segunda-feira, 29 de maio de 2023

Nas Sombras (Im Schatten) - 2010

Sinopse: Trojan é um ladrão profissional em busca de uma nova oportunidade  de fazer dinheiro. Ele entra em um arriscado plano de assalto a um carro-forte junto de antigos parceiros do crime.  

Direção: Thomas Arslan

Elenco: Misel Maticevic, Karoline Eichhorn, Uwe Bohm

 






Download

1,42gb(1080p)>> Link Direto


Comentário: Um filme policial minimalista sobre procedimento criminal. Parece chato né? Mas não é, porque pelo amor de deus, às vezes a gente só quer um filme interessante sem firulas ou virtuosismos técnicos e dramáticos, que é o que 'Nas Sombras' é. Mesmo assim, por mais 'seco' que possa parecer, é um filme que explora muito bem com sua fotografia digital gritante a arquitetura cinza envidraçada de Berlim, então tem uma textura narrativa bem pensada sim, em termos de atmosfera.
    Acaba que também é uma das melhores transposições (cópias) do universo criado por Richard Stark/Donald Westlake. Eu sei que esperar que vocês conheçam algo de literatura é demais, mas esse autor é pica, confia. Esse cara é famoso (não é) por uma série de pulp fictions sobre o ladrão Parker nos anos 60 (até o Godard, aquele arrombado, já adaptou pro cinema). 
    Enfim, essa série de livros hardboiled aí é um negócio finíssimo com uma construção de universo muito daora sobre submundo criminal, prosa econômica, muito direta, totalmente plot driven (pensa no John Wick só que feito nos anos 60). E esse filme aí não é adaptação não, mas é a melhor adaptação que não é adaptação disso aí. E como a maioria dos otário não leu, se assistirem vão dizer 'nossa, arthouse neorrealista, com influências do Melville'. Não, porra, é inspirado no pulp de essência mesmo.
    Mas voltando ao filme... tem toda a estrutura confortável de um bom thriller sem pentelhação... o protagonista é frio, calculista e extremamente profissional, naquele esquema de estar sempre um passo à frente de seus adversários. A trama começa no pique, com o passo a passo de um assalto.
    Enfim, uma pena esse filme... ter... ficado... ... ... nas sombras...... (mas também, esse capa não se ajuda, parece protagonizado pelo Mauro Cezar).

domingo, 23 de abril de 2023

A Breve Noite das Bonecas de Vidro (La Corta Notte delle Bambole di Vetro) - 1971


Sinopse: Quando sua jovem namorada desaparece misteriosamente na Itália, jornalista americano começa uma instigação frenética que o colocará em rota de colisão com poderosas elites.

Direção: Aldo Lado

Elenco: Ingrid Thulin
Jean Sorel
Mario Adorf
Barbara Bach
Fabijan Sovagovic







Download:




Comentário: Um giallo bem acima da média. Superior à seus pares em classe, roteiro e atuações, “A Breve Noite das Bonecas de Vidro” é um thriller que apesar dos charmes inerentes a um horror italiano, tem os pés cravados mais nos clássicos do que nos delírios caleidoscópios e vibrantes de Argento e Bava - ou na sordidez doentia do Fulci. A trama sólida - que, acredite se quiser, o Kubrick parece copiado na cara dura para seu  “De Olhos Bem Fechados” - envolve principalmente por um truque espertinho da narrativa que, sem entrar em muitos detalhes, se encerra num dos finais mais desoladores e traumáticos do suspense europeu.

terça-feira, 4 de abril de 2023

O Chicote e o Corpo (La Frusta e il Corpo) - 1963

Sinopse: Em um decadente castelo no interior da Rússia (onde estranhamente todos falam italiano), condessa é assombrada pelo fantasma de seu cunhado, o Conde Meliff (Lee), com quem mantinha um relacionamento sadomasoquista.

Direção: Mario Bava

Elenco: Daliah Lavi
Christopher Lee
Tony Kendall
Evelyn Stewart
Harriet Medin







Download:




Comentário: É o mestre Bava no auge da sua forma, pré-giallo e pós-Hammer. É uma de suas obras quintessenciais (diz Lee ser o filme favorito em que atuou), entrega o que se espera na exuberância visual e inventividade técnica, e também o que se espera da trama esculhambada e melodramática - apesar de aqui ser um pouco mais perversa que o restante de sua filmografia. É também um pináculo da pilantragem dos italianos, aqui inovando ao adotarem todos nomes anglófilos na esperança de enganarem o público americano, fazendo-os pensar que tratava-se de um lançamento da Hammer. Enfim, horror gótico dos bons.

terça-feira, 14 de março de 2023

Laurin - 1989

Sinopse: Interior da Alemanha, virada do século XIX. Lurin, uma menina solitária, começa a ter sonhos e visões aterrorizantes que prenunciam uma tragédia violenta. Logo, crianças começam a desaparecer e apenas ela pode deter o responsável.

Direção: Robert Sigl

Elenco: Dóra Szinetár
Brigitte Karner
Károly Eperjes
Hédi Temessy
Barnabás Tóth







Download:

 
 

Comentário: É aquele terror-não-terror com crianças de sempre (onde acontecimentos brutais e complexos são ressignificados pela ótica da criança na sua suposta inocência). É eficiente na sua estrutura de slow-burn onírico: começa com crianças ceifadas, as visões de Laurin prenunciando futuras desgraças e a câmera sempre nos mostrando aquele prego exposto na escada do sótão... Para bom entendedor meia palavra basta e a trama aqui se torna óbvia - de morte em morte sabemos que a punição final se dará naquele prego, mas a graça são os sonhos que fazemos pelo caminho. À parte da sua atmosfera convincente, "Laurin" se sobressai pela intensidade melancólica do fatalismo da narrativa. Também é bem curto e tem padre se ferrando.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Os Sete Gatinhos - 1980

Sinopse: Noronha é funcionário público e patriarca de uma família de seis. Cidadão exemplar, ele complementa a renda doméstica prostituindo suas filhas, na esperança de dar uma vida luxuosa à caçula da família - por quem nutre intensas fantasias incestuosos. Uma crise se instala, porém, quando a jovem é expulsa de um internato por mutilar uma gatinha de rua e seus filhotes. Noronha passa a suspeitar que o objeto de seus desejos possa não ser mais virgem, e consequências violentas se avizinham quando alguém começa a desenhar pirocas com asas nas paredes do banheiro da casa.

Direção: Neville d'Almeida

Elenco: Lima Duarte
Antônio Fagundes
Ana Maria Magalhães
Ary Fontoura
Regina Casé
Luiz Fernando Guimarães

Download:

 
Opção 2 (link alternativo do mesmo release)


Comentário: Já recomendamos muitos filmes desprezíveis aqui no blog, como vocês bem sabem. Desde sanguinoleiras francesas, escrotices chinesas, várzeas italianas, putaria japonesa... pois não há nada de ruim que outros países não façam que nós, brasileiros, não possamos fazer pior. Baseado na peça de Nelson Rodrigues, "Os Sete Gatinhos" é possivelmente um dos filmes mais doentios, grotescos e desagradáveis já queimados em celuloide. 
     O asco se instaura quase que imediatamente no espectador, mas tal qual ao passar por um acidente de carro ou ocorrência policial, se torna impossível desviar os olhos a cada novo e inacreditável desdobramento da narrativa. Não é tanto pelo enredo, que é recorrente nas peças do Rodrigues e suas respectivas adaptações (inclusive recomendo entusiasticamente o "Bonitinha, Mas Ordinária" de 1981, que tem essa cena maravilhosa), mas pelo tom; a estrutura é disciplinada (mesmo que surtada e febril), enquanto todo o resto é tão frontalmente agressivo, ofensivo, subversivo - aliás eu raramente uso esse termo - e não apologético que a repugnância chega a se converter em admiração. Cada cena acrescenta uma nova dimensão de perversão, e a somatória caminha de forma lenta e segura para a aniquilação da família enquanto instituição. Sempre foi fácil retratar os burgueses como os monstros, mas aqui se desmascara o populacho mesmo, o horror que se esconde nos lares da classe trabalhadora, entre os filtros de barro e as inquebráveis duralex. Mesmo que o aspecto satírico seja escancarado (por trás de toda família vestindo camisa da seleção brasileira se escondem as mais abjetas das depravações), Neville conduz suas personagens de forma tão realista que tudo se torna imediatamente crível, até em seus momentos mais absurdos - isso em grande parte graças à interpretação do Lima Duarte, que é uma das mais hipnóticas e memoráveis do cinema nacional (apesar de né, a competição ser quase inexistente).
    Para o leitor que vorazmente consome enlatados - metafóricos e literais -, "Os Sete Gatinhos" é uma acolhedora refeição caseira, do jeito que só a mamãe sabe fazer.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

O Vidente Misterioso (Man on a Swing) - 1974


Sinopse: Detetive investiga assassinato brutal de uma jovem em cidadezinha do interior dos EUA. Sem nenhuma pista, ele é abordado por um suposto vidente que, disposto a ajudar, fornece informações de conhecimento exclusivo da polícia. O detetive então se torna obcecado em descobrir se ele obteve essas informações por ser o próprio assassino. Esse título brasileiro é pra fuder.

Direção: Frank Perry

Elenco: Cliff Robertson
Joel Grey
Dorothy Tristan
Elizabeth Wilson
George Voskovec





Download:




Comentário: Não chega a ser um slow burn porque é lento do começo ao fim, mas "Man on a Swing" é um horror psicológico de primeira e, ouso dizer aqui algo que jamais falei antes: é um daqueles que definitivamente serviu de inspiração pro Fincher. Isso porque o assassinato é o mero detalhe que conecta o detetive Tucker, talvez o mais estoico e contido da história do cinema, ao vidente (não digo "falso" vidente porque isso evidentemente implicaria na existência de um verdadeiro) Joel Grey, flamboyant e, err, misterioso da primeira à última cena. É do atrito dessas duas forças - o racionalismo cartesiano inflexível da lógica policial e a mediunidade vaga e inexplicável - que se ancora a narrativa, cujo final inquietante é de gelar a espinha justamente por sua ambiguidade dolorosa. "Man on a Swing" é um filme policial mínimo em seus elementos, conduzido de forma enigmática com toda aquela estética crua da Nova Hollywood, pequeno eficiente e até mesmo memorável.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Last Ghost Standing (Gwai Ching Lei Tai Hei) – 1999

Sinopse: Na véspera do Ano Novo de 2000, um cinema tem sua última sessão. Coisas estranhas ocorrem quando forças malignas ficam insatisfeitas com a qualidade dos filmes modernos.


Direção: Siu-Hung Chung


Elenco: Simon Lui, Sherming Yiu, Francis Ng, Pinky Cheung









Download


Link Direto (Legenda Exclusiva)


Comentário: O que sempre chamou a atenção e me tornou devoto do cinema de Hong Kong foram sua energia e criatividade. Não importa o gênero ou dinheiro envolvido, sempre haverá algo, seja numa mísera cena ou alguma mudança de tom brusca gigantesca... a certeza invariável é de iminentemente bater uma empolgação que supera qualquer filme realizado em qualquer outra parte do mundo. 
Obviamente que mesmo uma produção de baixo orçamento como essa, em uma locação com equipe pequena de amigos, iria fazer minha cabeça, porque simplesmente transborda de energia hongkonguiana da qual sou submisso, mesmo praticamente não possuindo um enredo e apostando num humor extremamente juvenil. O encantamento que esse proporciona é o de ser espancado incessantemente por tudo que é jogado na nossa cara a cada segundo. Para ter uma noção do que estamos lidando, digamos que a introdução transpira ares poéticos dignos de Wong Kar-Wai, e esse tom progressivamente vai ser distorcido a ponto de surgir um sósia do Jackie Chan caçador de fantasmas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A Ilha das Almas Selvagens (Island of Lost Souls) - 1932

Sinopse: Náufrago acaba em ilha habitada por monstruosidades, híbridos entre humanos e animais criados pelo maligno Dr. Moreau. Adaptação do clássico de H. G. Wells, mas bastante superior a este porque, ao contrário do romance, aqui tem uma gostosa.

Direção: Erle C. Kanton

Elenco: Charles Laughton
Richard Arlen
Leila Hyams
Bela Lugosi
Kathleen Burke







Download:
 
 


Comentário: Não consigo me imaginar como espectador na década de 1930, mas se naquela época o pessoal se cagou achando que o trem ia sair da tela no filme dos Lumiére, deve ter rolado desmaios e ataques cardíacos na sessões da "Ilha das Almas Selvagens" porque essa porra se mantém genuinamente aterrorizante até para os padrões modernos. Nada de sustos explícitos e essas merdas, mas o visual das criaturas (para os ignorantes que nunca leram a obra seminal do Welles, animais selvagens mutilados e condicionados violentamente até tornarem-se humanoides) choca pelo grotesco, somando-se também seus sons - cuidadosamente elaborados misturando, invertendo e distorcendo grunhidos de animais com dialetos nativos -, que resultam em uma sensação desconcertante.
    As situações e como é organizada a sociedade das aberrações são fiéis ao livro, com a bem-vinda exceção da Mulher-Leopardo. Você pode evidentemente imaginar que ela foi concebida enquanto apelação rasteira para atrair o público masculino, mas, intencionalmente ou não, sua presença adiciona uma nova dimensão às provocações originalmente propostas por Wells. Excluindo a frescuragem vitoriana, esse elemento voluptuoso (o plano do Moreau é fazer o protagonista transar com a dita cuja, com a intenção de provar ser capaz de criar um ser humano completo, ou seja, que sinta até tesão - pois é -, enquanto paralelamente induz o Homem Gorila a estuprar a mocinha com o mesmo intento) aproxima o debate sobre ética científica da sórdida realidade mundana, muito mais mesquinha que qualquer autor poderia supor. Não à toa, esse foi um dos primeiros filmes banidos e censurados mundo à fora, sendo vetada sua exibição nos cinemas suecos até hoje, por exemplo. Tamanha repercussão levou à elaboração do infame Código Hays, que moralizou o cinema norte-americano até a década de 1960.
    Além do elemento sexual, a obra também se eleva sobre a narrativa de Wells pela presença do Charles Laughton, cuja interpretação hipnótica enche os olhos, esbanjando carisma e alegria em ser um filho da puta - tornando-o facilmente um dos maiores vilões da história do horror. Ah, e tudo isso tem só 1h10min de duração.


PS: "A Ilha das Almas Selvagens" foi a primeira de dezenas de adaptações da "Ilha do Dr. Moreau" - e também a única boa - mas essa é mais uma oportunidade de recomendar o documentário "Lost Soul - The Doomed Journey of Richard Stanley's Island of Dr. Moreau", sobre um dos fracassos mais espetaculares e fascinantes dessa coisa que chamamos de arte.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Assassino Invisível (The Town That Dreaded Sundown) - 1976

Sinopse: Serial killer mascarado aterroriza pequena cidade no Arkansas na década de 1940. Ao longo de anos de investigações infrutíferas, o medo constante começa a ter efeitos na comunidade e nas suas instituições.

Direção: Charles B. Pierce

Elenco: Ben Johnson
Andrew Prine
Dawn Wells
Jimmy Clem
Jim Citty







Download:

 
 

Comentário: Um slasher geriátrico e esquecido, mas conceitualmente muito superior à maioria das obras que o sucederam. "The Town That Dreaded Sundown" (o título brasileiro é muito ruim tomar no cu) é uma produção de fundo de quintal - mesmo que bastante convincente na sua ambientação - que mirava o público dos drive-ins (aquela coisa, cenas de barbárie pontuais pulverizadas ao longo de blocos chatos de falatório pros casais terem tempo de darem uns amassos, prática que vocês leitores desconhecem) e, mesmo com tão poucas pretensões, foi capaz de influenciar toda uma vertente de filmes de psicopata. "Zodíaco" e "Memórias de um Assassino", por exemplo, definitivamente tiraram parte de sua inspiração daqui graças ao estilo documental ambicioso adotado por Pierce (que tem diversos mockumentaries no corpo da obra) e pelo tom frio, clínico e pessimista que permeia a narrativa.
    É muito moderno pois está mais interessado nos efeitos de um assassino que parece ser tão onipresente quanto sádico no psicológico da comunidade rural de Texarcana, do que propriamente nos seus atos. Nesse sentido também há um pouco aqui de "Onde os Fracos Não Tem Vez", porque o coração da narrativa se concentra nos esforços do Capitão Morales, um Texas Ranger bonachão saído direto do velho oeste, cujo pragmatismo é estilhaçado ao caçar uma novidade do futuro que se avizinha: o assassino que age aleatoriamente, não por vingança, paixão ou lucro - algo que definitivamente ecoa no Tommy Lee Jones do magnus opus dos Coen, paralisado ante a brutalidade que ele é incapaz de compreender. O final miserável (tanto aqui quanto na realidade que inspirou a trama, o assassino jamais foi pego) também era inesperado para a época. Apesar de todo o enfoque sociológico (chato), a violência em si, mesmo que esparsa, é nada menos que memorável. É daquelas carnificinas raras no estilo do "Massacre da Serra Elétrica", completamente seca, bruta e desesperadora. E tem espaço aí também para inovação: em uma cena particularmente grotesca o assassino ressignifica a função de um trombone, e não darei mais detalhes. 
    Nem tudo são flores, todavia. O ritmo é lerdo demais (tem encheção de linguiça mesmo durando 1h20), o elenco é muito pior do que se espera e o senso de humor é tão lamentável quanto (tem policial alívio cômico se disfarçando de mulher, sendo a piada aí a insinuação dele ser homossexual, algo sempre hilário), mas na lembrança o que "Town That Dreaded Sundown" tem de bom deixa uma marca maior do que seus defeitos.

    Teve uma continuação/remake de 2014 sobre a qual não sei opinar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

O Enigma do Mal (The Entity) - 1982

Sinopse: Mulher fica sendo estuprada por fantasma. Não é de tão mau gosto quanto soa. O texto no fim do filme diz ser baseado em fatos reais.

Direção: Sidney J. Furie

Elenco: Barbara Hershey
Ron Silver
David Labiosa
George Coe
Margaret Blye








Download:

 
 

Comentário: Ouvi dizerem esses dias (referente ao novo "Hellraiser", que é uma bosta), que se o "Alien" fosse feito hoje, seria pela mão de um diretor indie novato e a trama seria uma grande metáfora sobre "a Ripley superando o trauma do divórcio dos pais ou algo assim". "The Entity" (do diretor do "Super-Homem 4") é a pura antítese das tendências contemporâneas do horror, onde aparentemente qualquer filme sobre um cara com mascara esfaqueando gente tem que ser sobre empoderar alguém. Isso porquê, do vasto catálogo de clássicos oitentista, esse teria o enredo mais psicológico de todos (até pela suposta origem real dos fatos... mesmo que o filme abandone essa suposta pretensão com gosto no final): a mulher, vítima de uma criação abusiva vivendo o sufocante subúrbio americano, que começa a ser sexualmente atacada por uma "entidade".
    A narrativa se desenrola entre os ataques e sessões de terapia, onde um psicólogo tenta dar um contexto freudiano para essas manifestações. Ao contrário do que se esperaria, o suspense não provém da dúvida (ela está sofrendo de surtos psicóticos ou é mesmo algo sobrenatural?), pois o filme estabelece imediatamente que sim, o além aqui é real. Portanto, a angústia do espectador enverda por outro caminho, o de acompanhar a protagonista tentando provar à todo custo que não está louca. É até irônico, porque muitos frescos atacam esse filme - não sem alguma razão - por sua misoginia intrínseca, mas ela se manifesta menos na visceralidade dos abusos e mais no objeto da narrativa, muito mais interessada na figura do psicólogo tendo que confrontar seus paradigmas acadêmicos do que o sofrimento da vítima.
    Eventualmente os fenômenos se conciliam com a ciência no terceiro ato clássico dos parapsicólogos investigando a aparição, cuja abordagem aqui é superior à filmes semelhantes. Ao contrário do "Poltergeist" (que apesar de ter sido lançado no mesmo ano, tecnicamente é uma cópia desse aqui porque "A Entidade" teve seu lançamento adiado desde 1981), por exemplo, não há mediunidade envolvida. Pelo contrário: é tão científico que beira o sci-fi, chegando ao cúmulo de um clímax mirabolante onde cientistas tentam capturar o fantasma com nitrogênio líquido (spoiler: funciona mais ou menos).
    Pela trama e pelo estilo cinematográfico da década de 80, é fácil querer distância (ou, no caso dos nossos leitores, ser atraído) pelo aspecto sórdido e imundo que transpira daqui, mas "The Entity" surpreende por tratar o material com uma dramaticidade respeitosa, sem deixar de lado o horror físico. Não à toa, dizem que é um dos filmes de terror favoritos do Scorsese, e essa sobriedade é particularmente inesperada graças a declarações do próprio diretor, que dizia não acreditar em nada disso e que as pessoas na qual a história foi baseada eram todas umas "drugged-out wackos". 

E agora pensem vocês se isso daqui tivesse sido produzido na Itália...

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Terrifier - 2016

Sinopse: Palhaço mímico mata todo mundo.


Direção: Damien Leone


Elenco: Jenna Kanell, Samantha Scaffidi, David Howard Thornton







Download


>> Link Magnético


Legenda


(Se quiserem ver os curtas e o longa picareta que antecedeu o Terrifier, pega aí o LINK e a LEGENDA)


Comentário: Tá todo mundo falando de Terrifier 2 (gente desmaiando, aquela coisa toda). E quem sabia que existia um primeiro?... E sabe por quê? Porque o primeiro é qualquer coisa mesmo. Mas decidimos proporcionar essa ótima oportunidade aos digníssimos leitores de se apropriarem do complexo e coerentíssimo cânone desse grande personagem, o palhaço mímico. 

Bom, de qualquer forma dá pra dizer que saiu melhor que encomenda esse vilão, afinal, palhaço e mímico são das mais miseráveis e patéticas formas de arte que existem. Esse pelo menos elevou um pouco as duas categorias desenvolvendo as habilidades de matar todo mundo de forma grosseira e esfregar merda (?) pelas paredes de pizzarias. 

Falando sério, até que o personagem é espertinho, mas muito mais em virtude da degradação mental do criador, o tal de Damien Leone, filho do saudoso Sérgio Leone (brimks, não é não)

Pra começar: esse personagem surgiu nuns curtas do Leone aí: o primeiro, The 9th Circle, de 2008, é até bem decente, tem boas intenções e pretensões, ecos lá de Hellraiser (versão esgoto), mas o personagem em si é bem irrelevante nessa primeira empreitada. Aí lá em 2011 ele lançou o curta Terrifier, que é bem genérico, mas já apresenta uns traços sórdidos do personagem. 

Aí a partir daí acho que o Leone foi é ficando maluco mesmo. Lançou em 2013 um longa chamado All Hallow’s Eve. Só que saca a picaretagem: esse longa aborda duas crianças e uma babá encontrando um VHS na noite de halloween. Decidem obviamente assistir e adivinha: tem lá os dois curtas do Leone nesse found footage. Baita estratégia. Já que ninguém tinha feito questão de ver os curtas dele, ele lança um longa com os curtas no meio. Mas aí ninguém viu o longa também.

O detalhe é que o All Hallow's acaba com o palhaço decapitando as duas crianças, dando início a essa fase saudável dele.

Daí enfim ele lança o que agora deve ser uma franquia de vez, esse longa do Terrifier, em 2016. O negócio é chato. Lerdo demais mesmo. E o visual dos filmes dele incrivelmente só foi piorando conforme os recursos aumentam, realmente um mistério. Mas tem boas coisas sim, o sadismo da parada vai pra outro patamar, diverte mesmo. E o palhaço enfim se encontra como personagem, porque definitivamente parece refletir o estado mental do diretor: ultrapassa qualquer limite do bom senso e se diverte porque sabe que é imparável, como o próprio Leone, afinal, mesmo todo mundo se negando a ver os filmes dele, ele persistiu!

Tem uma cena em específico que é bem simbólica: depois de perseguir a suposta final girl por um bom tempo, o jogo vira pro palhaço (Art é o nome dele.....). Ela dá umas apunhaladas no Art que, aparentemente acanhado, fica de frente pra enfrentar a agora imponente final girl. Eis que do nada o Art puxa uma pistola e dá uns tirambaços nela. 

O que deu pra ver da famosa cena do Terrifier 2 que tão falando é que o Leone só chutou o balde mesmo, cedeu totalmente à perversão e entendeu tudo o que nós virjões gostamos né gente? Violência em profusão, para rirmos enquanto cruzamos nossos braços sobre nossas tetas masculinas. Mas o sorriso que estampamos (logo acima da barba por fazer que preenche nossa papada) é de superioridade, afinal, a gente já viu tanto filme violento.... pra nós isso não é nada!  E com orgulho, poderemos dizer: "Tem gente desmaiando? Pfff, eles precisam ver então (inserir nome de filme doentio que ninguém precisa ver)".


terça-feira, 11 de outubro de 2022

Olhos de Fogo (Eyes of Fire) - 1983

Sinopse: No início da colonização americana, reverendo pilantra é condenado à forca por poligamia em um pequeno assentamento. Ele consegue escapar com sua trupe e familiares, mas ao atingirem uma área remota na floresta começam a ser hostilizados por uma entidade demoníaca.

Direção: Avery Crounse
 
Elenco: Dennis Lipscomb
Guy Boyd
Rebecca Stanley
Sally Klein
Karlene Crockett

 
 
 
 
 
 
Download:
 
 
 
 
OU
 
 
Opções de link direto no blog dos nossos amigos, Space Monster, que é bem melhor que esse aqui e segue vivo e forte.
 
 
Obs: As legendas brasileiras funcionam exclusivamente para essa versão, oriundo do VHS americano e relançada aqui em DVD. Existe um corte final recentemente lançado em blue-ray (cuja qualidade não é lá muito melhor não) que difere ligeiramente dessa versão. As principais diferenças são duas: naquela, as meninas estão narrando os acontecimentos para um padre, e há novamente um subtexto de disputa espiritual, e no final, que ao invés da capenguice daqui do soldado aparecer possuído, termina com a jovem irlandesa se transformando em uma fada com fantasia da 25 de março. Fora isso, a essência se mantém idêntica.


Comentário: Misturando faroeste e folk horror, "Eyes of Fire" é uma daquelas raridades atmosféricas que conseguem criar todo um universo particular com o mínimo disponível. É muito excêntrico na sua narrativa, começando em algo que soa como "As Aventuras do Padre Comedor e sua Gangue", sendo expulso da cidade pelos chifrudos e escapando ileso de diversas trapalhadas por sua astúcia, para lentamente se transfigurar em um terror grotesco, que angustia tanto por sequências imagéticas que inspiram medo genuíno quanto pela lentidão que toma conta. É muito difícil elaborar melhor aqui o que torna essa obra única pelo fato de suas qualidades serem primordialmente sensoriais, mas basta dizer que, apesar de imperfeito, é um filme que certamente inspirou um legado, desde obviedades como "A Bruxa" (parte quase exatamente do mesmo pressuposto e da mesma ambientação; os personagens na fronteira da civilização onde sua fé é testada pelo desconhecido) até Lynch (o bichão do mato parece muito o mendigo surpresa do "Cidade dos Sonhos" e as criaturas se movem exatamente igual aos lenhadores do "Retorno").

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Hell House LLC - 2015

Sinopse: Uma documentarista investiga a misteriosa tragédia que ocorreu em um parque temático de halloween.


Direção: Stephen Cognetti


Elenco: Gore Abrams, Alice Bahlke, Danny Bellini







Download


1080p (1,4GB) >> Link direto 


Comentário O subgênero "filmagem encontrada", quando acertado, se torna aquela experiência imersiva que deveria sempre justificar o formato. Hell House LLC é desses, que consegue criar uma narrativa convincente para o uso dessa linguagem e emprega bem os elementos de horror com sustos bem orquestrados.

O filme explora diferentes aspectos do subgênero em três linhas temporais distintas: a clássica do falso documentário pós-evento, com equipe investigando; os responsáveis pela atração temática que documentam a criação do local e os vídeos upados na internet pelos visitantes do hotel no dia que deu zica. O resultado é uma rima visual que funciona por meio do complemento entre os formatos.

A maior sacada é utilizar uma atração temática de horror como centro da narrativa, brincando com a ideia de desorientar o espectador entre o que é "horror" real ou o que pertence ao espetáculo. É um dos filmes raros modernos que consegue ter personalidade suficiente para estabelecer uma mitologia própria interessante.