segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Prisão de Cristal (Tras el Cristal) - 1986

 
Sinopse: Klaus, ex-oficial nazista - e se não bastasse, também um pedófilo e assassino de crianças - vive agora preso a um pulmão de ferro, necessitando de assistência constante. Um dia, um jovem misterioso se candidata à vaga de seu cuidador. O que ninguém sabe é que trata-se de um sobrevivente das torturas do oficial, que está não em busca de vingança, mas sim de perpetuar o legado de violência e barbárie de seu abusador.

Direção: Agustí Villaronga

Elenco: Günter Meisner
David Sust
Marisa Paredes
Gisèle Echevarría
Imma Colomer





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Comentário: Villaronga é uma espécie de Almodóvar do mal. Ambos são espanhóis, ambos  consagraram seu domínio narrativo na década de 1980 (Almodóvar lançou o ótimo "Matador", uma homenagem aos giallos, no mesmo ano), e ambos se valem de todo o espectro da sexualidade humana como ferramenta narrativa. Enquanto Almodóvar combina as próprias vivências e exageros satíricos para desconstruir certos signos masculinos, noções de masculinidade e enquanto veículo de empoderamento e autoafirmação da comunidade LGBTQIA+ (isso aqui já tá parecendo reunião de esquerdalha de DCE, desculpa aí leitor), Villaronga vai por outra vertente. Aqui, o prazer secreto, proibido, e o exercício do poder pela sexualidade são fontes de horror inesgotáveis. 
 
    "Prisão de Cristal" é um festival de atrocidades e barbaridades expostas com uma seriedade glacial. A frieza não vem só da predominância dos tons azulados da fotografia, mas do frio na espinha que provoca ao espectador. A violência quase nunca é explícita - à exceção de um momento específico onde num ritual voyeristico, Klaus se torna testemunha forçada da humilhação sexual, tortura e assassinato de um menino, em uma das cenas mais perturbadoras de toda a história do cinema -, mas a atmosfera é intensamente desconfortável e doloroso desde a abertura (onde vemos o holocausto da perspectiva de crianças e seus desenhos), e segue numa crescente descontrolada até atingir níveis insuportáveis (eu sou muito macho mas tive que pausar duas ou três vezes o filme pra tomar um ar). 
 
    Com escolhas estéticas que evidentemente homenageiam, entre outros, o mestre Argento, "Prisão de Cristal" é um drama desconcertante, uma abordagem única sobre ciclos de abuso e o que pode haver de pior no trauma: seu legado. É também um dos filmes mais incômodos de todos os tempos, e tenho um fato para sustentar essa afirmação: ele foi banido da AUSTRÁLIA.

Um comentário:

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