quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A Lenda de Boggy Creek (The Legend of Boggy Creek) - 1972

Sinopse: No formato "mockumentary", expõe relatos de experiências traumáticas vividas por moradores dos arredores de Fouke, no Arkansas, que desde meados da década de 1950 são assombrados por criatura.


Direção: Charles B. Pierce


Stars: Willie E. Smith, John P. Hixon, Vern Stierman 





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Comentário: Infelizmente o falecido diretor não pôde apreciar o estupendo resultado da restauração do seu próprio filme e que certamente superaria qualquer pretensão que ele mesmo teve quando o concebeu em todo vigor estético que seu miserável orçamento de U$ 100 mil possibilitou na época. E aí que tá mais um privilégio de vivermos nessa maravilhosa era dos computer, que além de nos permitir ter acesso irrestrito para revisitar  esse vídeotambém garante que filmes medíocres e insignificantes para o cinema mundial conquistem um privilégio desproporcional de ter sua estética totalmente restaurada e continuem a ser consumidos por otários quase 50 anos depois.

Ok, obviamente estou sendo injusto, porque esse blog JAMAIS postaria um filme ruim. O que prejudica The Legend of Boggy Creek é justamente, entretanto, suas limitações orçamentárias e a direção sem qualquer traquejo para o terror ou suspense, que tornam momentos de tensão sonolentos e as aparições esporádicas do monstro quase que uma sketch do João Kleber envolvendo sustos e pessoas fantasiadas de gorila. 

Contudo, há um charme genuíno que ressarce as capenguices técnicas. Começa pela já mencionada estética que dá a textura merecida à ambientação do Arkansas e suas similaridades geográficas com o Mississippi (que fica ali nos arredores) e isso remete a todo imaginário culturalmente estabelecido e vinculado a campos inóspitos e pântanos sugestivamente assustadores daquela região. Mas os elementos que realmente credenciam o filme a um status cult — mas de um nicho bem específico, eu diria voltado especialmente para um público de tetudos cabeludos com rabo de cavalo — é a aura folclórica que as atuações autênticas dos capiais (que seriam moradores da região que de fato alegam ter vivenciado o que relatam) e a narração elegante e rebuscada de Vern Stierman. É como se o locutor, que diz ter crescido nas redondezas, de fato o tivesse e quando adulto deixado a cidade, adquirido a oratória necessária para voltar e tornar narrativa a lenda da tal criatura que assombra por décadas os seus conterrâneos. E são os poucos os filmes que conseguem de fato convencer em propostas como essa, como é o caso deste. Porém, mesmo esse mérito acaba sendo meio que um auto-boicote, pois a insistência do filme em dar sustentação à lenda por meio dos relatos acaba se tornando um recurso repetitivo e já lá pelo sexto testemunho você se sente ouvindo a prima da sua avó contando a mesma história, mas sem um clímax satisfatório. 

No fim, o balanço pende bem mais para o positivo e de qualquer forma vale pela sua importância, porque além de explorar uma então rara linguagem de falso documentário, serviu de inspiração para outros filmes utilizarem o famoso "As cenas a seguir são registros reais, etc., etc.", apropriado, por exemplo, em o Massacre da Serra Elétrica dois anos depois. 

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