segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Ghosts... of the Civil Dead - 1988

Sinopse: Episódios que levaram a um massacre em uma penitenciária privada de alta tecnologia na Austrália são reconstituídos por meio de dramatizações e entrevistas em áudio com os detentos que os testemunharam.

 
Direção: John Hillcoat

Elenco: David Field
Mike Bishop
Chris DeRose
Kevin Mackey    
Nick Cave

 

 

 

Download:
 
 
Comentário: 
 
    "Abandonai toda esperança, vós que entrais: este é o Inferno". Apesar de suas bases factuais e objetivas, "Ghosts..." é talvez a melhor representação da clássica inscrição às portas do submundo descrita por Dante. O debut de John Hillcoat (coescrito por ninguém menos que Nick Cave, baseado em parte em suas próprias experiências como detento), é um retrato avassalador e ousado - tantos em termos formais quanto na abordagem material - da vida atrás das grades É uma grande colagem vinda de várias fontes diferentes que criam uma atmosfera de pesadelo, um fluxo de consciência não dos prisioneiros ou guardas, mas da própria cadeia. Dela em particular se destaca, também, a ambientação: concebida pela iniciativa privada para isolar os indivíduos mais asquerosos da Austrália, a Central Industrial Prison é um amálgama de todas instituições dessa natureza do país, cuja segurança máxima chega às raias da ficção-científica (ou, ao menos, do que o futuro se pareceria na perspectiva da década de 80).
    Em sua duração surpreendentemente diminuta, disfere um soco atrás do outro sobre a capacidade de opressão não só do Estado mas também das corporações. É bárbaro, violento, chocante, brutal - quase um body horror no que tange os efeitos da privação de liberdade no próprio corpo do apenado, relegado a ser um depósito de narcóticos para uns, fonte de prazer involuntário para outros, seja sexual ou no descarrego dos mais abomináveis impulsos violentos, em tal potência que nem o reaça otário tem estômago para aguentar. Tudo isso, apesar de certo senso de humor inerente, sem jamais descambar para o exploitation; é ao final uma reflexão bastante urgente sobre o porquê dos sistemas carcerários mundo afora sempre projetados dessa forma, que degrada, destrói, corrompe e jamais recupera.
    Também é, acima de tudo, a crítica mais perspicaz à lógica privatista liberal dos anos oitenta depois do "Robocop".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

comente naquela caixinha do lado, é mais legal.