domingo, 3 de dezembro de 2023

A Maldição do Necrotério (The Boneyard) - 1991


Sinopse: Detetive convence uma sensitiva renovada a ajudá-lo a resolver uma série de crimes. Quando os dois vão a um necrotério examinar os corpos de algumas vítimas, ficam presos, junto com os funcionários, nos seus porões e são atacados por três crianças orientais vítimas de uma maldição (ou mais uma maldição, além de serem orientais) que as transformam em terríveis seres (piores do que orientais!).

Direção: James Cummins

Elenco: Deborah Rose, Denise Young, Ed Nelson, James Eustermann




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>> 720p:  Magnetic Link

Legenda

Mas quem é macho mesmo assiste essa versão podre com estética de VHS: https://www.youtube.com/watch?v=napUy3lHacw


Comentário: Por alguns detalhes The Boneyard não logra de maior reconhecimento. Um deles é o anacronismo: foi lançado tarde demais para conseguir sustentar seu clímax em animatônicos e cedo demais para se destacar com sua combinação de gore e humor. Também sofre de alguns problemas de condução, seu ritmo é irregular e as cenas movimentadas passam rápido demais.
Mas tudo de bom que poderia se pedir em pleno auge do VHS está ali: bastante sombra e textura carregada; elementos narrativos típicos, como protagonista detetive cansado e sidekick com poder paranormal (embora espertamente sutil, nesse caso) e atribuição de maldições a imigrantes.
Mas o maior destaque certamente são os efeitos e a maquiagem — as crianças mendiguinhas canibais ficaram ótimas.
Ah, e se você conhece esse filme provavelmente é por dois motivos: ou viu no SBT ou já viu essa famigerada capa abaixo. E apesar desse pôster suscitar uma tranqueira da década de 70 que ninguém teria paciência de ver, a aparição da criatura é digna! O poodle gigante zumbi é bem feito e a sequência é divertida. Diria, inclusive, que é o melhor uso de um poodle gigante da história do cinema (chupa Ang Lee, seu bosta).

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Long Live Life (Viva La Vie) - 1984

Sinopse: No auge da Guerra Fria, dois franceses que jamais se conheceram, um homem e uma mulher, acordam - aparentemente teleportados - no meio de um deserto, a milhares de quilômetros de suas casas. O mistério chama ainda mais a atenção do mundo quando ambos revelam que, gravados no seu inconsciente, está um ultimato de uma raça alienígena exigindo a eliminação do arsenal atômico do planeta. 

Direção: Claude Lelouch

Elenco: Charlotte Rampling
Michel Piccoli
Jean-Louis Trintignant
Evelyne Bouix
Charles Aznavour




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Comentário: Uma obscuridade curiosa, recheada com o melhor elenco que a França poderia oferecer. Começa daquele jeito francês de sempre, meio ressaca da novelle vague, meio lembrando a filmografia do Godard dos anos 80 (deus me livre), só que aí vai adentrando a ficção-científica apocalíptica e... bom, esse é um daqueles que depende exclusivamente do seu plot twist final (que é bem bolado), mas o leitor que não é retardado (eleitor do bolsonaro), vai sacar bem rápido porque um certo celebrado autor barbudo copiou o negócio de uma forma até chocante de tão descarada. Opa, os fãs do Zack Snyder podem antecipar o final também, então sim, esse é um filme acessível a todos, até os retardados.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

The Man Who Stole The Sun (Taiyô wo Nusunda Otoko) - 1979

Sinopse: Excêntrico professor escolar começa a construir em sua casa, secretamente, uma bomba atômica. Uma vez pronta, ele passa a se divertir chantageando o governo japonês com exigências esdrúxulas e banais. Aos poucos, seu comportamento se torna cada vez mais errático e imprevisível, o que leva um implacável detetive da polícia a caça-lo, mas seu maior inimigo é outro: a contaminação radioativa, que vagarosamente começa a se manifestar...

Direção: Kazuhiko Hasegawa

Elenco: Bunta Sugawara
Kenji Sawada
Kimiko Ikegami
Kazuo Kitamura
Shigeru Kôyama



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Comentário: Escrito pelo irmão menos católico do Shcrader, "O Homem Que Roubou o Sol", em bom português, é uma montanha-russa emocional. Cada estágio da trama tem, mesmo que não declaradamente, um tom e estilo distinto, quase como se fossem vários filmes costurados em um (ou um filme dirigido linearmente por múltiplos diretores). Termina de uma forma sangrenta, brutal e apocalíptica (útima cena memorável, diga-se), em nada lembrando o ato anterior onde o professor se diverte mantendo o mundo de refém, ao que também se seguiu à fabricação do artefato nuclear, aí sim, um autêntico filme de assalto (e com mais interesse na ciência, por exemplo, do que a também fabricação de uma bomba atômica no "Oppenheimer", pra citar algo contemporâneo). Essas mudanças às vezes são desconcertantes, e somando-se a isso certos maneirismos do cinema japonês que ocasionalmente nos parecem alienígenas (sem falar na duração, só meia hora a menos que o... "Oppenheimer"), fazem do "Homem..." uma experiência por vezes desafiadora, mas amplamente recompensadora. Não é o melhor filme já feito, mas há algo nele estranhamente memorável, daqueles que ficam na lembrança mesmo anos depois de terem sido vistos, mais duradouro até do que filmes objetivamente melhores... como o "Oppenheimer".

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Joe - Das Drogas à Morte (Joe) - 1970

 
Sinopse: Ao procurar sua filha, fugida de casa, o bem sucedido empresário Bill Compton confronta e acidentalmente mata o namorado da moça (um hippie sujo passa fome). O único a saber o autor do crime é Joe, um operário reaça baixa renda que se vale da informação para se aproximar de Bill.  Apesar de Bill acreditar que Joe irá chantageá-lo, Joe é na verdade movido por uma sincera admiração, e logo a amizade entre os dois ganha contornos perigosos.

Direção: John G. Avildsen

Elenco: Susan Sarandon
Dennis Patrick
Audrey Caire
Peter Boyle
K Callan 



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Comentario: "Táxi Driver" misturado com "O Pentelho". Essa espécie de comédia com tons de exploitation setentista assinada por Avildsen (do "Rocky" e também de muitas bostas) é um daqueles filmes que chocam porque todas as falas do personagem de Peter Boyle, um chão de fábrica fudido conservador e transbordando de raiva, o reflexo distorcido do working class hero, parecem extraídas diretamente do zap do seu tio. Mas não é dele que o filme ri; o foco da trama de "Joe" tem muito mais a ver com o personagem de Dennis Patrick: típico eleitor do PSDB, se vê como civilizado mas que vota no Bolsonaro sem pensar duas vezes porque "o PT não dá", que depois de um ato de violência é forçado a conviver com por entre as entranhas do populacho. O que a princípio faz única e exclusivamente para tentar suavizar a possibilidade de uma futura chantagem, logo se transforma em um autêntico laço fraterno que junta o pior em dois homens, e o patético de Bill ganha contornos mais claros quando se percebe que tudo parte da carência; em casa, ele perdeu todos os laços com sua família - em especial com sua filha, o debut de Susan Sarandon - mas é entre os pobretões que seus atos ganham respaldo e tornam-se fonte de orgulho.
    "Joe" é sobre a improvável amizade entre um membro da elite e um comedor de pão com leite condensado, e sobre como a relação entre ambos - e a subsequente crescente espiral de paranoia retroalimentada por ambos - os levará à consequências sangrentas (o clímax todo ao estilo Schrader se torna ainda mais engraçado por ser completamente grotesco e gratuito). É um filme constrangedor e divertido na medida certa, e até pode fazer pensar. Rolou na época a ideia de uma sequência onde o Joe, liberto de seu tempo de prisão (spoilers?) encara a vida com um olhar mais à esquerda, e é bom que não tenha sido feito apesar de promissor.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Jogos de Sangue (Blood Games) - 1990

Sinopse: Time feminino de softball disputa partida em cidadezinha tipo Nova Pádua, onde só mora bolsonarista. Aí é aquela coisa, os bolsonaristas, como é de se esperar, tentam violentar as moças, que revidam e o que segue é uma luta sangrenta em busca de sobrevivência.
 
Direção: Tanya Rosenberg
 
Elenco: Gregory Scott Cummins
Laura Albert
Lee Benton
Ross Hagen
George 'Buck' Flower





 
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Comentário: O rape revenge sempre foi o subgênero mais fácil de ser produzido pelos tranbiqueiros do audiovisual pelo fato de garantir notoriedade pelo shock value instantâneo ao mesmo tempo em que pode ser muito econômico (muito mais, por exemplo, do que seu slasher feijão com arroz). Na escala "I Spit On Your Grave" (que nunca postamos aqui mas que é sim o "Cidadão Kane" do esgoto), "Jogos de Sangue" se intersecta com o "Rituals" - ou seja, é acima de tudo um autêntico filme de sobrevivência, e um daqueles bons onde a tensão é constante, a violência perturbadora e o humor inexistente.
    O teor sexual é extremo e contraditório; a violência masculina é retratada de uma forma horripilante, grotesca mesmo quando comparada à seus predecessores. Simultaneamente, os corpos femininos são explorados e escancaradamente objetificados de forma tão erótica (tem até, por exemplo, insinuação lésbica no chuveiro com peitões - acoplados a belas atrizes - saltando na tela) que você pensaria, por um momento, estar vendo um filme italiano. Só que aí que está a pegadinha: "Jogos de Sangue" é assinado por uma mulher (inclusive, o único longa de Tanya Rosenberg, seja lá quem for), então ou essas contradições são conceitualmente intencionais ou tá liberado usufruir dessa sordidez sem culpa pois temos que valorizar nossas diretoras. 
    Ainda que pise com força no sexploitation, "Jogos de Sangue" é um filme curioso porque, sem qualquer pretensão, consegue empoderar de forma orgânica, humana e merecida suas personagens de forma muito mais convincente que qualquer uma dessas merdas politicamente corretas das Disneys da vida ao qual nós pobres homens estamos sendo submetidos. Também é, esteticamente, pertencente àquele curioso crepúsculo da década de 90, quando se diminuiam os excessos da década passada mas sem o barateamento técnico que estava prestes a chegar.

domingo, 5 de novembro de 2023

Mortos Que Matam (The Last Man on Earth) - 1964

Sinopse: É o "Eu sou a Lenda" só que com o Vincent Price (ou seja, melhor, porque o Smith sempre foi muito ruim).

Direção: Ubaldo Ragona

Elenco: Vincent Price
Franca Bettoia
Emma Danieli
Giacomo Rossi Stuart










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Comentário: A primeira adaptação do livro lá do Matheson, mesmo sendo uma italianagem picareta das grossas, é ainda sua melhor versão. A história parte do mesmo princípio: o Price, cientista, único imune a uma epidemia que transformou todo mundo em zumbi/vampiro/hippies albinos zoados (como na versão do Charlston Herston), durante o dia caça os infectados e procura uma cura, daí aparece a mulher do nada e etc etc. Como todo filme B italiano que se preze, o orçamento é zero e o Price é o único membro americano no elenco, enquanto o resto da produção inteira tenta desesperadamente convencer o espectador (e distribuidor) que trata-se de algo realizado em Hollywood. Como muito se fazia na Itália do pós-guerra, é adicionado aqui um componente político nem um pouco sutil: Price é o "último homem" num sentido de ser o último homem que goza de liberdade; a sociedade subterrânea que se formou entre os infectados, antes dos zumbis velocistas do Smith, tornou-se uma utopia fascista, na incansável busca pela eliminação do indivíduo. 
    "Mortos Que Matam" é um daqueles filmes pequenos que nos lembram do prazer de se assistir a um bom filme de fundo de quintal, que com seu arsenal de truques para driblar as limitações técnicas inspiram e reafirmam o cinema enquanto mágica. Não é preciso um orçamento bilionário para nos convencer de uma sociedade esvaziada, basta pagar uns trocados pro Price fazer monólogos em supermercados abandonados e ruas de manhã cedo que dá na mesma (até fica o alerta, porque o prazer da fruição ao ver esse filme será proporcional ao quanto o carisma do Price ressoa no espectador, já que ele representa 99% do que se vê em cena - mas o fã, como quem vos fala, é recompensado pelo glorioso final onde um Price com arpão atravessado na barriga grita com seus algozes, "EU SOU UM HOMEM"). Era um dos favoritos entre a filmografia do próprio Price e, se nada mais, serviu de inspiração direta pro "Noite dos Mortos Vivos", de acordo com o Romero em pessoa.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Vigília Paranormal (Ghostwatch) - 1992

Sinopse: Como parte de uma programação especial de Halloween, a BBC exibe um programa ao vivo, diretamente de uma casa tida como mal assombrada. Tudo muito bom, tudo muito divertido, até que o esperado acontece.

Direção: Lesley Manning

Elenco: Michael Parkinson
Sarah Greene
Mike Smith
Craig Charles
Gillian Bevan








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Comentário: O negócio é o seguinte: eu me caguei vendo isso. Literalmente. Fezes escorrendo, tive que chamar uma equipe pra lavar o sofá, uma vergonha. Não por causa da minha dieta rica em colesterol, enlatados e embutidos, mas sim porque "Ghostwatch" é genuinamente aterrorizante - e eu não sou o único a achar isso (digo à excelentíssima, que riu da minha cara enquanto eu assistia, mesmo tendo medo real do Freddy até hoje). Bastante controverso na época de sua exibição - que simula de forma impecável um programa ao vivo, em tempo real, de tal forma que se você perdesse a abertura com o disclaimer que se trata de uma ficção, acabaria num cenário tipo o "Guerra dos Mundos" do Welles -, teve sua reprise vetada pela direção da BBC graças à resposta negativa do público, que teve direito até a pelo menos um suicídio cuja carta de despedida citava nominalmente o especial como causa. Um estudo recente também concluiu que parte dos jovens, entre os 30 mil espectadores na sua exibição original, desenvolveram estresse pós-traumático. 
    Viadage dos britânicos à parte, o fato é que "Ghostwatch" é um exercício perfeitamente executado, se apropriando das melhores características analógicas de que dispõe o horror e usa para seu aproveitamento máximo; é muita encheção de linguiça pra pouca coisa, mas quando é a hora do vamos ver, os sustos não decepcionam. É um precursor assumido do "Bruxa de Blair" e de tudo que se seguiu, caído no esquecimento em parte pelas limitações do meio televisivo de então, em parte pela polêmica em que foi embalado, a mesma que paradoxalmente também assegurou seu legado.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Short Eyes - 1977

Sinopse: Pedófilo branco e burguês é mandado para cadeia junto com um bando etnicamente diverso de assassinos e afins. Aí já viu né.

Direção: Robert M. Young

Elenco: Bruce Davison
José Pérez
Nathan George    
Don Blakely
Luis Guzmán









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Comentário: Isso daqui é tipo um episódio do "Oz" (que fez mais para manter a criançada longe da criminalidade do que qualquer campanha educacional chegou perto) dirigido pelo Altman. É adaptado de uma peça, por isso espere poucos cenários e muitos monólogos - apesar de um deles, onde o pedófilo fala abertamente de suas atrações (tipo o Bolsonaro falando das meninas venezuelanas, só que proferidos por uma pessoa que sabe ler, escrever e usar talheres) ser de cair o queixo -, mas a direção do Young emana uma energia pulp intensa que faz a balança pesar mais pra um exploitation maduro do que um dramalhão que mira no Oscar. Perde força no seu clímax, quando o que era uma jornada pelo inferno se converte em um dilema moral saído direto do "Consciências Mortas", mas "Short Eyes" é mais um daqueles filmes policiais sujos da década de 70 que não se fazem mais; dinâmico, ágil, direto ao ponto, com ambições artísticas elevadas mas sem comprometer o fator entretenimento no caminho.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

O Estigma da Infâmia (Never Take Candy From a Stranger) - 1960

 AKA Never Take Sweets From a Stranger


Sinopse: Professor muda-se para idílico vilarejo no interior, mas quando sua filha é abusada pelo patriarca endinheirado da comunidade, vê-se abandonado e ameaçado por todos os habitantes.
 
Direção: Cyril Frankel
 
Elenco: Gwen Watford
Patrick Allen
Felix Aylmer
Niall MacGinnis
Alison Leggatt






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Comentário: Um dos poucos da Hammer que foge do horror gótico, também um de seus maiores fracassos - e, coincidência ou não, um de seus únicos filmes bons - "Estigma da Infâmia" diz muito em muito pouco tempo. Um dos primeiros filmes a lidar frontalmente com o tema espinhoso da pedofilia, abriu novas fronteiras temáticas para o cinema anglo-saxão, mesmo que alguns aspectos tenham se tornado datados (sendo o principal, e mais hilário, o pedófilo ser um velho gordo retardado babão careca totalmente demente). O horror aqui vem mais do pacto de silêncio de uma comunidade que se nega a encarar o mal que a cerca (é diretamente inspirado pelo "Inimigo do Povo" do Ibsen), mas seu clímax definitivamente é um dos mais genuinamente tensos, frenéticos e aterrorizantes da história do cinema. Uma preciosidade criminalmente subetimada, recomendada espcialmnte aos bolsonaristas, que adoram votar em velho rico carcomido que sente um clima quando rodeado de crianças..

domingo, 22 de outubro de 2023

Foi Deus Quem Mandou (God Told Me To) - 1976

Sinopse: Nova York começa a ser aterrorizada por uma série de massacres bárbaros e aparentemente sem sentido, cometidos por pessoas aparentemente normais, sem nenhuma relação entre si exceto pelo fato de todas alegarem que foram instruídas diretamente por Deus. O policial que está no caso aos poucos descobre que tem mais em comum com a investigação do que poderia imaginar.

Direção: Larry Cohen

Elenco: Tony Lo Bianco
Deborah Raffin
Sandy Dennis
Sylvia Sidney
Richard Lynch
Andy Kaufman




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Comentário: Começa daquele jeito fuleiro de sempre do Cohen, filmagem de guerrilha, campenguice total, trama policial suja no melhor estilo setentista (apesar do humor involuntário dos figurantes do filme interpretando estarem sendo alvejados no meio da rua enquanto vemos os habitantes já castigados de Nova York ao fundo, desavisados, entrando em pânico, quase uma pegadinha do Silvio Santos). Aos poucos, contudo, de forma surpreendentemente sóbria e segura começa a migrar do thriller para, acredite se quiser, uma das ficções-científicas mais bem boladas - e genuinamente provocadoras - do cinema americano. É um daqueles que se falar muito estraga, mas seu plot twist é merecido e convence em absoluto dos absurdos para os quais inevitavelmente descamba, em nada lembrando as obras mais célebres do Cohen, famosas justamente por seu pastelão. O Kurosawa (o que vale, no caso) meio que copiou na sua obra-prima "A Cura".

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

A Próxima Vítima - 1983

OBS: A versão original dessa postagem foi deletada por "violar as regras do blogger". A quem interessa nos calar?!
 
Sinopse: Livremente inspirado em caso real conhecido como “O Vampiro do Brás”, quando diversas prostitutas foram brutalmente assassinadas em São Paulo na década de 1980. Antonio Fagundes é o jornalista broxa esquerda caviar que está no caso.

Direção: João Batista de Andrade

Elenco: Antônio Fagundes
Louise Cardoso   
Mayara Magri
Othon Bastos
Gianfrancesco Guarnieri



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Comentário: 
 
     Dizia o Hitchcock que na estrutura narrativa do thriller era preciso sempre justificar o porquê, por exemplo, de determinado personagem não poder simplesmente pedir ajuda à polícia. Aqui, a brasilidade intervém no tema por simplesmente não precisar criar tais justificativas: essa é uma história de horror porque não há a quem pedir ajuda. É a mais pura sensação desesperadora de ser brasileiro traduzida no desolado Brás, uma ambientação que se torna também personagem. Fagundes - no auge da canastrice e carisma - aqui é o repórter idealista, cheio de cartazes do Ho Chi Minh em seu espaçoso apartamento, que aos poucos se despedaça nos cortiços claustrofóbicos e imundos do bairro paulista, o qual foi locação. O pano de fundo é o começo da redemocratização (tem até participação especial do Luladrão em comício), e o diabo não é o Jack Estripador latino, mas sim o torturador do DOPS (em atuação igualmente demoníaca de Othon Bastos), cujo aparato e poder adentra a natimorta Nova República, da qual será sempre uma sombra, tornando-se mais escura conforme a luz se torna mais clara. Esse contexto de crítica é selado pelo pacto mefistofélico ao qual, inevitavelmente, Fagundes (tão na sarjeta que, em dado momento, leva até mijada na cara) precisa recorrer.
    Marcado pelo pessimismo amargo mesmo em pleno momento de esperança, "A Próxima Vítima" é praticamente um  poliziotteschi nacional, compartilhando com os italianos seu subtexto político nem um pouco sutil, a misoginia de sempre e personagens brutalizados que habitam uma área moralmente cinza... mas falado em português, o que é bom pros nossos leitores que não conseguem ler mais que cinco palavras em sequencia sem precisar dar uma pausa.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Ghosts... of the Civil Dead - 1988

Sinopse: Episódios que levaram a um massacre em uma penitenciária privada de alta tecnologia na Austrália são reconstituídos por meio de dramatizações e entrevistas em áudio com os detentos que os testemunharam.

 
Direção: John Hillcoat

Elenco: David Field
Mike Bishop
Chris DeRose
Kevin Mackey    
Nick Cave

 

 

 

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Comentário: 
 
    "Abandonai toda esperança, vós que entrais: este é o Inferno". Apesar de suas bases factuais e objetivas, "Ghosts..." é talvez a melhor representação da clássica inscrição às portas do submundo descrita por Dante. O debut de John Hillcoat (coescrito por ninguém menos que Nick Cave, baseado em parte em suas próprias experiências como detento), é um retrato avassalador e ousado - tantos em termos formais quanto na abordagem material - da vida atrás das grades É uma grande colagem vinda de várias fontes diferentes que criam uma atmosfera de pesadelo, um fluxo de consciência não dos prisioneiros ou guardas, mas da própria cadeia. Dela em particular se destaca, também, a ambientação: concebida pela iniciativa privada para isolar os indivíduos mais asquerosos da Austrália, a Central Industrial Prison é um amálgama de todas instituições dessa natureza do país, cuja segurança máxima chega às raias da ficção-científica (ou, ao menos, do que o futuro se pareceria na perspectiva da década de 80).
    Em sua duração surpreendentemente diminuta, disfere um soco atrás do outro sobre a capacidade de opressão não só do Estado mas também das corporações. É bárbaro, violento, chocante, brutal - quase um body horror no que tange os efeitos da privação de liberdade no próprio corpo do apenado, relegado a ser um depósito de narcóticos para uns, fonte de prazer involuntário para outros, seja sexual ou no descarrego dos mais abomináveis impulsos violentos, em tal potência que nem o reaça otário tem estômago para aguentar. Tudo isso, apesar de certo senso de humor inerente, sem jamais descambar para o exploitation; é ao final uma reflexão bastante urgente sobre o porquê dos sistemas carcerários mundo afora sempre projetados dessa forma, que degrada, destrói, corrompe e jamais recupera.
    Também é, acima de tudo, a crítica mais perspicaz à lógica privatista liberal dos anos oitenta depois do "Robocop".

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Nas Sombras (Im Schatten) - 2010

Sinopse: Trojan é um ladrão profissional em busca de uma nova oportunidade  de fazer dinheiro. Ele entra em um arriscado plano de assalto a um carro-forte junto de antigos parceiros do crime.  

Direção: Thomas Arslan

Elenco: Misel Maticevic, Karoline Eichhorn, Uwe Bohm

 






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1,42gb(1080p)>> Link Direto


Comentário: Um filme policial minimalista sobre procedimento criminal. Parece chato né? Mas não é, porque pelo amor de deus, às vezes a gente só quer um filme interessante sem firulas ou virtuosismos técnicos e dramáticos, que é o que 'Nas Sombras' é. Mesmo assim, por mais 'seco' que possa parecer, é um filme que explora muito bem com sua fotografia digital gritante a arquitetura cinza envidraçada de Berlim, então tem uma textura narrativa bem pensada sim, em termos de atmosfera.
    Acaba que também é uma das melhores transposições (cópias) do universo criado por Richard Stark/Donald Westlake. Eu sei que esperar que vocês conheçam algo de literatura é demais, mas esse autor é pica, confia. Esse cara é famoso (não é) por uma série de pulp fictions sobre o ladrão Parker nos anos 60 (até o Godard, aquele arrombado, já adaptou pro cinema). 
    Enfim, essa série de livros hardboiled aí é um negócio finíssimo com uma construção de universo muito daora sobre submundo criminal, prosa econômica, muito direta, totalmente plot driven (pensa no John Wick só que feito nos anos 60). E esse filme aí não é adaptação não, mas é a melhor adaptação que não é adaptação disso aí. E como a maioria dos otário não leu, se assistirem vão dizer 'nossa, arthouse neorrealista, com influências do Melville'. Não, porra, é inspirado no pulp de essência mesmo.
    Mas voltando ao filme... tem toda a estrutura confortável de um bom thriller sem pentelhação... o protagonista é frio, calculista e extremamente profissional, naquele esquema de estar sempre um passo à frente de seus adversários. A trama começa no pique, com o passo a passo de um assalto.
    Enfim, uma pena esse filme... ter... ficado... ... ... nas sombras...... (mas também, esse capa não se ajuda, parece protagonizado pelo Mauro Cezar).

domingo, 23 de abril de 2023

A Breve Noite das Bonecas de Vidro (La Corta Notte delle Bambole di Vetro) - 1971


Sinopse: Quando sua jovem namorada desaparece misteriosamente na Itália, jornalista americano começa uma instigação frenética que o colocará em rota de colisão com poderosas elites.

Direção: Aldo Lado

Elenco: Ingrid Thulin
Jean Sorel
Mario Adorf
Barbara Bach
Fabijan Sovagovic







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Comentário: Um giallo bem acima da média. Superior à seus pares em classe, roteiro e atuações, “A Breve Noite das Bonecas de Vidro” é um thriller que apesar dos charmes inerentes a um horror italiano, tem os pés cravados mais nos clássicos do que nos delírios caleidoscópios e vibrantes de Argento e Bava - ou na sordidez doentia do Fulci. A trama sólida - que, acredite se quiser, o Kubrick parece copiado na cara dura para seu  “De Olhos Bem Fechados” - envolve principalmente por um truque espertinho da narrativa que, sem entrar em muitos detalhes, se encerra num dos finais mais desoladores e traumáticos do suspense europeu.

terça-feira, 4 de abril de 2023

O Chicote e o Corpo (La Frusta e il Corpo) - 1963

Sinopse: Em um decadente castelo no interior da Rússia (onde estranhamente todos falam italiano), condessa é assombrada pelo fantasma de seu cunhado, o Conde Meliff (Lee), com quem mantinha um relacionamento sadomasoquista.

Direção: Mario Bava

Elenco: Daliah Lavi
Christopher Lee
Tony Kendall
Evelyn Stewart
Harriet Medin







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Comentário: É o mestre Bava no auge da sua forma, pré-giallo e pós-Hammer. É uma de suas obras quintessenciais (diz Lee ser o filme favorito em que atuou), entrega o que se espera na exuberância visual e inventividade técnica, e também o que se espera da trama esculhambada e melodramática - apesar de aqui ser um pouco mais perversa que o restante de sua filmografia. É também um pináculo da pilantragem dos italianos, aqui inovando ao adotarem todos nomes anglófilos na esperança de enganarem o público americano, fazendo-os pensar que tratava-se de um lançamento da Hammer. Enfim, horror gótico dos bons.

terça-feira, 14 de março de 2023

Laurin - 1989

Sinopse: Interior da Alemanha, virada do século XIX. Lurin, uma menina solitária, começa a ter sonhos e visões aterrorizantes que prenunciam uma tragédia violenta. Logo, crianças começam a desaparecer e apenas ela pode deter o responsável.

Direção: Robert Sigl

Elenco: Dóra Szinetár
Brigitte Karner
Károly Eperjes
Hédi Temessy
Barnabás Tóth







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Comentário: É aquele terror-não-terror com crianças de sempre (onde acontecimentos brutais e complexos são ressignificados pela ótica da criança na sua suposta inocência). É eficiente na sua estrutura de slow-burn onírico: começa com crianças ceifadas, as visões de Laurin prenunciando futuras desgraças e a câmera sempre nos mostrando aquele prego exposto na escada do sótão... Para bom entendedor meia palavra basta e a trama aqui se torna óbvia - de morte em morte sabemos que a punição final se dará naquele prego, mas a graça são os sonhos que fazemos pelo caminho. À parte da sua atmosfera convincente, "Laurin" se sobressai pela intensidade melancólica do fatalismo da narrativa. Também é bem curto e tem padre se ferrando.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Os Sete Gatinhos - 1980

Sinopse: Noronha é funcionário público e patriarca de uma família de seis. Cidadão exemplar, ele complementa a renda doméstica prostituindo suas filhas, na esperança de dar uma vida luxuosa à caçula da família - por quem nutre intensas fantasias incestuosos. Uma crise se instala, porém, quando a jovem é expulsa de um internato por mutilar uma gatinha de rua e seus filhotes. Noronha passa a suspeitar que o objeto de seus desejos possa não ser mais virgem, e consequências violentas se avizinham quando alguém começa a desenhar pirocas com asas nas paredes do banheiro da casa.

Direção: Neville d'Almeida

Elenco: Lima Duarte
Antônio Fagundes
Ana Maria Magalhães
Ary Fontoura
Regina Casé
Luiz Fernando Guimarães

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Opção 2 (link alternativo do mesmo release)


Comentário: Já recomendamos muitos filmes desprezíveis aqui no blog, como vocês bem sabem. Desde sanguinoleiras francesas, escrotices chinesas, várzeas italianas, putaria japonesa... pois não há nada de ruim que outros países não façam que nós, brasileiros, não possamos fazer pior. Baseado na peça de Nelson Rodrigues, "Os Sete Gatinhos" é possivelmente um dos filmes mais doentios, grotescos e desagradáveis já queimados em celuloide. 
     O asco se instaura quase que imediatamente no espectador, mas tal qual ao passar por um acidente de carro ou ocorrência policial, se torna impossível desviar os olhos a cada novo e inacreditável desdobramento da narrativa. Não é tanto pelo enredo, que é recorrente nas peças do Rodrigues e suas respectivas adaptações (inclusive recomendo entusiasticamente o "Bonitinha, Mas Ordinária" de 1981, que tem essa cena maravilhosa), mas pelo tom; a estrutura é disciplinada (mesmo que surtada e febril), enquanto todo o resto é tão frontalmente agressivo, ofensivo, subversivo - aliás eu raramente uso esse termo - e não apologético que a repugnância chega a se converter em admiração. Cada cena acrescenta uma nova dimensão de perversão, e a somatória caminha de forma lenta e segura para a aniquilação da família enquanto instituição. Sempre foi fácil retratar os burgueses como os monstros, mas aqui se desmascara o populacho mesmo, o horror que se esconde nos lares da classe trabalhadora, entre os filtros de barro e as inquebráveis duralex. Mesmo que o aspecto satírico seja escancarado (por trás de toda família vestindo camisa da seleção brasileira se escondem as mais abjetas das depravações), Neville conduz suas personagens de forma tão realista que tudo se torna imediatamente crível, até em seus momentos mais absurdos - isso em grande parte graças à interpretação do Lima Duarte, que é uma das mais hipnóticas e memoráveis do cinema nacional (apesar de né, a competição ser quase inexistente).
    Para o leitor que vorazmente consome enlatados - metafóricos e literais -, "Os Sete Gatinhos" é uma acolhedora refeição caseira, do jeito que só a mamãe sabe fazer.