sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Last Ghost Standing (Gwai Ching Lei Tai Hei) – 1999

Sinopse: Na véspera do Ano Novo de 2000, um cinema tem sua última sessão. Coisas estranhas ocorrem quando forças malignas ficam insatisfeitas com a qualidade dos filmes modernos.


Direção: Siu-Hung Chung


Elenco: Simon Lui, Sherming Yiu, Francis Ng, Pinky Cheung









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Comentário: O que sempre chamou a atenção e me tornou devoto do cinema de Hong Kong foram sua energia e criatividade. Não importa o gênero ou dinheiro envolvido, sempre haverá algo, seja numa mísera cena ou alguma mudança de tom brusca gigantesca... a certeza invariável é de iminentemente bater uma empolgação que supera qualquer filme realizado em qualquer outra parte do mundo. 
Obviamente que mesmo uma produção de baixo orçamento como essa, em uma locação com equipe pequena de amigos, iria fazer minha cabeça, porque simplesmente transborda de energia hongkonguiana da qual sou submisso, mesmo praticamente não possuindo um enredo e apostando num humor extremamente juvenil. O encantamento que esse proporciona é o de ser espancado incessantemente por tudo que é jogado na nossa cara a cada segundo. Para ter uma noção do que estamos lidando, digamos que a introdução transpira ares poéticos dignos de Wong Kar-Wai, e esse tom progressivamente vai ser distorcido a ponto de surgir um sósia do Jackie Chan caçador de fantasmas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A Ilha das Almas Selvagens (Island of Lost Souls) - 1932

Sinopse: Náufrago acaba em ilha habitada por monstruosidades, híbridos entre humanos e animais criados pelo maligno Dr. Moreau. Adaptação do clássico de H. G. Wells, mas bastante superior a este porque, ao contrário do romance, aqui tem uma gostosa.

Direção: Erle C. Kanton

Elenco: Charles Laughton
Richard Arlen
Leila Hyams
Bela Lugosi
Kathleen Burke







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Comentário: Não consigo me imaginar como espectador na década de 1930, mas se naquela época o pessoal se cagou achando que o trem ia sair da tela no filme dos Lumiére, deve ter rolado desmaios e ataques cardíacos na sessões da "Ilha das Almas Selvagens" porque essa porra se mantém genuinamente aterrorizante até para os padrões modernos. Nada de sustos explícitos e essas merdas, mas o visual das criaturas (para os ignorantes que nunca leram a obra seminal do Welles, animais selvagens mutilados e condicionados violentamente até tornarem-se humanoides) choca pelo grotesco, somando-se também seus sons - cuidadosamente elaborados misturando, invertendo e distorcendo grunhidos de animais com dialetos nativos -, que resultam em uma sensação desconcertante.
    As situações e como é organizada a sociedade das aberrações são fiéis ao livro, com a bem-vinda exceção da Mulher-Leopardo. Você pode evidentemente imaginar que ela foi concebida enquanto apelação rasteira para atrair o público masculino, mas, intencionalmente ou não, sua presença adiciona uma nova dimensão às provocações originalmente propostas por Wells. Excluindo a frescuragem vitoriana, esse elemento voluptuoso (o plano do Moreau é fazer o protagonista transar com a dita cuja, com a intenção de provar ser capaz de criar um ser humano completo, ou seja, que sinta até tesão - pois é -, enquanto paralelamente induz o Homem Gorila a estuprar a mocinha com o mesmo intento) aproxima o debate sobre ética científica da sórdida realidade mundana, muito mais mesquinha que qualquer autor poderia supor. Não à toa, esse foi um dos primeiros filmes banidos e censurados mundo à fora, sendo vetada sua exibição nos cinemas suecos até hoje, por exemplo. Tamanha repercussão levou à elaboração do infame Código Hays, que moralizou o cinema norte-americano até a década de 1960.
    Além do elemento sexual, a obra também se eleva sobre a narrativa de Wells pela presença do Charles Laughton, cuja interpretação hipnótica enche os olhos, esbanjando carisma e alegria em ser um filho da puta - tornando-o facilmente um dos maiores vilões da história do horror. Ah, e tudo isso tem só 1h10min de duração.


PS: "A Ilha das Almas Selvagens" foi a primeira de dezenas de adaptações da "Ilha do Dr. Moreau" - e também a única boa - mas essa é mais uma oportunidade de recomendar o documentário "Lost Soul - The Doomed Journey of Richard Stanley's Island of Dr. Moreau", sobre um dos fracassos mais espetaculares e fascinantes dessa coisa que chamamos de arte.