terça-feira, 31 de outubro de 2023

Vigília Paranormal (Ghostwatch) - 1992

Sinopse: Como parte de uma programação especial de Halloween, a BBC exibe um programa ao vivo, diretamente de uma casa tida como mal assombrada. Tudo muito bom, tudo muito divertido, até que o esperado acontece.

Direção: Lesley Manning

Elenco: Michael Parkinson
Sarah Greene
Mike Smith
Craig Charles
Gillian Bevan








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Comentário: O negócio é o seguinte: eu me caguei vendo isso. Literalmente. Fezes escorrendo, tive que chamar uma equipe pra lavar o sofá, uma vergonha. Não por causa da minha dieta rica em colesterol, enlatados e embutidos, mas sim porque "Ghostwatch" é genuinamente aterrorizante - e eu não sou o único a achar isso (digo à excelentíssima, que riu da minha cara enquanto eu assistia, mesmo tendo medo real do Freddy até hoje). Bastante controverso na época de sua exibição - que simula de forma impecável um programa ao vivo, em tempo real, de tal forma que se você perdesse a abertura com o disclaimer que se trata de uma ficção, acabaria num cenário tipo o "Guerra dos Mundos" do Welles -, teve sua reprise vetada pela direção da BBC graças à resposta negativa do público, que teve direito até a pelo menos um suicídio cuja carta de despedida citava nominalmente o especial como causa. Um estudo recente também concluiu que parte dos jovens, entre os 30 mil espectadores na sua exibição original, desenvolveram estresse pós-traumático. 
    Viadage dos britânicos à parte, o fato é que "Ghostwatch" é um exercício perfeitamente executado, se apropriando das melhores características analógicas de que dispõe o horror e usa para seu aproveitamento máximo; é muita encheção de linguiça pra pouca coisa, mas quando é a hora do vamos ver, os sustos não decepcionam. É um precursor assumido do "Bruxa de Blair" e de tudo que se seguiu, caído no esquecimento em parte pelas limitações do meio televisivo de então, em parte pela polêmica em que foi embalado, a mesma que paradoxalmente também assegurou seu legado.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Short Eyes - 1977

Sinopse: Pedófilo branco e burguês é mandado para cadeia junto com um bando etnicamente diverso de assassinos e afins. Aí já viu né.

Direção: Robert M. Young

Elenco: Bruce Davison
José Pérez
Nathan George    
Don Blakely
Luis Guzmán









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Comentário: Isso daqui é tipo um episódio do "Oz" (que fez mais para manter a criançada longe da criminalidade do que qualquer campanha educacional chegou perto) dirigido pelo Altman. É adaptado de uma peça, por isso espere poucos cenários e muitos monólogos - apesar de um deles, onde o pedófilo fala abertamente de suas atrações (tipo o Bolsonaro falando das meninas venezuelanas, só que proferidos por uma pessoa que sabe ler, escrever e usar talheres) ser de cair o queixo -, mas a direção do Young emana uma energia pulp intensa que faz a balança pesar mais pra um exploitation maduro do que um dramalhão que mira no Oscar. Perde força no seu clímax, quando o que era uma jornada pelo inferno se converte em um dilema moral saído direto do "Consciências Mortas", mas "Short Eyes" é mais um daqueles filmes policiais sujos da década de 70 que não se fazem mais; dinâmico, ágil, direto ao ponto, com ambições artísticas elevadas mas sem comprometer o fator entretenimento no caminho.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

O Estigma da Infâmia (Never Take Candy From a Stranger) - 1960

 AKA Never Take Sweets From a Stranger


Sinopse: Professor muda-se para idílico vilarejo no interior, mas quando sua filha é abusada pelo patriarca endinheirado da comunidade, vê-se abandonado e ameaçado por todos os habitantes.
 
Direção: Cyril Frankel
 
Elenco: Gwen Watford
Patrick Allen
Felix Aylmer
Niall MacGinnis
Alison Leggatt






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Comentário: Um dos poucos da Hammer que foge do horror gótico, também um de seus maiores fracassos - e, coincidência ou não, um de seus únicos filmes bons - "Estigma da Infâmia" diz muito em muito pouco tempo. Um dos primeiros filmes a lidar frontalmente com o tema espinhoso da pedofilia, abriu novas fronteiras temáticas para o cinema anglo-saxão, mesmo que alguns aspectos tenham se tornado datados (sendo o principal, e mais hilário, o pedófilo ser um velho gordo retardado babão careca totalmente demente). O horror aqui vem mais do pacto de silêncio de uma comunidade que se nega a encarar o mal que a cerca (é diretamente inspirado pelo "Inimigo do Povo" do Ibsen), mas seu clímax definitivamente é um dos mais genuinamente tensos, frenéticos e aterrorizantes da história do cinema. Uma preciosidade criminalmente subetimada, recomendada espcialmnte aos bolsonaristas, que adoram votar em velho rico carcomido que sente um clima quando rodeado de crianças..

domingo, 22 de outubro de 2023

Foi Deus Quem Mandou (God Told Me To) - 1976

Sinopse: Nova York começa a ser aterrorizada por uma série de massacres bárbaros e aparentemente sem sentido, cometidos por pessoas aparentemente normais, sem nenhuma relação entre si exceto pelo fato de todas alegarem que foram instruídas diretamente por Deus. O policial que está no caso aos poucos descobre que tem mais em comum com a investigação do que poderia imaginar.

Direção: Larry Cohen

Elenco: Tony Lo Bianco
Deborah Raffin
Sandy Dennis
Sylvia Sidney
Richard Lynch
Andy Kaufman




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Comentário: Começa daquele jeito fuleiro de sempre do Cohen, filmagem de guerrilha, campenguice total, trama policial suja no melhor estilo setentista (apesar do humor involuntário dos figurantes do filme interpretando estarem sendo alvejados no meio da rua enquanto vemos os habitantes já castigados de Nova York ao fundo, desavisados, entrando em pânico, quase uma pegadinha do Silvio Santos). Aos poucos, contudo, de forma surpreendentemente sóbria e segura começa a migrar do thriller para, acredite se quiser, uma das ficções-científicas mais bem boladas - e genuinamente provocadoras - do cinema americano. É um daqueles que se falar muito estraga, mas seu plot twist é merecido e convence em absoluto dos absurdos para os quais inevitavelmente descamba, em nada lembrando as obras mais célebres do Cohen, famosas justamente por seu pastelão. O Kurosawa (o que vale, no caso) meio que copiou na sua obra-prima "A Cura".

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

A Próxima Vítima - 1983

OBS: A versão original dessa postagem foi deletada por "violar as regras do blogger". A quem interessa nos calar?!
 
Sinopse: Livremente inspirado em caso real conhecido como “O Vampiro do Brás”, quando diversas prostitutas foram brutalmente assassinadas em São Paulo na década de 1980. Antonio Fagundes é o jornalista broxa esquerda caviar que está no caso.

Direção: João Batista de Andrade

Elenco: Antônio Fagundes
Louise Cardoso   
Mayara Magri
Othon Bastos
Gianfrancesco Guarnieri



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Comentário: 
 
     Dizia o Hitchcock que na estrutura narrativa do thriller era preciso sempre justificar o porquê, por exemplo, de determinado personagem não poder simplesmente pedir ajuda à polícia. Aqui, a brasilidade intervém no tema por simplesmente não precisar criar tais justificativas: essa é uma história de horror porque não há a quem pedir ajuda. É a mais pura sensação desesperadora de ser brasileiro traduzida no desolado Brás, uma ambientação que se torna também personagem. Fagundes - no auge da canastrice e carisma - aqui é o repórter idealista, cheio de cartazes do Ho Chi Minh em seu espaçoso apartamento, que aos poucos se despedaça nos cortiços claustrofóbicos e imundos do bairro paulista, o qual foi locação. O pano de fundo é o começo da redemocratização (tem até participação especial do Luladrão em comício), e o diabo não é o Jack Estripador latino, mas sim o torturador do DOPS (em atuação igualmente demoníaca de Othon Bastos), cujo aparato e poder adentra a natimorta Nova República, da qual será sempre uma sombra, tornando-se mais escura conforme a luz se torna mais clara. Esse contexto de crítica é selado pelo pacto mefistofélico ao qual, inevitavelmente, Fagundes (tão na sarjeta que, em dado momento, leva até mijada na cara) precisa recorrer.
    Marcado pelo pessimismo amargo mesmo em pleno momento de esperança, "A Próxima Vítima" é praticamente um  poliziotteschi nacional, compartilhando com os italianos seu subtexto político nem um pouco sutil, a misoginia de sempre e personagens brutalizados que habitam uma área moralmente cinza... mas falado em português, o que é bom pros nossos leitores que não conseguem ler mais que cinco palavras em sequencia sem precisar dar uma pausa.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Ghosts... of the Civil Dead - 1988

Sinopse: Episódios que levaram a um massacre em uma penitenciária privada de alta tecnologia na Austrália são reconstituídos por meio de dramatizações e entrevistas em áudio com os detentos que os testemunharam.

 
Direção: John Hillcoat

Elenco: David Field
Mike Bishop
Chris DeRose
Kevin Mackey    
Nick Cave

 

 

 

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Comentário: 
 
    "Abandonai toda esperança, vós que entrais: este é o Inferno". Apesar de suas bases factuais e objetivas, "Ghosts..." é talvez a melhor representação da clássica inscrição às portas do submundo descrita por Dante. O debut de John Hillcoat (coescrito por ninguém menos que Nick Cave, baseado em parte em suas próprias experiências como detento), é um retrato avassalador e ousado - tantos em termos formais quanto na abordagem material - da vida atrás das grades É uma grande colagem vinda de várias fontes diferentes que criam uma atmosfera de pesadelo, um fluxo de consciência não dos prisioneiros ou guardas, mas da própria cadeia. Dela em particular se destaca, também, a ambientação: concebida pela iniciativa privada para isolar os indivíduos mais asquerosos da Austrália, a Central Industrial Prison é um amálgama de todas instituições dessa natureza do país, cuja segurança máxima chega às raias da ficção-científica (ou, ao menos, do que o futuro se pareceria na perspectiva da década de 80).
    Em sua duração surpreendentemente diminuta, disfere um soco atrás do outro sobre a capacidade de opressão não só do Estado mas também das corporações. É bárbaro, violento, chocante, brutal - quase um body horror no que tange os efeitos da privação de liberdade no próprio corpo do apenado, relegado a ser um depósito de narcóticos para uns, fonte de prazer involuntário para outros, seja sexual ou no descarrego dos mais abomináveis impulsos violentos, em tal potência que nem o reaça otário tem estômago para aguentar. Tudo isso, apesar de certo senso de humor inerente, sem jamais descambar para o exploitation; é ao final uma reflexão bastante urgente sobre o porquê dos sistemas carcerários mundo afora sempre projetados dessa forma, que degrada, destrói, corrompe e jamais recupera.
    Também é, acima de tudo, a crítica mais perspicaz à lógica privatista liberal dos anos oitenta depois do "Robocop".