quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A Ilha das Almas Selvagens (Island of Lost Souls) - 1932

Sinopse: Náufrago acaba em ilha habitada por monstruosidades, híbridos entre humanos e animais criados pelo maligno Dr. Moreau. Adaptação do clássico de H. G. Wells, mas bastante superior a este porque, ao contrário do romance, aqui tem uma gostosa.

Direção: Erle C. Kanton

Elenco: Charles Laughton
Richard Arlen
Leila Hyams
Bela Lugosi
Kathleen Burke







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Comentário: Não consigo me imaginar como espectador na década de 1930, mas se naquela época o pessoal se cagou achando que o trem ia sair da tela no filme dos Lumiére, deve ter rolado desmaios e ataques cardíacos na sessões da "Ilha das Almas Selvagens" porque essa porra se mantém genuinamente aterrorizante até para os padrões modernos. Nada de sustos explícitos e essas merdas, mas o visual das criaturas (para os ignorantes que nunca leram a obra seminal do Welles, animais selvagens mutilados e condicionados violentamente até tornarem-se humanoides) choca pelo grotesco, somando-se também seus sons - cuidadosamente elaborados misturando, invertendo e distorcendo grunhidos de animais com dialetos nativos -, que resultam em uma sensação desconcertante.
    As situações e como é organizada a sociedade das aberrações são fiéis ao livro, com a bem-vinda exceção da Mulher-Leopardo. Você pode evidentemente imaginar que ela foi concebida enquanto apelação rasteira para atrair o público masculino, mas, intencionalmente ou não, sua presença adiciona uma nova dimensão às provocações originalmente propostas por Wells. Excluindo a frescuragem vitoriana, esse elemento voluptuoso (o plano do Moreau é fazer o protagonista transar com a dita cuja, com a intenção de provar ser capaz de criar um ser humano completo, ou seja, que sinta até tesão - pois é -, enquanto paralelamente induz o Homem Gorila a estuprar a mocinha com o mesmo intento) aproxima o debate sobre ética científica da sórdida realidade mundana, muito mais mesquinha que qualquer autor poderia supor. Não à toa, esse foi um dos primeiros filmes banidos e censurados mundo à fora, sendo vetada sua exibição nos cinemas suecos até hoje, por exemplo. Tamanha repercussão levou à elaboração do infame Código Hays, que moralizou o cinema norte-americano até a década de 1960.
    Além do elemento sexual, a obra também se eleva sobre a narrativa de Wells pela presença do Charles Laughton, cuja interpretação hipnótica enche os olhos, esbanjando carisma e alegria em ser um filho da puta - tornando-o facilmente um dos maiores vilões da história do horror. Ah, e tudo isso tem só 1h10min de duração.


PS: "A Ilha das Almas Selvagens" foi a primeira de dezenas de adaptações da "Ilha do Dr. Moreau" - e também a única boa - mas essa é mais uma oportunidade de recomendar o documentário "Lost Soul - The Doomed Journey of Richard Stanley's Island of Dr. Moreau", sobre um dos fracassos mais espetaculares e fascinantes dessa coisa que chamamos de arte.

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