Sinopse: Como parte de um experimento, psiquiatra leva quatro voluntários para assistir a um filme do personagem Zé do Caixão e após isso os droga com LSD para estudar os efeitos do personagem em seus subconscientes. Os delírios dos voluntários, porém, começam a fugir do controle.
Direção: José Mojica Marins
Elenco: José Mojica Marins
Mário Lima
Carlos Reichenbach
Andreia Bryan
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Comentário:
“O Ritual dos Sádicos” é um experimento bizarro
e difícil de ser classificar. O último grande filme de José Mojica Marins é
um estudo metalinguístico ousado que, se tivesse sido feito, por exemplo, na Europa, seria uma referência até hoje. Mas
foi azar de Mojica ter nascido brasileiro, e nunca saberemos exatamente o impacto que a obra poderia ter tido na nossa formação cultural:
apesar de problemas constantes com a censura, o Ritual foi nada menos que o primeiro filme (e um dos únicos) a ter o lançamento sumariamente proibido pela ditadura militar, vindo a público apenas durante a abertura no início
da década de 1980 (com o título de "O Despertar da Besta"). Não foi para
menos. Apesar da sinopse oficial ali em cima, os primeiros 40 minutos do filme
são pequenas esquetes sobre uso de entorpecentes, perversões sexuais (estupro, estupro coletivo,
cropofilia, pedofilia, prostituição) e relações de poder. Aliás, a relação de poder é cripticamente o tema central da obra; diz Mojica ter
concebido o argumento do filme após ver um grupo de policiais espancando
brutalmente uma mulher grávida no meio da rua.
Já o aspecto meta vem em outra direção. Os espectadores dopados de ácido, após verem os filmes pregressos de Mojica, explodem em comportamentos violentos e erráticos, como se a figura do Zé do Caixão despertasse os piores instintos da plateia. No plot twist, descobrimos que o ácido na verdade era um placebo. O cinema de horror é agente ativo na corrupção da juventude como sempre alegaram os pudicos, ou sua função é justamente servir de válvula de escape para todos os nossos desejos reprimidos?
Seja como for, o veto ao filme arruinou a vida de Mojica, que faliu por ter dinheiro do próprio
bolso investido na produção. Daqui para frente, ele seria obrigado a dirigir filmes pornográficos,
área em que também se sobressaiu ao realizar o primeiro filme de zoofilia do
Brasil, “24 Horas de Sexo Explícito”.
Mojica ainda voltaria a usar o personagem de Zé do Caixão em mais dois filmes
com essa pegada metalinguística, o ótimo “Exorcismo Negro” e o fraquíssimo “Delírios de Um Anormal”, onde
a decadência e a exaustão já são visíveis. “O Ritual dos Sádicos” é o filme que
quebrou o espírito de Mojica e cabe a nós, jovens cinéfilos, fazer justiça,
apreciando as obras de um cineasta que foi vencido pelo seu tempo.
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