segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Prisão de Cristal (Tras el Cristal) - 1986

 
Sinopse: Klaus, ex-oficial nazista - e se não bastasse, também um pedófilo e assassino de crianças - vive agora preso a um pulmão de ferro, necessitando de assistência constante. Um dia, um jovem misterioso se candidata à vaga de seu cuidador. O que ninguém sabe é que trata-se de um sobrevivente das torturas do oficial, que está não em busca de vingança, mas sim de perpetuar o legado de violência e barbárie de seu abusador.

Direção: Agustí Villaronga

Elenco: Günter Meisner
David Sust
Marisa Paredes
Gisèle Echevarría
Imma Colomer





Download:
 
 
 
 
 
OU
 
 
 
 

Comentário: Villaronga é uma espécie de Almodóvar do mal. Ambos são espanhóis, ambos  consagraram seu domínio narrativo na década de 1980 (Almodóvar lançou o ótimo "Matador", uma homenagem aos giallos, no mesmo ano), e ambos se valem de todo o espectro da sexualidade humana como ferramenta narrativa. Enquanto Almodóvar combina as próprias vivências e exageros satíricos para desconstruir certos signos masculinos, noções de masculinidade e enquanto veículo de empoderamento e autoafirmação da comunidade LGBTQIA+ (isso aqui já tá parecendo reunião de esquerdalha de DCE, desculpa aí leitor), Villaronga vai por outra vertente. Aqui, o prazer secreto, proibido, e o exercício do poder pela sexualidade são fontes de horror inesgotáveis. 
 
    "Prisão de Cristal" é um festival de atrocidades e barbaridades expostas com uma seriedade glacial. A frieza não vem só da predominância dos tons azulados da fotografia, mas do frio na espinha que provoca ao espectador. A violência quase nunca é explícita - à exceção de um momento específico onde num ritual voyeristico, Klaus se torna testemunha forçada da humilhação sexual, tortura e assassinato de um menino, em uma das cenas mais perturbadoras de toda a história do cinema -, mas a atmosfera é intensamente desconfortável e doloroso desde a abertura (onde vemos o holocausto da perspectiva de crianças e seus desenhos), e segue numa crescente descontrolada até atingir níveis insuportáveis (eu sou muito macho mas tive que pausar duas ou três vezes o filme pra tomar um ar). 
 
    Com escolhas estéticas que evidentemente homenageiam, entre outros, o mestre Argento, "Prisão de Cristal" é um drama desconcertante, uma abordagem única sobre ciclos de abuso e o que pode haver de pior no trauma: seu legado. É também um dos filmes mais incômodos de todos os tempos, e tenho um fato para sustentar essa afirmação: ele foi banido da AUSTRÁLIA.

domingo, 30 de janeiro de 2022

O Silêncio do Lago (Spoorloos aka The Vanishing) - 1988

Sinopse: Tem lago nenhum nessa porra. A história é sobre um casal que está viajando e tem uma DR. Aí param numa conveniência e ela some. Aí vira o Rastros de Ódio, só que muito melhor.

Direção: George Sluizer

Elenco: Bernard-Pierre Donnadieu, Gene Bervoets, Johanna ter Steege








Download

Torrent (720p)>> Magnet Link

Legenda


Comentário: Paramos de postar por um bom tempo porque nos tornamos refinados. Hoje gostamos de música clássica, bons vinhos, vestir paletós, sapatos Oxford e cachecóis. Nas nossas noites rotineiras, mulheres (magras) nuas nos contemplam, enquanto fumamos, sem camisa, escorados no peitoril da janela. Cinema já não nos interessa tanto quanto literatura. Cansamos de dar lavagem (filmes) para os porcos (vocês). Rimos de vocês (porcos), chafurdando no nosso lixo. Mas voltamos, queremos dar uma lavagem (filmes) com doses homeopáticas de sofisticação, mas escondidas, para não assustar os porcos (vocês). Essa é uma tentativa. 'Ai, mas o filme é muito chato', vai embora então! Aqui é um lugar para porcos com força de vontade! Enfim, filmaço, porra, que filmaço.

sábado, 29 de janeiro de 2022

Premutos - O Anjo Caído (Premutos - Der Gefallene Engel) - 1997

 

Sinopse: Premutos é o primeiro dos anjos caídos. Com o objetivo de conquistar o reino dos vivos e dos mortos, ele reaparece pela história trazendo a peste, a miséria e a guerra. Nos tempos atuais, um jovem começa a ter alucinações onde se vê como o filho de Premutos. Ao encontrar um velho livro pertencente à sua família e frascos contendo um líquido misterioso (maligno) ele desperta uma velha maldição.

Direção: Olaf Ittenbach

Elenco: André Stryi
Christopher Stacey
Ella Wellmann
Anke Fabré
Fidelis Atuma





Download:
 
 
 

Comentário: Claramente o produto de um jovem bem intencionado - e com parcos recursos - querendo emular "Evil Dead", "Hellraiser", 'Braindead" - e infelizmente não ficando à altura de nenhum deles. Nunca atinge todo o potencial, mas tem uma abertura e um fechamento espetaculares em termos goreográficos e escatológicos, um prato cheio para os depravados. O miolo é arrastado, juvenil e inepto demais, mas no geral é um experiência obrigatória para os fãs, e um dos últimos filmes a encapsular aquele espírito libertário, caseiro e transgressor do horror dos anos 80/90. Um artefato arqueológico de uma era que teve um amargo fim.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Armadilha Para Turistas (Tourist Trap) - 1979

Sinopse: Quatro jovens têm problemas no automóvel e vão parar em um velho posto de gasolina numa estrada secundária, onde também funcionam um motel e um museu de cera. Ali, encontram um misterioso homem, o Sr. Slausen que pode ou não ter alguma relação com uma misteriosa figura mascarada que circula pelo local, matando turistas desavisados e transformando-os em manequins/zumbis.


Direção: David Schmoeller


Elenco: Chuck Connors, Jocelyn Jones, Jon Van Ness, Robin Sherwood



Download

1080p (1,23GB)>> Magnet link

Ou


720p (692MB)>> Magnet link




Comentário: Reúne piores elementos de Massacre da Serra Elétrica e plagia na cara dura várias coisas de House of Wax. Combinamos, não é lá uma equação muito convidativa. Mas funciona! Tudo isso porque assume a responsabilidade de tentar lançar o serial killer mais abobado de todos os tempos, e consegue. Não bastasse isso, ele tem poderes telecinéticos, o que torna tudo divertidamente inventivo — pense, a versão masculina caipira de Carrie retardada mental. Irresistível.
Vá lá, o início é meio arrastado, mas o final é puro entretenimento.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Miracle Mile - 1988

Sinopse: Após um desencontro com Julie, uma garçonete por quem está apaixonado, o jovem Harry entreouve uma conversa telefônica e descobre que a guerra nuclear entre EUA e União Soviética foi deflagrada e os mísseis serão detonados em uma hora. Segue a jornada frenética de Harry em busca de Julie pela última madrugada antes do fim do mundo.

Direção: Steve De Jarnatt
 
Elenco: Anthony Edwards
Mare Winningham    
John Agar    
Lou Hancock    
Mykelti Williamson
 
 
 
 
 
 
Download:

Magnet (Br-rip, 1,23Gb)

Legenda PT-BR


Comentário: Da safra memorável de horror e ficção-científica americana da década de 1980, um ponto fora da curva. O pouco celebrado "Miracle Mile" é uma mescla insólita entre terror apocalíptico e comédia romântica ("Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo" é seu herdeiro light), que funciona surpreendentemente bem. Projeto de paixão de novato Jarnatt, que chegou a bancar cenas adicionais do próprio bolso - e que jamais voltou a fazer algo relevante -, o roteiro rolou pelos estúdios por quase dez anos, passando de segmento do filme do "Além da Imaginação" ao completo abandono pelo final depressivo do qual Jarnatt não abria mão. Ainda bem. É a intensidade - e a esperteza engraçadinha - do desfecho que dá credibilidade a todo o tom trágico e frenético do romance dos protagonistas. 

                   "Miracle Mile" é aquela miscelânea que tem tudo pra dar errado - mas que funciona. Embalado por uma das últimas trilhas do lendário Tangerine Dream, todos os atos se costuram de maneira perfeita, da comédia romântica simpática, à busca alucinada por Los Angeles com ares de filme de ação, ao final obrigatório das ruas tomadas por hordas homicidas de todos os apocalipses já imaginados. Uma preciosidade excêntrica, produto envergonhado dos grandes estúdios que só poderia ter sido feito nos anos 80 e entregue com um cuidado quase artesanal. Pena que o leitor daqui não tem e nem vai ter namorada, porque seria nossa recomendação pra uma sessão amorzinho e tal.

Mermaid Legend (Ningyo Densetsu) - 1984

Sinopse: Migiwa é uma ama - as tradicionais mergulhadoras que buscam pérolas na costa japonesa, conhecidas por sua aptidão excepcional de fôlego e nado. Quando o marido de Migiwa é assassinado por se recusar a vender sua terra para a construção de uma usina nuclear, Migiwa planeja sua vingança. Quer dizer, "planeja" é um termo forte; ela parte para matar tudo e todos.
 
Direção: Toshiharu Ikeda
 
Elenco: Mari Shirato     
Kentarô Shimizu     
Jun Etô     
Seiji Miyaguchi     
Junko Miyashita
 
 
 
 
 

Download:
 
 
 
 
 
Comentário: Para o gosto de alguns, um filme chato pra cacete no seu desenvolvimento (normalmente quem reclama desse tipo de coisa é o espectador ameba e tal, mas nesse caso específico confesso que posso engrossar o coro), e também tem aquela bizarrice das bolas foscas cobrindo as partes íntimas da protagonista (coisa de japonês). Porém todo sofrimento será recompensado: "Mermaid" nos brinda com um dos clímaxes mais sanguinolentos, selvagens e anárquicos da história do cinema. É um banho de sangue desenfreado capaz de fazer melar a cueca de todos nós doentes e depravados. Um espetáculo memorável e inesquecível, confiem em mim, quando foi que eu menti pra vocês?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Last Shift - 2014

Sinopse: Acompanha a policial Jessica Loren, que está cobrindo o último turno em uma delegacia de polícia. Porém, mal sabe ela que três almas assombram o local.


Direção: Anthony DiBlasi


Elenco: Juliana Harkavy, Erica Lea, J. LaRose, Joshua Mikel






Download


1080p (1,4GB)>> Magnet Link

720p (760MB)>> Magnet Link

Legenda


Comentário: Se nos esforçamos o suficiente podemos perceber quais os vícios que deterioraram o cinema em cada um dos seus gêneros. No terror, um dos recursos mais vulgares é certamente o jump scare. Além de ser um truque fuleiro por si, a falta de criatividade conseguiu tornar o método ainda mais previsível porque praticamente adotou uma cartilha de cenas formulaicas. Por isso, quando um filme começa com essa palhaçada já desanima. O que não é o caso de Last Shift, que sim, apela para o jumpscare, ou melhor, o recurso é martelado ao longo de sua hora e meia. Contudo, as vantagens dele diante de outros subprodutos precários são a ambientação e a atmosfera. O argumento pode até ser simplório, mas o espaço onde se desenvolve cria a condição de empatia pelo pavor primitivo do isolamento. Isso faz tudo funcionar.

domingo, 23 de janeiro de 2022

Síndrome do Mal (Rampage) - 1987

Sinopse: Apesar de católico e contrário à pena de morte, promotor se vê obrigado a pedi-la para um assassino irrecuperável chamado Charles Reece, que foi pego pela polícia após deixar uma trilha de cadáveres mutilados.


Direção: William Friedkin


Elenco: Michael Biehn, Alex McArthur, Nicholas Campbell, Deborah Van Valkenburgh







Download


VHSRip (3,2GB) - Legenda embutida>> Magnet Link


ou




Informações sobre o arquivo: Exclusividade do blog. Esse filme é um inferno para se encontrar na internet e as legendas disponíveis são incompatíveis. O que fizemos para resolver: ripamos de um dvd, que por sua vez era uma conversão do VHS lançado no Brasil na década de 80. As boas notícias: tem legenda embutida e por mais VHS que seja, creio ser a melhor cópia disponível do filme na rede mundial de computadores. Ah, na hora de ripar mantive os trailers originais para a experiência ser mais plena. Bom filme, seus reaças, porcos!



Comentário: Se um dia você enfim encontrar seu pai biológico, leitor, talvez esse filme seja apropriado para fazer uma sessão com ele. Primeiro, a alta carga de violência desagradável certamente deixará ambos excitados. Segundo que no final, sendo vocês dois reacionários, poderão comentar como esse filme prova que a "justiça é falha e esse pessoal dos Direitos Humanos...". 
O que salva Rampage é a estrutura e o argumento (indiferente da posição do filme). Mas no geral é medonho, apesar da direção correta, em termos de condução. A trilha do Morricone passa também, embora seja uma das menos inspiradas. Fora isso, serve mais como pegadinha. Todo mundo que chegou até aqui foi enganado por algum arrombado que disse que era um dos melhores filmes do Friedkin só porque é obscuro. Repasse. 

Curiosidade/Spoiler: não bastasse essa porra ser um manifesto reacionário descarado, não satisfeito, o Friedkin decidiu reeditar anos depois porque aparentemente achou a mensagem sutil demais. Não assisti essa versão alternativa, mas segue descrição do blog diadafuria.wordpress.com: "No final do filme, logo após o discurso sobre sair da prisão, não há mais o suicídio do personagem central, e sim uma carta mandada à família de um dos mortos, convidando-os a aparecer para uma visita, e um letreiro informando o espectador que o tal serial killer poderá sair da cadeia em seis meses, caso seja liberado pelos psiquiatras".

Para vossa tristeza, não é essa versão que trazemos. 

sábado, 22 de janeiro de 2022

Alucarda - A Filha das Trevas (Alucarda - La Hija de las Tinieblas) - 1977

Sinopse: A órfão Justine chega a um convento no México no final do século XIX e se torna objeto de afeição da misteriosa Alucarda. Enquanto a relação de ambas se intensifica, o contato com um grupo de ciganos nos arredores faz despertar em ambas forças demoníacas.

Direção: Juan López Moctezuma

Elenco: Claudio Brook    
David Silva    
Tina Romero    
Susana Kamini    
Lili Garza 







Download:
 


Comentário: 

    Não se deixe enganar pelos primeiros minutos, que parecem ter sido gravados nos estúdios do Chaves - "Alucarda" é um nunsploitation dos bons, e com uma coisa ou outra a dizer. Na carona do estilo "freiras surtadas" do controverso "Os Demônios", "Alucarda" constrói a atmosfera do claustro como um delírio febril, onde tudo é intenso, imediato e fantástico, algo ressaltado pelos diálogos artificiais e efeitos surreais grotescos (sem falar no orçamento diminuto). 

    É também uma espécie de resposta à misoginia do "O Exorcista". Já foi apontado por alguns que lá a possessão pode ser encarada como uma metáfora para o despertar sexual feminino - que precisa ser contido à força por figuras patriarcais. Aqui, a selvageria latino-americana subverte totalmente essa lógica. É o amor puro entre Justine e Alocarda que fazem as duas se tornarem sacerdotisas do cramunhão, em contraste com a vida repressiva do convento, e é justamente o catolicismo que torna esse despertar para os prazeres da vida em algo destrutivo e macabro. Em um toque particularmente comovente, é o amor cristão genuíno de uma terceira jovem freira - e não a farsa institucionalizada da Igreja comandada por padres furiosos - que poderia ter salvo todos de um final ÉPICO em selvageria, uma "Carrie" que registra toda sua crueldade como só um  filme que não tem nada a perder consegue.

    É uma história de freiras lésbicas adoradoras do diabo com aquele clima transgressor chinelão gostoso, um final espetacularmente sanguinolento e 1h18(!!!) de duração, eu não sei mais o que vocês podem querer.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Nemesis: O Exterminador de Andróides (Nemesis) - 1992

Sinopse: No futuro (2027, pode acontecer!!!), Alex Rain é um policial parte homem, parte máquina que atua em Los Angeles combatendo terroristas cibernéticos. Quando seus superiores lhe incumbem de eliminar a líder do grupo de ciborgues, Alex começa a desconfiar e ninguém se importa com a trama, essa é a verdade.


DireçãoAlbert Pyun. 


Elenco: Olivier Gruner, Tim Thomerson, Cary-Hiroyuki Tagawa








Download

1080p (1,44GB)>> Magnet Link

Ou

720p (750MB)>> Magnet Link




Comentário: O John Woo já contou que aprendeu a teoria do cinema basicamente roubando um monte de livro na infância. Dá pra dizer que Nemesis é talvez um vislumbre do que seria o John Woo se não houvesse roubado esses livros e fosse um analfabeto de qualquer conceito artístico. Talvez, inclusive, seja a definição da filmografia do Albert Pyun. E olha que não é nem demérito, porque dá pra sentir a sinceridade. 
O filme mais famoso do Pyun é o Ciborgue, com o Van Damme (possivelmente o melhor filme protagonizado pelo próprio, inclusive), mas Nemesis é certamente sua obra máxima. Além de ser O Pyun no prime de sua versão John Woo retardado, é o suco de tutti-frutti da década de 90: cabelos horrorosos, óculos escuros em tudo que é lugar com design medonho e ação abusando de slow motion, faíscas com ricochetear dos tiros, e cenas de impacto tipo personagem escorregando em barranco (duas vezes, um de lama e outro de terra) enquanto atira contra os inimigos. O enredo é só refugo de coisas que deram certo em filmes mais rebuscados da década anterior. O nível de infantilidade assumida é tão descarado que, de uma sequência pra outra, os personagens vão de uma fábrica abandonada, pruma floresta tropical, depois uma cachoeira, depois uma montanha de neve, e imediatamente prum vulcão ativo. Tudo isso em menos de 10 minutos. Pra fechar com chave de ouro rola uma cena de embate com um stop motion esforçado.
No início da década de 90, Nemesis já era amálgama e molde para o que viria a ser a estética da ação nos anos 90. Talvez aí haja um reconhecimento que nunca atribuímos ao filme de Pyun, possivelmente também porque a década de 90 acabou sendo o aterro do cinema com a popularização do VHS.
De qualquer forma, serve como experiência pessoal definitiva sobre qual é a sua opinião sobre a década, porque os primeiros segundos do filme já são uma pancada sensorial que vai resgatar tudo de nostálgico ou traumático que lhe remete os anos 90.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Desespero (The Incident) - 2011

AKA Asylum Blackout


Sinopse: Um grupo de funcionários de um hospício ficam presos junto aos internos durante uma intensa tempestade.

Direção: Alexandre Courtès

Elenco: Rupert Evans, Kenny Doughty, Joseph Kennedy, Dave Legeno, Richard Brake, Marcus Garvey, Anna Skellern

DOWNLOAD


Comentário: Courtès faz sua estreia no cinema depois de uma carreira em videoclipes, mas o resultado lembra mais o estilo dos filmes do roteirista S. Craig Zahler: câmera parada e paciente, levando o seu tempo para revelar as salas e corredores claustrofóbicos que em breve se tornarão o lar de um pesadelo, assim como as sequências mais pesadas, em um caos controlado de ultraviolência e efeitos práticos. O diálogo atinge um tom naturalista, pois remete aos elementos autobiográficos de vivência do próprio Zahler, que já trabalhou em cozinhas (local de trabalho dos protagonistas) e é músico (personagens têm uma banda). A ambientação oitentista resgata o exploitation pé no chão, de um período pré-celular, e não essas palhaçadas modernas que forçam a barra.  Richard Brake não precisa de uma linha de diálogo para justificar o porquê do protagonista ser tão avesso à sua presença. Uma adição bem feita ao subgênero prisão/manicômio que não tem pressa em passar tempo com seus  personagens antes de os condicionarem a destinos terríveis.


Female Prisoner #701: Scorpion (Joshuu 701-gô: Sasori) - 1972

Sinopse: Após ser abusada e tentar se vingar, Nami Matsushima é enviada para uma prisão controlada por guardas sádicos. Durante uma rebelião, Matsushima consegue fugir e então vai atrás dos responsáveis por sua prisão.

Direção: Shun'ya Itô

Elenco: Akemi Negishi, Fumio Watanabe, Hideo Murota, Isao Natsuyagi, Meiko Kaji Nami Matsushima











Download

720p (800MB)>> Magnetic Link

1080p (1,45GB)>> Magnetic Link




Comentário: É aquela coisa de sempre que algum idiota vai dizer que o Tarantino se apropriou. Se apropriou, de fato, em alguns aspectos, mas ainda bem porque fez melhor proveito.
É bem representativo no nicho de exploitations asiáticos da década de 70, mas não vai muito além disso. Então terá todo o pacote que se espera, das asiáticas peladas que você postava no Tumblr achando que era aesthetic, zooms em efeitos grotescos de mutilação, substâncias viscosas sendo derramadas e digeridas por um monte de gente e gargalhadas caricatas de personagens sádicos porque aparentemente é a única forma de os japoneses conseguirem simbolizar as diferenças comportamentais de quem comete uma barbárie rotineira. Rola também um espancamento suspeito de um cachorro nos primeiros cinco minutos de filme.
Cabe, no entanto, exaltar o visual, que chama a atenção, em parte pela magnífica restauração, cujo ruído ressaltado agregou à estética toda. O diretor também não é um completo abobado, tem coisa vanguardista ali, se você se prestar a querer dar esse crédito a ele. 
Enfim, esse filme é o primeiro de uma quadrilogia. O único que presta. 

domingo, 16 de janeiro de 2022

Eu Matei Lúcio Flávio - 1979


Sinopse: Mariel Mariscöt é um salva-vidas no Rio de Janeiro na década de 1970. Após uma briga em um bar que chama atenção do lendário detetive Le Cocq, ele é escalado para integrar os Homens de Ouro - o primeiro esquadrão da morte brasileiro. No grupo, bancando por deputados cariocas influentes e pelo regime militar com o objetivo de exterminar a marginália, Mariscöt se torna obcecado por Lúcio Flávio, notório ladrão de carros e assassino, figura carimbada dos tabloides da época. No entanto, ele começa a se tornar uma ameaça para as mesmas elites que o criaram quando descobre que Lúcio Flávio é um peixe pequeno um esquema muito maior ligado ao governo. Baseado em fatos reais (mais ou menos).

Direção: Antônio Calmon

Elenco: Jece Valadão
Monique Lafond
Anselmo Vasconcelos
Vera Gimenez
Otávio Augusto



Download:


OU



Comentário: 

    Eis um legítimo exploitation brasileiro (com tudo que o "brasileiro" implica). Lançado dois anos depois da versão mais "madura" da mesma história ("Lúcio Flávio - Passageiro da Agonia", do Babenco), "Eu Matei Lúcio Flávio" se aproveita do sucesso de bilheteria daquele e da figura mitológica de Lúcio - nosso Jesse James tardio, ou Lampião moderno - para ser palco de um festival de barbaridades, violência grosseira, canastrice sem limites (o grande Jece Valadão personifica à perfeição essa escrotice) e uma explosão berrante de cores e música brega. É um filme particularmente explícito nas denúncias à ditadura brasileira, que longe de ser um "pulso firme" contra os foras da lei, era muito mais o próprio monopólio da criminalidade, já que o criminoso que ia pra vala era só o que não pagava sua porcentagem da pilhéria, mas está  naquele limiar perigoso entre a crítica e a homenagem. 

    Se a história da picaretagem dos milicos é conhecida, a matança psicótica promovido por Mariscött é retratada num ritmo tão vibrante, empolgado e enérgico que a dúvida se instaura em qual exatamente é o ponto do filme. De minha parte, sem reclamações: é uma trama tão imunda, perversa, com tanta violência, estupros e aquela coisa toda que vocês querem, e conduzida de forma tão carismática por Valadão que é impossível não simpatizar e se divertir, nem que seja pelo shock value

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Night of the Juggler - 1980

Sinopse: Filha de ex policial é sequestrada ao ser confundida com a filha de um milionário. Ao longo de um dia, o pai vai travar uma cruzada frenética em busca do psicopata que a levou, custe o que custar.
 
Direção: Robert Butler
 
Elenco: James Brolin (sim o pai do bicho roxo lá)    
Cliff Gorman     
Richard S. Castellano     
Linda Miller     
Joseph Carberry 
 
 
 
 
 
 

Download:

 
OU
 
 



Links alternativos para a legenda:

 
 
OBS: Falando sério galera, a legenda contém diversas expressões extremamente racistas e misóginas - com as quais não compactuamos - mas que foram preservadas e traduzidas da forma mais fiel possível em nome da integridade do texto original, que, à sua maneira, lida também com tensões raciais.


Comentário: 
 
    "Night of the Juggler", uma espécie de "Céu e Inferno" pra fãs do Michael Bay (burros), poderia facilmente ser confundido com uma ficção-científica distópica pós-apocalíptica... mas é apenas mais um thriller ambientado na Nova York dos anos 80 em toda a sua perturbadora e gloriosa imundície, degradação e violência. O filme parte de uma premissa conhecida - o pai desesperado em busca de sua filha sequestrada -, mas é impossível traduzir exatamente (eu que o diga, que fiz essa porra de legenda) a energia caótica, anárquica, raivosa e agressiva da atmosfera. É herdeiro direto das tramas policiais irritadas nova-iorquinas setentistas ("The Taking of Pelham One Two Three" e a sequência do "Operação França" vem à mente), mas com toda a decadência radioativa pela qual a cidade passou.
 
    Nova York em si é uma personagem, de maneira pouco sutil; o vilão (em uma interpretação particularmente grotesca de Cliff Gorman) trabalhador dos esgotos, os ricos completamente isolados nas coberturas, os bairros proibidos, os privilegiados, e todos os membros desses espaços desafiando a estrutura imposta cruzando suas fronteiras. É um lixão tão orgânico que nada me convence que algumas das sequências não foram gravadas de forma clandestina nas ruas, captando a reação verdadeira dos transeuntes - já que a ficção jamais poderia conceber toda essa estranheza. É um caos hipnótico, frenético, um surto em forma de filme tanto na estrutura quanto na mensagem. Lado a lado caminha a luta de classes marxista explícita, e do outro todas as fantasias reacionárias da extrema-direita no seu grau mais anabolizado (esse aspecto curioso me lembrou do injustiçado "Dragged Across Concrete").
 
    Talvez seja reflexo dos tumultos atrás das câmeras: produção paralisada por dois anos porque o protagonista quebrou o pé numa cena de perseguição (se cuida Tom Cruise), e uma troca interminável de diretores (do Frankenheimer e descendo até o desconhecido e desaparecido Butler). Isso pode explicar porque esse filme sumiu do espaço-tempo (eu próprio só fiquei sabendo porque o Sean Baker recomendou na conta dele no letterboxd), mas certamente não explica como diabos isso ainda não conseguiu  devido culto a essa altura do campeonato. Enfim, aceito elogios pela primeira e única tradução para o português dessa pérola. Juro que fiz meu melhor para captar o delírio febril que é "Night of the Juggler".

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

The Untold Story (Bat sin fan dim: Yan yuk cha siu bau) - 1993

AKA The Eight Immortals Restaurant: The Untold Story 

 
Sinospe: Em Macau, na década de 1970, a polícia começa a investigar uma série de desaparecimentos, além de pedaços de corpos que começam a ser encontrados pela cidade. É a obra de Wong Chi-hang (Anthony Wong), um psicopata que usa os corpos de suas vítimas para fazer deliciosos baos e vende-los no seu restaurante.
 
Direção: Herman Yau
 
Elenco: Anthony  Wong     
Danny Lee     
Emily Kwan     
Julie Lee     
Fui-On Shing
 
 
 
Download:
 
 
 
 
Comentário: Um dos mais emblemáticos da era tardia dos category III, "The Untold Story" - supostamente baseado em fatos reais - é um filme indigesto (*som de bateria*). Anthony Wong carrega nas costas esse festival de atrocidades - que vão do estupro, tortura, assassinato em massa e canibalismo de minuto em minuto. Tem todo o clima desprezível e imundo dos piores exploitations, gore desagradável de sobra, uma atmosfera completamente escrota e doentia... e praticamente nenhuma característica redentora fora o próprio culhão em ser o filme mais depravado que poderia ser sem a menor vergonha. Pra piorar, a história do psicopata dono de restaurante que alimenta seus clientes com suas vítimas (inclusive crianças) é intercalada com o hilário alívio cômico - os policiais atrapalhados e cheios de tesão investigando o caso - mais deslocado que cebola em salada de fruta. Esses são os policiais heroicos que ao final mandam o assassino para cadeia - com confissão obtida sob torturas bárbaras e perturbadoras -, onde ele é novamente torturado de forma escatológica até a morte. Ou seja, o filme perfeito para esse blog. Recomenda-se tomar um banho após a sessão.
 
Ah, esse mesmo pessoal gente boa depois fez o "Síndrome de Ebola" que é quase a mesma coisa... mas um pouco mais pesado.

domingo, 9 de janeiro de 2022

The Sea and Poison (Umi to Dokuyaku) - 1986

Sinopse: Japão, década de 1940. Um hospital civil referência em tratamentos pulmonares se prepara para realizar um experimento de vivissecção em prisioneiros americanos. Dois jovens residentes se dividem quanto a participar da monstruosidade. Baseado em fatos reais.
 
Direção: Kei Kumai

Elenco: Eiji Okuda    
Ken Watanabe    
Takahiro Tamura    
Kyôko Kishida    
Mikio Narita 








Download:

 
 
 
Comentário: 

    A princípio é de se estranhar que o classudo "Sea and Poison" seja absolutamente desconhecido enquanto o ignóbil clássico das locadoras de bairro "Campo 731", e suas sequências ainda piores, tenham notoriedade quase mitológica. A comparação vem de ambos terem sido produzidos mais ou menos pela mesma época, baseados em atrocidades reais que os japoneses cometeram na Segunda Guerra Mundial e os dois se valem da violência gráfica chocante como recurso narrativo (a do presente filme mais bem feita e comedida, contudo). Porém, há um motivo para você não ter ouvido falar dele. Enquanto o "Campo" foi financiado pelo governo chinês e amplamente distribuído pelo mundo com função propagandista antinipônica (nesse caso justificável até se for parar para pensar), "Sea and Poison" foi feita de forma praticamente independente dentro de um Japão mal resolvido com a sua história, onde qualquer menção da participação do país no conflito era (e ainda é) um tabu inominável.
     
    Após seu lançamento e subsequente controversa, a distribuição foi soterrada pelo estúdio e a coisa morreu. Uma pena. Trata-se de uma pequena obra-prima atmosférica com direção - perdão pelo trocadilho - cirúrgica e belíssima fotografia em preto e branco. A apuração minuciosa dos detalhes - oriundas da vasta pesquisa realizada por Shûsaku Endô, autor do "Silêncio", para seu romance homônimo - é secundária à fábula moral no cerne do filme. Quando médicos respeitados decidem puxar o saco dos milicos oferecendo sua então imaculada instituição para servir de palco para uma atrocidade, o interesse de Kumai se volta para a perspectiva de dois jovens e idealistas residentes que são cooptados para serem cúmplices. Entre os dois, o profundo conflito entre o desejo de participar do "progresso" científico envolvido em vivissecar seres humanos e agradar seus mestres, do outro a obviedade monstruosa do ato. 

    É difícil para nosso cérebro mensurar e compreender a magnitude de hecatombes como o holocausto (a morte de muitos é uma tragédia, a de milhões uma estatística, já diria o camarada Stalin), por isso "Sea and Poison" se dedica a estudar em uma escala reduzida como pessoas normais podem tomar parte em crimes atrozes. Apesar da postura diametralmente oposta dos "inocentes" Toda e Suguro, ambos sucumbem ao mal diante do verniz institucional (o exército, o imperador, o hospital, os mais velhos e sábios) e também, finalmente, pela perversa lógica utilitarista liberal (já que esses prisioneiros americanos seriam condenados à morte por fuzilamento, por que não aproveitar?)

    "Sea" é uma preciosidade, construída com uma calma silenciosamente tensa à qual muitos de nossos leitores inteligentíssimos certamente acusarão de ser chata e blá blá blá, por isso jogo um ossinho para vocês: aqui temos algumas das cenas mais intensas, bizarramente realistas e doentias de cirurgias já realizadas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Catástrofe Nuclear (Threads) - 1984

Sinopse: O holocausto atômico da perspectiva de uma cidade industrial nos subúrbios da Inglaterra. Vai achando que é pouco...


Diração: Mick Jackson


Elenco: Karen Meagher    
Reece Dinsdale
David Brierly    
Rita May    
Nicholas Lane

 

 

 

 

Download:

Magnet (Br-rip, 2,24Gb)

Legenda PT-BR 

 

Comentário:

     Eu, como redator desse blog, achei que nessa busca incessante pelo que há de mais doentio, depravado e intragável nos confins da história do cinema tinha visto de tudo, mas nada poderia me preparar para a experiência de assistir "Threads". Produzido pela BBC (e se não fossem os planos fechados e quadradões, você jamais imaginaria que é feito para TV), é uma espécie de exercício especulativo sobre o que aconteceria, longe das metrópoles, caso houvesse uma escalada fatal nas tensões nucleares na Guerra Fria. O primeiro ato, com muita calma, estabelece um bairro classe operária nos subúrbios industriais ingleses, seus habitantes e fragmentos de noticiários que vão dando conta da política internacional. Essa parte pode parecer arrastada para alguns, mas é fundamental porque, no seu tom semi-documental, quase neorrealista, conquista credibilidade para mostrar suas cartas adiante...

    O recente "Don't Look Up", escrito antes da pandemia, errou consideravelmente nas previsões quando o assunto é a reação do populacho à crises globais. "Threads" acerta em cheio. As opiniões controversas e as prateleiras de papel higiênico vazias nos mercados, quando um ataque nuclear parece iminente, são imagens que ressoarão forte no espectador de 2022. Esse mal estar involuntário é um aperitivo do que está por vir. Com amplo respaldo científico, o que segue é uma representação, nos mínimos detalhes, de como exatamente seria esse cenário - feito em uma época onde isso parecia efetivamente inevitável. De forma totalmente sóbria, distanciada, livre de sentimentalismo barato, vemos uma sociedade se reduzir a seu nível mais bárbaro e brutalizado numa lentidão dolorosa. Primeiro os efeitos imediatos (a destruição, os feridos), adiante os efeitos da radiação, a quebra das cadeias de fornecimento, o fim da ordem estabelecida, e assim vamos, gerações adiante nesse possível apocalipse, onde o mais aterrorizante acaba sendo não o fim da humanidade, mas sim a sua continuidade.

    Há quem queira em definir "Threads" como uma ficção-científica - e esses não tem a menor ideia de nada. O grande Kurt Vonnegut disse certa feita que os críticos insistiam em classifica-lo como um autor de gênero apenas porque ele "não ignorava os avanços tecnológicos como os vitorianos ignoravam o sexo", e essa é a chave para compreender a lição cuidadosa de Mick Jackson. Esses cenário pode até não se concretizar (nunca dá pra descartar nada), mas se fosse pra ser, é assim que seria. É a realidade nua, crua e documental de um futuro que não aconteceu, apenas. 

    "Threads" poderia ser apenas um cautionary tale (e não deixa de ser, também) mas é tão agressivamente perturbador, indigesto, aterrorizante e deprimente que está num seleto panteão de filmes que não são considerados "chocantes" gratuitamente, lado a lado, por exemplo, do soviético "Vá e Veja". Claro que não quero comparar com aquele em méritos técnicos e artísticos ("Threads" está longe de ser perfeito enquanto cinema), mas sim no mérito da experiência de assisti-lo ser um trauma, uma FACADA NO FÍGADO (marca registrada), certamente mais desesperador e violento que 90% dos filmes nesse blog. No meu mundo ideal, é isso que passariam nas escolas para as crianças (junto com o Ilha das Flores).

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Jogos de Estrada (Road Games) - 1981

Sinopse: Pat é um caminhoneiro que, ao lado de seu inseparável dingo, Bosworth, costuma, para matar o tempo, fazer uma brincadeira que consiste em tentar adivinhar as profissões e vidas dos seus companheiros de viagem nas infinitas estradas do outback australiano. Após o sumiço de uma caroneira, ele começa a suspeitar que um dos motoristas que ele observa pode ser um serial killer procurado.


Direção: Richard Franklin


Elenco: Stacy Keach    
Jamie Lee Curtis    
Marion Edward    
Grant Page




Download:

 


Comentário: "Road Games" é um filme bastante incomum. Não por sua trama, que não tem nada de novo ou incrível - é praticamente um "Janela Indiscreta" dos pobres (caminhoneiros) -, mas no tom. É um ozploitation Sessão da Tarde (se quando criança eu vi o "Robocop" de tarde na Globo, esse tinha chances mesmo de ir pra curadoria - e por favor esquecer da existência do "Mad Max 3"). É tudo na medida certa: da canastrice do protagonista - e da fofura do dingo de estimação - ao tom do macabro, capaz de agradar tantos os leitores calejados desse blog quanto as mães que moram com eles.
    A exemplo do clássico de Hitchcock, o foco é quase que totalmente no protagonista e na sua crescente paranoia, não no pretenso psicopata - algo fundamental, já que para o suspense funcionar é preciso haver empatia. A violência é mais sugerida do que mostrada, apesar disso, graças ao bom desenvolvimento da trama e do espaço a tensão chega a níveis extremos. Um filme plenamente satisfatório em termos de divertimento, e fico feliz de, embora dando um spoiler, avisar: nada de ruim acontece com o dingo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A Caçada do Futuro (Turkey Shoot) - 1982

Sinopse: Numa sociedade fascista do futuro (1995 kkk), regida por uma sangrenta ditadura, todos os cidadãos que se rebelam contra o governo autoritário são imediatamente encaminhados a um "centro de modificação de comportamento" - na verdade, um violento campo de concentração, onde são humilhados, torturados e forçados a trabalhar. Um dos prazeres do chefe do campo é selecionar os melhores prisioneiros para servirem de alvo em caçadas humanas. O problema é que um dos alvos selecionados é o revolucionário Paul Anders, que começa a virar o jogo a favor dos prisioneiros.

Direção: Brian Trenchard-Smith

Elenco: Carmen Duncan Jennifer, Michael Craig, Noel Ferrier, Steve Railsback



Download

1080p: Link magnético

Legenda


Comentário: Uma das obras-primas do Ozploitation, que ficou famosa por sua produção controversa, onde utilizaram munição real em algumas (ou várias cenas), ferindo alguns dublês, mas sem nenhuma alecbaldwinzação. 

Mas é a chinelagem convicta de tudo que torna o filme saboroso demais. O enredo é tão ordinário que a violência é só a tônica assumida mesmo, até resguarda a putaria (consegue evitar o estupro, veja só, coisa rara nos exploitation) para priorizar de uma vez a selvageria. E quando você vê a versão australiana do Sargento Pincel descendo o sarrafo numa mulher — possivelmente menor de idade — sabe que vem coisa especial. Aí quando aparece um lobisomem, do nada, com roupas civis, parece uma progressão bem natural. 


Esse


Um mérito nunca percebido no filme também é praticamente simular um campo de concentração numa distopia bolsonarista estabelecida. É quase inspirador como demonstra que seria um terreno propício e acessível para uma revolução social.

Até nas similaridades físicas o filme é eficiente, afinal o lugar é administrado pelo sósia do senador Luis Carlos Heinze e do general Heleno, cujo personagem, numa das sutilezas do filme, se chama Thatcher — no Reino Unido, aliás, o filme foi lançado com o nome de Blood Camp Tatcher e fez muito sucesso kkk. E acaba sendo fidedigno ao que seria um cenário desses: uma bagunça do caralho. Os caras querem ordem e não conseguem nem escravizar direito o pessoal, no meio da tarde mandam tudo os prisioneiros pro dormitório, liberam a fornicação de boa. E ainda deixam o trabalho no meio do expediente pra espairecer no mato, perambulando com umas carangas anacrônicas CÓPIAS FAJUTAS do design do Gurgel e se divertindo numa caçada? Que mamata. Mas o mais folgado mesmo é o lobisomem de meia idade acima do peso, cansado e sem consciência de classe (prefere trajes civilizados, cabelo escovado, e usar artes marciais ao invés dos privilégios da espécie), vagabundo mesmo.

Nessa sequência, guiado pelo sargento Pincel, o senador Heinze entra no mato achando que ia conseguir estuprar a moça (mas, mais uma vez, o filme evita o estupro). Porém, acaba falecendo com um tirambaço no saco e carbonizado no rancho queimado

Pra finalizar, os bastidores desse filme reservam uma das melhores anedotas do cinema (se for real): em um dos takes de uma cena que a personagem vai decepar a mão armada do sargento Pincel, durante a gravação, no movimento do facão, o diretor teria dito 'cut' para cortar a cena, e a atriz entendido cut para cortar o braço do ator, que teria salvo a mão por milímetros. Uma pena, valeria o sacrifício.