, Mojica produziu, de dentro um estúdio improvisado em uma sinagoga abandonada, em um país sem tradição de horror, ao menos duas obras-primas entre 1963 e 1967: “À Meia Noite Levarei Sua Alma”, filme de origem do personagem Zé do Caixão, e sua continuação, “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”. A partir deste, a bronca de Mojica com a censura começou: o governo exigiu um novo final “redentor”, onde o personagem Zé do Caixão, quase a personificação do überman nietzscheano, se arrepende de seus pecados e clama sua crença em deus. A situação piorou com seus próximos filmes: “O Estranho Mundo do Zé do Caixão”, de 1968, foi mutilado até o talo, e “O Ritual dos Sádicos”, de 1970, que deve ter sido demais para os miolos dos militares, foi simplesmente proibido.
             
     Mesmo com tantos problemas, Mojica ainda gozava de grade fama e relativo prestígio popular no início da década de 70 por conta de um programa de TV que apresentava na Rede Bandeirantes, o sugestivo “Além, Muito Além do Além” (uma cópia sem vergonha do "Alfred Hitchcock Presents" e "Além da Imaginação", lógico). Por conta disso, e também na carona do filme “O Exorcista”, Mojica foi convidado para reviver sua mais famosa criação em um filme que tinha como tarefa inglória competir com a película norte-americana naquele que seria seu trabalho mais "profissional", “Exorcismo Negro”. 
 
            Apesar de contar com um orçamento folgado e de uma equipe técnica experiente, elementos até então inéditos na carreira do diretor (e talvez justamente por causa disso), "Exorcismo Negro" não chega nem perto da qualidade artística dos seus predecessores, charmosos em sua tosquice. Ainda assim, é um filme extremamente corajoso dentro da produção cinematográfica brasileira da época (e até de hoje em dia, já que o cinema brasileiro, como todos vocês sabem, dá dois passos para trás a cada passo para frente). A história toda gira em torno do personagem Zé do Caixão criando vida e, como um Frankesntein do terceiro mundo, tentando destruir seu criador. No primeiro encontro entre criador e criatura, Mojica (que interpreta ambos papéis) mostra-se descrente e imagina que tudo não passe de uma alucinação, ao que Zé do Caixão responde “Mas qual é o problema? Você não acredita no que você faz?”. Essa pegada metalingüística gera questionamentos muito interessantes sobre a figura do realizador, sobre símbolos (no sentido junguiano do termo) e, principalmente, sobre o poder recriador da realidade do cinema (questões abordadas de forma semelhante no fraco "Delírios de Um Anormal", de 1978). 
 
         Por outro lado, é triste observar a imagem que Mojica tentava criar para si mesmo na ficção. Se na vida real ele era completamente ridicularizado pela crítica, no filme ele é tratado como um grande mestre do cinema nacional por jornalistas e intelectuais. Se na vida real Mojica tinha que dormir no estúdio por não ter condições de alugar um apartamento, no filme ele passa as férias em uma luxuosa mansão no interior. Se na vida real, Mojica mal sabia escrever o próprio nome, no cinema ele é um estudioso de psicologia e especialista em literatura inglesa, além de um exímio enxadrista. Não bastasse isso, Mojica nunca veria sua projeção do mundo das ideias tomar forma na vida real: apesar de certo reconhecimento internacional, por aqui Mojica ainda é alvo de escárnio e é lembrado, no máximo, por suas unhas compridas. Cabe a nós, como cinéfilos sérios, corrigir isso. Cabe a nós resgatar o legado do único diretor de filmes de terror sólidos do cinema brasileiro. Nosso país precisa de nós. Do contrário, será a vitória póstuma da censura, dos militares. E esse é um preço alto demais a se pagar.

3 comentários:

  1. Aviso aos visitantes: inexplicavelmente, o arquivo foi deletado do Rapidshare minutos depois dessa postagem ir ao ar. Já estou providenciando upar o arquivo para o 4shared e novamente para o rapidshare, em arquivo único. Aguardem.

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  2. Aprecio seu blog cara, mas com todo respeito, cuidado com a comparação que fez com a personagem de José Mojica com a concepção idealizada por Nietzsche. Não é plausível. Não se precipite com as concepções do filósofo antes de compreender sua obra como um todo.

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  3. Amigo, eu vi todos os filmes do Mojica, e a idéia do Zé do Caixão estar além do bem e do mal e etc encaixa muito bem na teoria do super-homem. Claro, o super-homem não lida com as questões do instinto e tudo mais como o Zé, por isso eu frisei que o Zé é quase o super-homem.

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comente naquela caixinha do lado, é mais legal.