segunda-feira, 15 de abril de 2024

O Último Mundo dos Canibais (Ultimo Mondo Cannibale) - 1977

Sinopse: Grupo de garimpeiros (tipo os bolsonaristas) é emboscado por uma tribo de canibais nas Filipinas. O resto já dá pra imaginar.

Direção: Ruggero Deodato

Elenco: Massimo Foschi
Me Me Lai
Ivan Rassimov
Sheik Razak Shikur










Download:



Comentário: Você leitor do blog, que tem certa idade, que agora passa os dias observando os cabelo caírem e as crianças brincando no parque - seja para refletir sobre as escolhas que levaram à sua própria solidão e fracasso, seja por que pintou um clima tipo o Bolsonaro - volta e meia deve lembrar nostálgico de quando a internet começou a engatilhar no Brasil, naqueles tempos em que a vida era mais calma e os dias repletos de DESCOBERTAS, de POSSIBILIDADES. Excitados pelo universo que a banda larga e o Orkut abriram, muitos de nós viravam dias colados no computador (como era bom ter a internet em um lugar fixo, como um mundo paralelo, e não essa distopia grotesca), pesquisando em fóruns e blogs (esse próprio começou em 2010) tudo aquilo que as videolocadoras de bairro nunca puderam nos oferecer. Essa segmentação permitiu termos na intimidade do lar aquela mesma sensação de pegar uma cópia do "Faces da Morte" nas mãos, aquele misto de repulsa, constrangimento, medo, uma curiosidade incontornável por algo que parecia proibido.
    Foram nesses anos que muitos de nós assistiram notórias obras obscuras ou banidas do horror, e nada mais natural que a normalização desse acesso tenha nos dessensibilizado de apreciar parte do gênero. "O Último Mundo dos Canibais", da trilogia do Deodato composta por "Holocausto Canibal" e "Inferno ao Vivo" (esse é ruim), chama a atenção porque consegue, de alguma forma, resgatar esse senso de exotismo de outrora. O naturalismo claustrofóbico e incomum de suas locações, o elenco "desconhecido" (incluindo indígenas que parecem efetivamente explorados pelos produtores brancos), a violência hiper realista, a qualidade duvidosa do restauro da imagem e a semelhança com seu sucessor mais famoso 
    É mais tradicional que o "Holocausto" em termos formais, um clássico filme de sobrevivência, que surpreende pela sobriedade. Direto, sem firula, brutal, "Último Mundo" não decepciona de forma alguma no gore, e é curioso por ainda tentar ser uma ponte entre o público civil e nós, degenerados. Se trata da sexualidade e antropologia de forma ligeiramente mais contida, isso definitivamente não se aplica à questão da violência contra animais, que se aqui é reduzido em número, compensa pelo sadismo (fica aqui, falando a sério, o alerta para um momento específico envolvendo um crocodilo que dá vontade de desligar a tv). A ameaça inerente do estupro, a trilha sonora bizonha e sonoplastia incrível (no sentido de efetivamente não ser crível) dão o toque de italianagem final. 
    Esse é para os eternos saudosistas do horror; esse último mundo canibal é também o nosso último refúgio.

2 comentários:

  1. boa noite meu caro!!! muito me espanta você uma pessoa que faz um texto tão bem redigido e inteligente sobre filmes, perder tempo incluindo na sinopse dele um comentário politico !!
    Não faz jus!!!

    ResponderExcluir

comente naquela caixinha do lado, é mais legal.