quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Assassino Invisível (The Town That Dreaded Sundown) - 1976

Sinopse: Serial killer mascarado aterroriza pequena cidade no Arkansas na década de 1940. Ao longo de anos de investigações infrutíferas, o medo constante começa a ter efeitos na comunidade e nas suas instituições.

Direção: Charles B. Pierce

Elenco: Ben Johnson
Andrew Prine
Dawn Wells
Jimmy Clem
Jim Citty







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Comentário: Um slasher geriátrico e esquecido, mas conceitualmente muito superior à maioria das obras que o sucederam. "The Town That Dreaded Sundown" (o título brasileiro é muito ruim tomar no cu) é uma produção de fundo de quintal - mesmo que bastante convincente na sua ambientação - que mirava o público dos drive-ins (aquela coisa, cenas de barbárie pontuais pulverizadas ao longo de blocos chatos de falatório pros casais terem tempo de darem uns amassos, prática que vocês leitores desconhecem) e, mesmo com tão poucas pretensões, foi capaz de influenciar toda uma vertente de filmes de psicopata. "Zodíaco" e "Memórias de um Assassino", por exemplo, definitivamente tiraram parte de sua inspiração daqui graças ao estilo documental ambicioso adotado por Pierce (que tem diversos mockumentaries no corpo da obra) e pelo tom frio, clínico e pessimista que permeia a narrativa.
    É muito moderno pois está mais interessado nos efeitos de um assassino que parece ser tão onipresente quanto sádico no psicológico da comunidade rural de Texarcana, do que propriamente nos seus atos. Nesse sentido também há um pouco aqui de "Onde os Fracos Não Tem Vez", porque o coração da narrativa se concentra nos esforços do Capitão Morales, um Texas Ranger bonachão saído direto do velho oeste, cujo pragmatismo é estilhaçado ao caçar uma novidade do futuro que se avizinha: o assassino que age aleatoriamente, não por vingança, paixão ou lucro - algo que definitivamente ecoa no Tommy Lee Jones do magnus opus dos Coen, paralisado ante a brutalidade que ele é incapaz de compreender. O final miserável (tanto aqui quanto na realidade que inspirou a trama, o assassino jamais foi pego) também era inesperado para a época. Apesar de todo o enfoque sociológico (chato), a violência em si, mesmo que esparsa, é nada menos que memorável. É daquelas carnificinas raras no estilo do "Massacre da Serra Elétrica", completamente seca, bruta e desesperadora. E tem espaço aí também para inovação: em uma cena particularmente grotesca o assassino ressignifica a função de um trombone, e não darei mais detalhes. 
    Nem tudo são flores, todavia. O ritmo é lerdo demais (tem encheção de linguiça mesmo durando 1h20), o elenco é muito pior do que se espera e o senso de humor é tão lamentável quanto (tem policial alívio cômico se disfarçando de mulher, sendo a piada aí a insinuação dele ser homossexual, algo sempre hilário), mas na lembrança o que "Town That Dreaded Sundown" tem de bom deixa uma marca maior do que seus defeitos.

    Teve uma continuação/remake de 2014 sobre a qual não sei opinar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

O Enigma do Mal (The Entity) - 1982

Sinopse: Mulher fica sendo estuprada por fantasma. Não é de tão mau gosto quanto soa. O texto no fim do filme diz ser baseado em fatos reais.

Direção: Sidney J. Furie

Elenco: Barbara Hershey
Ron Silver
David Labiosa
George Coe
Margaret Blye








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Comentário: Ouvi dizerem esses dias (referente ao novo "Hellraiser", que é uma bosta), que se o "Alien" fosse feito hoje, seria pela mão de um diretor indie novato e a trama seria uma grande metáfora sobre "a Ripley superando o trauma do divórcio dos pais ou algo assim". "The Entity" (do diretor do "Super-Homem 4") é a pura antítese das tendências contemporâneas do horror, onde aparentemente qualquer filme sobre um cara com mascara esfaqueando gente tem que ser sobre empoderar alguém. Isso porquê, do vasto catálogo de clássicos oitentista, esse teria o enredo mais psicológico de todos (até pela suposta origem real dos fatos... mesmo que o filme abandone essa suposta pretensão com gosto no final): a mulher, vítima de uma criação abusiva vivendo o sufocante subúrbio americano, que começa a ser sexualmente atacada por uma "entidade".
    A narrativa se desenrola entre os ataques e sessões de terapia, onde um psicólogo tenta dar um contexto freudiano para essas manifestações. Ao contrário do que se esperaria, o suspense não provém da dúvida (ela está sofrendo de surtos psicóticos ou é mesmo algo sobrenatural?), pois o filme estabelece imediatamente que sim, o além aqui é real. Portanto, a angústia do espectador enverda por outro caminho, o de acompanhar a protagonista tentando provar à todo custo que não está louca. É até irônico, porque muitos frescos atacam esse filme - não sem alguma razão - por sua misoginia intrínseca, mas ela se manifesta menos na visceralidade dos abusos e mais no objeto da narrativa, muito mais interessada na figura do psicólogo tendo que confrontar seus paradigmas acadêmicos do que o sofrimento da vítima.
    Eventualmente os fenômenos se conciliam com a ciência no terceiro ato clássico dos parapsicólogos investigando a aparição, cuja abordagem aqui é superior à filmes semelhantes. Ao contrário do "Poltergeist" (que apesar de ter sido lançado no mesmo ano, tecnicamente é uma cópia desse aqui porque "A Entidade" teve seu lançamento adiado desde 1981), por exemplo, não há mediunidade envolvida. Pelo contrário: é tão científico que beira o sci-fi, chegando ao cúmulo de um clímax mirabolante onde cientistas tentam capturar o fantasma com nitrogênio líquido (spoiler: funciona mais ou menos).
    Pela trama e pelo estilo cinematográfico da década de 80, é fácil querer distância (ou, no caso dos nossos leitores, ser atraído) pelo aspecto sórdido e imundo que transpira daqui, mas "The Entity" surpreende por tratar o material com uma dramaticidade respeitosa, sem deixar de lado o horror físico. Não à toa, dizem que é um dos filmes de terror favoritos do Scorsese, e essa sobriedade é particularmente inesperada graças a declarações do próprio diretor, que dizia não acreditar em nada disso e que as pessoas na qual a história foi baseada eram todas umas "drugged-out wackos". 

E agora pensem vocês se isso daqui tivesse sido produzido na Itália...

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Terrifier - 2016

Sinopse: Palhaço mímico mata todo mundo.


Direção: Damien Leone


Elenco: Jenna Kanell, Samantha Scaffidi, David Howard Thornton







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>> Link Magnético


Legenda


(Se quiserem ver os curtas e o longa picareta que antecedeu o Terrifier, pega aí o LINK e a LEGENDA)


Comentário: Tá todo mundo falando de Terrifier 2 (gente desmaiando, aquela coisa toda). E quem sabia que existia um primeiro?... E sabe por quê? Porque o primeiro é qualquer coisa mesmo. Mas decidimos proporcionar essa ótima oportunidade aos digníssimos leitores de se apropriarem do complexo e coerentíssimo cânone desse grande personagem, o palhaço mímico. 

Bom, de qualquer forma dá pra dizer que saiu melhor que encomenda esse vilão, afinal, palhaço e mímico são das mais miseráveis e patéticas formas de arte que existem. Esse pelo menos elevou um pouco as duas categorias desenvolvendo as habilidades de matar todo mundo de forma grosseira e esfregar merda (?) pelas paredes de pizzarias. 

Falando sério, até que o personagem é espertinho, mas muito mais em virtude da degradação mental do criador, o tal de Damien Leone, filho do saudoso Sérgio Leone (brimks, não é não)

Pra começar: esse personagem surgiu nuns curtas do Leone aí: o primeiro, The 9th Circle, de 2008, é até bem decente, tem boas intenções e pretensões, ecos lá de Hellraiser (versão esgoto), mas o personagem em si é bem irrelevante nessa primeira empreitada. Aí lá em 2011 ele lançou o curta Terrifier, que é bem genérico, mas já apresenta uns traços sórdidos do personagem. 

Aí a partir daí acho que o Leone foi é ficando maluco mesmo. Lançou em 2013 um longa chamado All Hallow’s Eve. Só que saca a picaretagem: esse longa aborda duas crianças e uma babá encontrando um VHS na noite de halloween. Decidem obviamente assistir e adivinha: tem lá os dois curtas do Leone nesse found footage. Baita estratégia. Já que ninguém tinha feito questão de ver os curtas dele, ele lança um longa com os curtas no meio. Mas aí ninguém viu o longa também.

O detalhe é que o All Hallow's acaba com o palhaço decapitando as duas crianças, dando início a essa fase saudável dele.

Daí enfim ele lança o que agora deve ser uma franquia de vez, esse longa do Terrifier, em 2016. O negócio é chato. Lerdo demais mesmo. E o visual dos filmes dele incrivelmente só foi piorando conforme os recursos aumentam, realmente um mistério. Mas tem boas coisas sim, o sadismo da parada vai pra outro patamar, diverte mesmo. E o palhaço enfim se encontra como personagem, porque definitivamente parece refletir o estado mental do diretor: ultrapassa qualquer limite do bom senso e se diverte porque sabe que é imparável, como o próprio Leone, afinal, mesmo todo mundo se negando a ver os filmes dele, ele persistiu!

Tem uma cena em específico que é bem simbólica: depois de perseguir a suposta final girl por um bom tempo, o jogo vira pro palhaço (Art é o nome dele.....). Ela dá umas apunhaladas no Art que, aparentemente acanhado, fica de frente pra enfrentar a agora imponente final girl. Eis que do nada o Art puxa uma pistola e dá uns tirambaços nela. 

O que deu pra ver da famosa cena do Terrifier 2 que tão falando é que o Leone só chutou o balde mesmo, cedeu totalmente à perversão e entendeu tudo o que nós virjões gostamos né gente? Violência em profusão, para rirmos enquanto cruzamos nossos braços sobre nossas tetas masculinas. Mas o sorriso que estampamos (logo acima da barba por fazer que preenche nossa papada) é de superioridade, afinal, a gente já viu tanto filme violento.... pra nós isso não é nada!  E com orgulho, poderemos dizer: "Tem gente desmaiando? Pfff, eles precisam ver então (inserir nome de filme doentio que ninguém precisa ver)".


terça-feira, 11 de outubro de 2022

Olhos de Fogo (Eyes of Fire) - 1983

Sinopse: No início da colonização americana, reverendo pilantra é condenado à forca por poligamia em um pequeno assentamento. Ele consegue escapar com sua trupe e familiares, mas ao atingirem uma área remota na floresta começam a ser hostilizados por uma entidade demoníaca.

Direção: Avery Crounse
 
Elenco: Dennis Lipscomb
Guy Boyd
Rebecca Stanley
Sally Klein
Karlene Crockett

 
 
 
 
 
 
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OU
 
 
Opções de link direto no blog dos nossos amigos, Space Monster, que é bem melhor que esse aqui e segue vivo e forte.
 
 
Obs: As legendas brasileiras funcionam exclusivamente para essa versão, oriundo do VHS americano e relançada aqui em DVD. Existe um corte final recentemente lançado em blue-ray (cuja qualidade não é lá muito melhor não) que difere ligeiramente dessa versão. As principais diferenças são duas: naquela, as meninas estão narrando os acontecimentos para um padre, e há novamente um subtexto de disputa espiritual, e no final, que ao invés da capenguice daqui do soldado aparecer possuído, termina com a jovem irlandesa se transformando em uma fada com fantasia da 25 de março. Fora isso, a essência se mantém idêntica.


Comentário: Misturando faroeste e folk horror, "Eyes of Fire" é uma daquelas raridades atmosféricas que conseguem criar todo um universo particular com o mínimo disponível. É muito excêntrico na sua narrativa, começando em algo que soa como "As Aventuras do Padre Comedor e sua Gangue", sendo expulso da cidade pelos chifrudos e escapando ileso de diversas trapalhadas por sua astúcia, para lentamente se transfigurar em um terror grotesco, que angustia tanto por sequências imagéticas que inspiram medo genuíno quanto pela lentidão que toma conta. É muito difícil elaborar melhor aqui o que torna essa obra única pelo fato de suas qualidades serem primordialmente sensoriais, mas basta dizer que, apesar de imperfeito, é um filme que certamente inspirou um legado, desde obviedades como "A Bruxa" (parte quase exatamente do mesmo pressuposto e da mesma ambientação; os personagens na fronteira da civilização onde sua fé é testada pelo desconhecido) até Lynch (o bichão do mato parece muito o mendigo surpresa do "Cidade dos Sonhos" e as criaturas se movem exatamente igual aos lenhadores do "Retorno").

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Hell House LLC - 2015

Sinopse: Uma documentarista investiga a misteriosa tragédia que ocorreu em um parque temático de halloween.


Direção: Stephen Cognetti


Elenco: Gore Abrams, Alice Bahlke, Danny Bellini







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1080p (1,4GB) >> Link direto 


Comentário O subgênero "filmagem encontrada", quando acertado, se torna aquela experiência imersiva que deveria sempre justificar o formato. Hell House LLC é desses, que consegue criar uma narrativa convincente para o uso dessa linguagem e emprega bem os elementos de horror com sustos bem orquestrados.

O filme explora diferentes aspectos do subgênero em três linhas temporais distintas: a clássica do falso documentário pós-evento, com equipe investigando; os responsáveis pela atração temática que documentam a criação do local e os vídeos upados na internet pelos visitantes do hotel no dia que deu zica. O resultado é uma rima visual que funciona por meio do complemento entre os formatos.

A maior sacada é utilizar uma atração temática de horror como centro da narrativa, brincando com a ideia de desorientar o espectador entre o que é "horror" real ou o que pertence ao espetáculo. É um dos filmes raros modernos que consegue ter personalidade suficiente para estabelecer uma mitologia própria interessante.